Saúde mental dos jogadores é mais uma das preocupações da pandemia
Na última década, a saúde mental dos jogadores passou a ganhar mais atenção
Campinas, SP, 23 (AFI) – A maratona de jogos e o pouco tempo para descanso provocados pelas alterações no calendário decorrentes da pandemia não preocupam apenas na parte física dos jogadores profissionais de futebol. Com tantas adversidades, a saúde mental dos atletas passa a ser uma preocupação ainda maior do que já era há algum tempo, pois são vários fatores que podem favorecer o desenvolvimento de algum transtorno emocional.
Na última década, a saúde mental dos jogadores passou a ganhar mais atenção na medida em que o debate sobre o assunto foi se fortalecendo. Uma pesquisa feita em 2016 pela Federação Internacional de Associações de Jogadores Profissionais, a FIFPro, percebeu que 36% dos jogadores apresentavam algum sintoma de ansiedade ou depressão. No estudo, foram analisados 262 jogadores que atuavam em cinco países europeus.
A pressão constante por resultados e por alto desempenho físico, aliada ao tabu que cerca o assunto no meio esportivo eram as grandes preocupações das entidades. Agora, a falta de descanso por conta do calendário agravou a situação. No lado emocional, conta muito a falta da família, já que muitos jogadores estão passando meses sem nenhum contato com os entes queridos. Mas, o desgaste físico também é capaz de provocar transtornos emocionais: o crescimento da carga de treinos e jogos sem o descanso adequado causa mudanças neurológicas e metabólicas que podem causar transtornos emocionais e distúrbios do sono, além de vários problemas físicos como a fadiga muscular e a piora do sistema imunológico.
Em geral, toda a população brasileira está mais consciente sobre o assunto. Segundo dados levantados pelo portal Guia de Bem Estar, o número de buscas na internet pelos termos relacionados à ansiedade cresce continuamente no país e, hoje em dia, está em níveis 240% mais altos do que há cinco anos. No esporte, porém, ainda existe muito preconceito, principalmente em relação aos atletas com salários mais altos. Ainda reina o pensamento de que é impossível desenvolver algum transtorno quando se tem muito dinheiro, o que é extremamente equivocado.
Mas, a situação começa a mudar na medida em que grandes jogadores falam abertamente sobre seus problemas e transtornos. Nos últimos anos, vários casos foram relatados, como o de Nilmar, Adriano Imperador, Thiago Ribeiro, Cicinho, Pedrinho, entre vários outros. No ano passado, um caso chocou todo o mundo do futebol e aumentou o alerta por parte dos profissionais da psicologia do esporte: o atacante uruguaio Santiago García, que atuava no Godoy Cruz da Argentina, cometeu suicídio.
Por isso, as equipes técnicas e médicas dos times devem tratar a prevenção aos transtornos emocionais com a mesma seriedade com que tratam a prevenção de outras doenças que podem causar graves riscos aos atletas, como as cardíacas. Por enquanto, ainda são poucos times que contam com o acompanhamento adequado, mas isso deve mudar para que possíveis tragédias possam ser evitadas.
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