Tragédia do Sarriá: 40 anos da derrota do Brasil de Telê Santana diante da Itália
Passadas quatro décadas, nem o estádio, o Sarriá, que deu nome ao estrago, existe mais
São Paulo, SO, 05 – Dia 5 de julho de 1982. Uma das mais dolorosas derrotas da história seleção brasileira, aquele 3 a 2 diante da Itália, na Copa do Mundo da Espanha, que foi batizado de “Tragédia do Sarriá”, completa 40 anos. Passadas quatro décadas, nem o estádio, o Sarriá, que deu nome ao estrago, existe mais. O algoz italiano, Paolo Rossi, também não está mais vivo. A memória fatídica daquele dia, porém, continua viva para muitos brasileiros. Como o Brasil perdeu aquela Copa, ainda se questionam muitos brasileiros.
A seleção comandada por Telê Santana tinha grande apelo junto à torcida e uma expectativa altíssima sob o time formado por jogadores como Zico, Sócrates, Júnior e Falcão. Contudo, na Copa do Mundo da Espanha, o Brasil foi eliminado na segunda fase de grupos, que hoje equivaleria às quartas de final. Havia menos seleções do que as 32 atuais.
Um fato que tornou a derrota ainda mais dolorosa foi a seleção brasileira precisar apenas de um empate para avançar e buscar o tão almejado tetracampeonato, que só viria em 1994, nos Estados Unidos. Foi necessário esperar mais doze anos para o fim do jejum que começou após a conquista de 1970, com o time liderado por Pelé. Antes do 7 a 1 de 2014, esse era o momento mais marcante do ponto de vista negativo na história do Brasil, ao lado da derrota na final da Copa do Mundo de 1950, disputada no País.
Dos jogadores que protagonizaram o confronto épico de 1982, alguns já não estão mais vivos. O carrasco do Brasil e ídolo da Azzurra, Paolo Rossi, autor dos três gols italianos da partida, morreu em dezembro de 2020, aos 64 anos, vítima de um câncer de pulmão. O estádio de Sarriá, em Barcelona, que recebeu 44 mil pessoas para aquela partida, também ficou na história. Foi demolido em 1997.
Em entrevista em 2017, o ex-camisa 10 da seleção do Brasil e ídolo do Flamengo, Zico, conta que, mesmo com o trauma de Sarriá, os fãs de futebol deixam em segundo plano a tragédia, o resultado, e levam mais em consideração a conjuntura daquele time, que era repleto de estrelas.
“O pessoal pede para assinar fotos e envia cartas de tudo quanto é lugar, eu tive a oportunidade de ir a diversos lugares do mundo e todos falam e querem saber da seleção de 1982. Essa seleção marcou muito. É lógico que, se tivesse vencido a Copa, seria melhor, mas a derrota faz parte do jogo. Realmente, foi uma seleção de grande técnica, de grandes jogadores e que jogava um grande futebol”, pontuou Zico, um dos personagens do livro “82, uma Copa para sempre”, da dupla Celso Unzelte e Gustavo de Carvalho.
Apesar do crédito que Zico e outras lendas do futebol têm, existem especialistas que alegam que a seleção italiana, em 1982, mesmo com o futebol mais defensivo, jogou mais do que o Brasil na competição. No contraponto, a maioria alega que aquilo foi mesmo uma “tragédia”. Um ponto fora da curva. Ressaltando o argumento de que o futebol é imprevisível.
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O torcedor de longa data consultado pela reportagem, com mais de 50 anos de arquibancada, Paulo Tarnapolski, assim como milhões de outros brasileiros, estava confiante com o momento da seleção. “Naquela altura, eu acreditava no título. O clima no Brasil era propício, a seleção estava em alta. Aquele hábito de enfeitar as ruas estava em alta. Tinha até um concurso da rua mais bonita. Todo mundo acreditava. Em 1982, o País todo estava vendo aquele time jogar como música, e esperava o time ir adiante. Eu próprio achava que passaria da Itália, por causa da vantagem do empate também”, afirmou o fã de futebol, que também acredita que naquele ano houve um “acidente”.
Em arquivos da época, ainda consta que jogadores da seleção italiana estavam num momento conturbado, e que, alguns deles até entraram em discussões com a imprensa local. Isso deu um tempero a mais para o confronto, que terminou como uma resposta do time italiano ao momento. No fim, a Itália arrancou rumo ao título, com vitórias contra Polônia pela semifinal e diante Alemanha na decisão.
Telê Santana, morto em 2006, tinha por característica a ofensividade e a busca pelo gol. O total oposto da Azzurra. Dessa forma, a frustração brasileira foi dobrada. Lendas da época se recusam a colocar a culpa da derrota nas costas do treinador, dizendo que foi uma derrota do coletivo. Zico, ainda ao Estadão, contou: “Quando não tem de ser, não acontece mesmo. O futebol tem dessas coisas. Naquele dia, individualmente, infelizmente erramos mais do que o normal”.
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