Lionel Scaloni aceitou emprego que ninguém quis e agora está perto da consagração

O jovem treinador se sobressai no Catar por suas variações táticas, leitura de jogo acurada, entre outras características

Lionel Scaloni aceitou emprego que ninguém quis e agora está perto da consagração
Foto: Reprodução/Twitter

Impaciente, Lionel Scaloni olha pra cima como se pedisse ajuda divina. Quase metade do tempo de jogo já transcorreu e a Argentina empata sem gols com o México. É preciso mudar. Insatisfeito, coloca Enzo Fernández e, depois, Julián Álvarez. O time melhora, Messi decide com uma jogada genial, Fernández marca e está garantida a vitória que impede a eliminação precoce na Copa.

Aquele jogo, o segundo da primeira fase, apresentou para quem não conhecia o estratégico Scaloni, um jovem treinador de 44 anos. Ele sobressai no Catar por suas variações táticas, leitura de jogo acurada e a capacidade de mudar peças e esquemas nos momentos certos. Se algo não dá certo, ele não hesita em modificar.

Na primeira fase, tirou jogadores que não estavam bem e apostou em Enzo Fernández e Julián Álvarez, além de Mac Allister. No mata-mata, a Argentina de Scaloni se notabiliza pela capacidade de mutação. Já jogou no 4-3-3, 3-5-2 e 4-4-2. Este último sistema foi usado nos 3 a 0 sobre a Croácia que levaram os argentinos à final.

Tudo é pensado de acordo com o adversário de cada partida e no sentido de potencializar o futebol do astro Lionel Messi. Os quatro meio-campistas que jogaram diante dos croatas, por exemplo, desarmam, armam e ajudam o camisa 10 a encontrar os espaços. Tem dado resultado.

“Já mostramos muitos sinais de caráter nesta Copa do Mundo. Esta equipe mostra as diferentes facetas que o jogo exige em todos os momentos. Sabemos o que temos que fazer”, explicou o treinador.

POUCO A PERDER


Desconhecido de muitos, Scaloni aceitou em 2018 o emprego que os principais técnicos argentinos rejeitaram, sacou coelhos da cartola quando precisou, deixou a equipe invicta por 36 jogos, ganhou a Copa América no ano passado em cima do Brasil, encerrando jejum de 28 anos sem títulos, e está a um jogo de levar a Argentina à glória.

Natural da pequena Pujato, a 35 km de Rosário, ele foi auxiliar de Jorge Sampaoli no Sevilla e na seleção. O ex-lateral e volante, cujas principais passagens foram por La Coruña, da Espanha, e Lazio da Itália, substituiu o chefe após fracasso na Copa da Rússia.

Era um prêmio para quem jamais havia treinado sequer um clube. Quase todos o consideravam um tapa-buraco à época. Esperava-se que um nome de peso assumisse a seleção e o auxiliar retomasse seu posto. Mas Diego Simeone, Marcelo Gallardo e Mauricio Pochettino recusaram. Não achavam vantajoso trocar seus clubes pela seleção por causa da desastrosa gestão da Associação do Futebol Argentino (AFA).

CRIADOR DA ‘SCALONETA’


Scaloni foi ficando, ficando até ser efetivado no fim de 2018. Aceitou o desafio porque tinha pouco a perder e muito a ganhar. A desconfiança de imprensa e torcida sumiu à medida que conseguiu encaixar os astros e fazer o time jogar para Messi.
“Nós conseguimos fazer com que Lionel Messi e seus companheiros se sintam cômodos em campo”, disse o comandante da ‘Scaloneta’, apelido pelo qual a seleção passou a ser conhecida. Foi fácil se entender com os jogadores, pois, na Rússia, entre os membros da comissão técnica, ele era o mais próximo dos atletas.

Segundo Messi, a Argentina é uma equipe “muito inteligente” que sabe “fazer a leitura de cada partida” graças às orientações da comissão técnica. “Eles informam cada detalhe de cada jogo e depois acontece. Isso é uma grande ajuda quando estamos em campo. Em nenhum momento estamos perdidos, sempre sabemos o que temos de fazer e como vão decorrer os jogos”, contou o craque argentino.

Avesso a polêmicas, Lionel Scaloni, o mais novo entre os 32 técnicos no Catar, impõe suas ideias com calma e sobriedade. Na Copa, não entrou nas provocações dos holandeses nas quartas de final e já disse que vive o futebol como um jogo, apenas isso. “Eu sou um treinador, os jogadores são jogadores e nós não somos mais do que isso”, disse. “Aprendi que a única coisa que tenho a fazer é treinar, mesmo que esteja no comando de uma equipe importante. E os jogadores, jogam. Nada mais.”

Em campo, Scaloni era um lateral esforçado, de pouco brilho, mas muita garra e seriedade, virtudes que o tornaram ídolo no La Coruña, pelo qual fez mais de 200 jogos, e o levaram à seleção argentina.

Foram poucas partidas oficiais pela alviceleste. Apenas sete, uma delas na Copa da Alemanha, em 2006, quando jogou com Messi, estreante em Mundiais. ”Tento não me emocionar. É muito difícil. Estou no lugar dos sonhos de todo argentino”, afirmou Scaloni.

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