'Você assume um risco quando diz o que pensa', diz Rodriguinho, do Corinthians
O jogador se revelou frustrado por não ter sido convocado pelo técnico Tite para seleção
O jogador se revelou frustrado por não ter sido convocado pelo técnico Tite para seleção
São Paulo, SP, 16 – Rodriguinho tem sido um dos destaques do Corinthians em campo e mostra também que é um atleta diferente fora dele. Sem fugir das polêmicas, o meia conversou com o Estado e disse que gosta de sair, beber e não se abate com as críticas. Demonstra preocupação social, pensa em ser político e afirma que o Partido dos Trabalhadores (PT) manchou sua imagem com escândalos.
Esperava ser chamado para os últimos amistosos da seleção?
Assisti à convocação e fiquei esperançoso, mas não foi dessa vez. Agora é continuar trabalhando para quem sabe ser lembrado na próxima.
O jogo com o Palmeiras esse ano foi o melhor da sua carreira?
Em termos de importância, a final contra a Ponte Preta eu acho que foi mais, mas, por se tratar de clássico, gera uma proporção maior e teve ainda o lance com o Felipe Melo (jogou a bola por baixo das pernas do palmeirense), que virou motivo de brincadeira.
O que mais te atrai: jogar na Europa ou na seleção?
Seleção. Na verdade são dois sonhos. Jogar na Europa, onde estão os melhores do mundo, e defender a seleção brasileira e representar o País é um sonho de criança. O Brasil é referência no mundo e voltar para a seleção não tem preço e dimensão.
Romero reclamou de xenofobia. O futebol é preconceituoso?
Muito. São tabus que existem no futebol, principalmente com gays. Estava vendo a entrevista de um torcedor do Palmeiras que postou um vídeo nas redes sociais reclamando de preconceito e estava todo mundo xingando-o. São tabus que precisam ser debatidos não só no futebol. A sociedade é preconceituosa.
O que os atletas podem fazer?
Temos de falar sobre isso. Somos formadores de opinião e precisamos apoiar a causa. A sociedade, como um todo, precisa evoluir bastante, porque você é muito apedrejado quando toma partido e dá uma opinião. Temos de melhorar também como seres humanos para atingir as pessoas.
Tem ideia do que pretende fazer quando aposentar?
Não faltam ideias (risos). Penso em trabalhar no futebol, tem muita coisa que eu acho que posso fazer como diretor, principalmente pelo esporte potiguar, que eu vejo que é meio amador ainda. Até ser político eu penso, acredita?
O que você poderia fazer?
Creio que posso ajudar as pessoas, gosto disso. Por exemplo, tem um projeto social que tento ajudar, que é bem legal. É de um cara que não tem muita coisa financeiramente, mas a família é toda envolvida no projeto e ajuda umas 300 crianças a sair das ruas e jogar futebol. É uma coisa que me enche os olhos e me emociona em poder ajudar. Eu poderia fazer coisas boas para as pessoas, mas é só uma ideia, nem fui atrás de partido nem nada.
Você é de direita ou esquerda?
Bom, vai ter assunto aí, hein? Olha, o PT fez muita coisa boa para as classes menos favorecidas, mas depois estourou escândalos que mancharam a imagem do partido e tudo que fizeram foi apagado. Ficou um rombo grande no País e é difícil ser a favor disso. Acho que eu poderia fazer melhor.
Você admite que gosta de balada e de beber, algo que vários jogadores fazem, mas poucos assumem. Qual o motivo?
Você assume um risco grande quando fala o que pensa, o que gosta. Eu gosto de sair e beber com a minha namorada e amigos, uma vida normal de qualquer ser humano, mas, quando as coisas não estão bem, usam isso para me atacar. Por isso que muita gente se esconde, para evitar dor de cabeça.
O que tem de pior e melhor na vida de jogador de futebol?
Pior é a falta de privacidade. Futebol envolve muita paixão e as pessoas acham que você não pode ter vida. Termina um jogo, você fez o seu máximo, aí quer sair para jantar com a sua esposa, é capaz de um torcedor querer te abordar e te cobrar o motivo de você estar ali. Não faz sentido para mim. Eu já fiz o meu trabalho, querem que eu fique em casa? A melhor parte é ser reconhecido pelo trabalho. Tanta gente sonha ser jogador e trabalhar com o que gosta. Ganhar a vida com o que você mais ama é a melhor parte.
Você não é de usar redes sociais. É pela privacidade?
Tenho, mas é só para alguns amigos. Eu tinha Instagram aberto e o momento não estava bom. Então tinha muito xingamento, ameaças, aí resolvi fazer outro para ter mais tranquilidade. Quando você escuta muito uma coisa, aquilo acaba te afetando.
Qual foi a maior dificuldade na sua carreira?
Quando cheguei no Bragantino, tinha vindo de Natal e iria ganhar um salário bem maior, mas iria pagar todas as minhas contas, pois não moraria mais com a minha mãe. Já estava me achando rico, só que não contava que nos três primeiros meses eu não fosse receber um tostão. Foi uma fase bem complicada, não tinha nada em casa. Mas sobrevivi.