Pentacampeão diz estar animado com Brasil na Copa: "Otimista"
"Acredito que o Brasil, sim, é um dos favoritos, e tem dois pontos que para mim são muito importantes" - Kaká
Pentacampeão em 2002 com a seleção, Kaká iniciará neste sábado pelas ruas da zona sul do Rio uma nova etapa: a de maratonista
Campinas, SP, 18 – Pentacampeão em 2002 com a seleção, e último brasileiro a conquistar o prêmio de melhor jogador do mundo pela Fifa, em 2007, Kaká iniciará neste sábado pelas ruas da zona sul do Rio uma nova etapa: a de maratonista. O ex-meia do Milan e do São Paulo irá percorrer os 21 km da Meia Maratona carioca já de olho nos 42.195 metros da Maratona de Berlim, uma das mais famosas do mundo, que acontece em setembro.
Será a primeira vez que o atleta, que deixou os gramados em dezembro de 2017, disputará uma prova de longa distância. “Quero viver essa experiência da maratona, com todo mundo na rua”, disse ontem, em entrevista exclusiva ao Estadão.
“Está sendo muito legal (a transição). Eu saio de um esporte coletivo e vou para um esporte individual; sou eu comigo mesmo, os desafios são meus.”
A prova no Rio acontece no mesmo mês em que, há 20 anos, Kaká esteve com a seleção na campanha do penta. “Minhas memórias são muito boas, e acho que a mais marcante para mim é levantando a taça”, recordou ele, que se diz ainda “otimista” com as chances do Brasil na Copa do Mundo do Catar.
ENTREVISTA COM O PENTACAMPEÃO
Estamos completando 20 anos do Penta. Quais as lembranças que você tem daquela conquista?
Cara, legal demais os 20 anos. Minhas memórias são muito boas, e acho que a mais marcante para mim é levantando a taça. Eu tinha 20 anos, e com 20 anos levantar a taça de campeão do mundo… Conforme foram passando os anos, e até hoje, depois que eu deixei de jogar, eu consigo entender bem melhor o que era aquilo lá. Eu tinha dois anos de profissional e estava conquistando um título mundial! Eu não tinha tanto a ideia, a dimensão do que era aquilo ali. Hoje eu consigo ver o privilégio que foi para mim aos 20 anos participando daquela conquista. Sou muito grato a Deus por essa oportunidade.
Acredita que o Brasil vai sair da fila nesta Copa do Mundo do Catar?
Eu estou muito otimista com relação a esta seleção. Acredito que o Brasil, sim, é um dos favoritos, e tem dois pontos que para mim são muito importantes. Um é a manutenção do Tite mesmo após a derrota na última Copa (diante da Bélgica, nas quartas de final). Ele teve este ciclo completo e já viveu uma Copa, não vai ser novidade para ele. Teve esse tempo de quatro, cinco anos testando jogadores, situações diferentes, vendo o amadurecimento de alguns, outros que passaram. Todo esse processo é muito rico para a seleção. O outro ponto é o surgimento de novos jogadores. Hoje a gente fala de Raphinha, Antony e Vinícius Jr., extremamente promissores, vencedores já. O Vinícius acabou de ser campeão da Champions, Raphinha sendo cogitado pelos grandes clubes europeus, o Antony também. Sem citar outros, o próprio Richarlison que vem muito bem. Acho que essa mescla de uma juventude muito boa, com uma experiência muito boa – Daniel Alves, eu não sei se vai estar lá, mas tem participado desse processo -, Thiago Silva, o próprio Casemiro que é extremamente vencedor, Neymar… Acho que essa mescla é bem favorável.
Você foi o último brasileiro escolhido o melhor jogador do mundo pela Fifa, em 2007. Você acha que o atleta brasileiro deixou de encantar o mundo? Qual seu diagnóstico?
