Segundona: Com filosofia baseada no jogo limpo, Manthiqueira completa 12 anos
Fundada por dois ex-militares da Força Aérea Brasileira, o time de Guaratinguetá coleciona histórias de superação
Fundada por dois ex-militares da Força Aérea Brasileira, o time de Guaratinguetá coleciona histórias de superação

Guaratinguetá, SP, 04 (AFI) – Completando 12 anos de existência nesta sexta-feira, a Academia Desportiva Manthiqueira, fundada por dois ex-militares da Força Aérea Brasileira, coleciona histórias de superação. Com sua trajetória baseada no jogo limpo, o clube transformou a vivência das adversidades em sua maior aliada, e hoje briga pelo acesso do Campeonato Paulista Segunda Divisão para o Paulistão A3.
A ideia de montar uma equipe em Guaratinguetá surgiu no final da década de 1990, a partir da amizade entre Geraldo Márgelo de Oliveira e Damaceno Fidélis –respectivamente, presidente e vice do clube. Servindo na aeronáutica, os colegas de profissão eram apaixonados pelo esporte, e decidiram comprar uma franquia da escola de futebol júnior do São Caetano, em 2004.
“A gente acabou se conhecendo numa sala de informações aeronáuticas, por acaso. Por trabalharmos em uma cidade pequena, não tinham tantos vôos para planejar, então a gente conversava muito, falávamos sobre montar um time. Começou como uma brincadeira, mas virou realidade”, contou Geraldo, mais conhecido como Dado.
À época, o investimento não parecia ter chances de se tornar algo profissional. O pouco dinheiro em caixa dificultava a organização do projeto, e obrigou os sócios a tomarem as rédeas do negócio.

“Trabalhamos aproximadamente nove meses com a escolinha. O fato de ter que comprar os materiais direto do São Caetano atrapalhou, porque era difícil pra gente pagar. Decidimos batalhar para fazer a nossa própria história. Eu tinha sido transferido para São Paulo e trabalhava no Campo de Marte. Depois do expediente, aproveitava pra comprar tecido no Brás (bairro) e levar na costureira. Em 2005, estávamos com o nome de Manthiqueira e com os nossos próprios materiais”, revelou Damaceno.
PRESENTE DE PAPAI NOEL
Até conseguirem filiar o Manthiqueira à Federação Paulista de Futebol, em 2011, os amigos depararam-se com a falta de capital, somada a falta de apoio. Damaceno relembrou o período, quando as atividades foram praticamente interrompidas no clube.
“Nesse período, de 2006 a 2010, em que nós ficamos parados, jogamos alguns campeonatos amadores só para não fechar as portas. Voltamos a montar a equipe em 2009, enquanto corríamos atrás de alguém que pudesse nos filiar, mas não deu certo. Quase desistimos”, afirmou.
Segundo Dado Oliveira, o momento foi como um ‘teste de paciência’. Para quem não tinha mais esperanças de levar o sonho adiante, um ‘milagre’ aconteceu. “Nesses cinco anos em que ficamos parados, as pessoas diziam: ‘o Manthiqueira só volta se você acreditar em Papai-Noel’. Em 2010, eu recebi um dinheiro que não estava esperando. Foi o suficiente para comprar um terreno, onde construímos o CT, e filiar o clube no ano seguinte”, disse Dado. “Construí uma capela nesse terreno e coloquei uma imagem de São Nicolau, o santo que deu origem ao Papai-Noel”, acrescentou.
DE ONDE VEM O “H”
De uma série de companhias da região do Vale da Mantiqueira, que levam o nome da localidade, o clube-empresa de Guaratinguetá resolveu se diferenciar dos demais.
Torcedores do Corinthians, os fundadores foram influenciados pelo ‘h’ no nome da equipe paulistana. “Foi por causa do nome fantasia. Pra diferenciar das outras empresas da região, a gente colocou o ‘th’”, afirmou Damaceno.
FILOSOFIA DO FAIR PLAY
Apesar de ter um cavalo como mascote, o Manthiqueira não leva para os gramados um futebol baseado na agressividade e força. Muito pelo contrário. Os atletas são instruídos a seguir as regras do jogo limpo, o conhecido ‘fair play’.
A técnica Nilmara, uma das primeiras mulheres a exercer a profissão no Brasil, foi a criadora da cartilha adotada pela equipe até os dias atuais. Nela, as regras são claras: é proibido xingar, fazer falta dura e até mesmo cavar pênalti.
“Não é só um time de futebol, é uma proposta de vida. Em 2012, nós trouxemos a Nilmara e passamos a aplicar o ‘fair play’. Evitamos o cai-cai, jogamos limpo, sendo justos, e mesmo assim conseguimos os resultados”, afirmou.
LIVIA CAMILLO, ESPECIAL PARA A FPF