Não, não acho. Acho que em vários momentos da carreira do Neymar ele era o melhor jogador do mundo. A questão do prêmio tem algumas variáveis – que aí eu acho que ele não se enquadrou -, que é conquistar um título sendo protagonista. Quando ele conquistou a Champions (em 2015), mesmo ele sendo um dos protagonistas e artilheiro da competição, o Messi ainda estava um pouquinho acima. Acho que esses fatores foram os únicos que pegaram para ele não receber o prêmio, mas em vários momentos da carreira eu acredito que o Neymar estava performando como melhor jogador do mundo. A gente continua encantando.
E sobre o Kaká de agora: você vai virar maratonista?
Sempre gostei de treinar, e quando parei de jogar eu queria continuar treinando. Mas eu queria um objetivo, uma meta para isso – além de qualidade de vida, que é o principal. Fui atrás da corrida, que é um esporte que eu gosto. Conheço o Marcos Paulo (Reis), treinador há muitos anos, e fui bater um papo com ele, o que ele achava, se era uma loucura depois de tantos anos em outro esporte correr uma maratona. Ele falou que era completamente viável. Eu não queria mudar meu estilo de vida com muito treino, voltar para isso, mas ele falou que era possível e comecei. Era para eu correr a maratona em 2020, mas com a pandemia e o lockdown não houve. Em 2021 a maratona ainda era parcial, não era completa. E eu quero é viver essa experiência da maratona, com todo mundo na rua.
Aqui no Rio será sua primeira, então…
Aqui no Rio vai ser a minha primeira meia-maratona. Já corri 21 km, mas como parte do treino, não competindo. Os 42 km serão na maratona de Berlim, em setembro.
Em relação a tudo o que você fez de treinos ao longo da carreira como jogador, muda muito a preparação para a maratona?
É totalmente diferente. É até curioso, porque num dos primeiros treinos que ele me passou ele falou ‘você vai correr 40 minutos’. E aí eu na esteira correndo os 40 minutos parei para pensar: cara, eu acho que nunca na vida corri 40 minutos contínuos. O futebol tem uma hora e meia de jogo, tem também os treinos, mas é sempre parando. Para a maratona, você vê que o treino é completamente diferente. Tem uma coisa do futebol na parte dos conceitos, de disciplina, de foco, de determinação. Toda essa parte eu consigo trazer para a corrida, mas a questão do treinamento, mais prático mesmo, é outro tipo.
E como está sendo essa transição do campo para as corridas de rua?
Está sendo muito legal. Eu saio de um esporte coletivo e vou para um esporte individual; sou eu comigo mesmo, os desafios são meus. Entendi um pouco mais o que é disciplina. Eu confundia um pouco disciplina com obediência, porque muita coisa eu fazia por obrigação, eu era disciplinado por causa daquilo. Hoje, como sou eu comigo mesmo, eu tenho que ir lá fazer o meu treino, ficar de olho na alimentação. Isso eu consigo trazer (da época) de atleta profissional.
Você precisou mudar seus hábitos, sua alimentação?
Não, mas teve que ter um ajuste – se você vai treinar, o que você vai comer, e que horas você vai comer. Pós-treino, da mesma forma. É muito parecido com o futebol, mas antes eu tinha nutricionista do clube, chegava lá e o buffet já estava pronto. Hoje não, hoje eu tenho que ir atrás, muitas vezes eu mesmo que vou ter que preparar.
Bom, você vai fazer os 21 km aqui do Rio, depois os 42 km de Berlim. Ano que vem você cogita fazer um circuito de maratonas mundo afora?
Não sei. Depois de Berlim a gente pode conversar mais sobre isso. A princípio eu queria ter essa experiência… Vamos ver se passando Berlim eu vou querer correr outra ou não, se vou querer ir para outro esporte. Deixar de fazer esporte é uma coisa que não vai acontecer.
Quais outros você curte?
Futebol eu gosto muito, costumava jogar uma vez por semana, mas com a maratona eu foquei só nela. São três treinos de corrida por semana e dois de academia, então parei de jogar futebol. Gosto muito de tênis também. Vamos ver o que vem pela frente.
Marcio Dolzan
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