Paulistão Série A3: Marília e União São João já fizeram “jogo do acesso” em 1987
No empate em 1 a 1 em 1987, pênalti marcado para o União São João gerou muita polêmica e atleta do Marília foi acusado pelo presidente, de ter vendido o jogo
Na penúltima rodada do Paulistão Série A2 de 1987, o Marília precisava vencer o União São João, no Abreuzão, para garantir o acesso antecipado, mas jogo terminou em 1 a 1

Marília, SP, 20 (AFI) – Marília e União São João irão se enfrentar pelas quartas de final do Paulistão Série A3. O primeiro duelo será neste sábado (22), às 18h, no estádio Dr. Hermínio Ometto, em Araras e o segundo no estádio Bento de Abreu, no dia 26 (quarta-feira), às 19h30. Os dois clubes voltam a se enfrentar em um confronto decisivo, depois de 38 anos.
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Em 1987, Marília, União São João, Rio Preto e Paulista de Jundiaí se classificaram para um dos dois quadrangulares finais do Paulistão Série A2. Todos jogaram em dois turnos e somente o campeão do grupo conquistava o acesso. Na penúltima (5ª) rodada, dia 3 de dezembro, o MAC recebeu o clube de Araras e precisava vencer para conquistar o acesso com um jogo de antecedência.
O Marília estava invicto e vinha de um empate e três vitórias, sendo que uma delas aconteceu justamente sobre o União São João (2 a 1), em Araras. Naquele momento, o MAC tinha sete pontos e o adversário seis. A partida terminou empatada em 1 a 1. O gol maqueano foi marcado pelo centroavante Careca Bianchesi, aos seis minutos do primeiro tempo e aos 31, o árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilla anotou pênalti bastante contestado do volante Lúcio e Adauto converteu a cobrança. De acordo com os jornais da época, 10.048 torcedores estavam presentes e a arrecadação foi de 1.385.500,00 cruzeiros.
Com o empate, o Marília ainda dependia de suas próprias forças para conquistar o acesso. Bastava vencer o lanterna e eliminado Paulista, em Jundiaí, que até ali não tinha somado nenhum ponto. O jogo não saiu do 0 a 0, o União São João ganhou do Rio Preto (1 a 0), em Araras e foi o líder do grupo com os mesmos nove pontos do MAC, subindo para a elite do Paulistão.
ACUSADO DE VENDER O JOGO
Em abril de 2021, a reportagem JM entrevistou Gilberto Eugênio Aparecido da Silva, o “Giba”, ex-ponta-direita do Marília, que acabou sendo acusado por torcedores e pelo próprio presidente da época, João Fernandes More, de ter vendido o jogo que valia o acesso contra o União São João.
“Não entendo até hoje qual foi o motivo de me acusarem de ter vendido a partida. Não aconteceu nada estranho comigo naquele jogo. O pior é que só eu fui acusado de ter vendido. Fui o artilheiro desse Paulista com 17 gols. Apesar de ter nascido em Rio Claro, fiz toda minha categoria de base no Marília e joguei por seis temporadas no profissional (1983 a 1988). Me considero mariliense, tenho muitos amigos na cidade e todo final de ano estou aí. Por isso, é que essa polêmica ainda me incomoda bastante”, declarou em 2021.
A acusação de que Giba vendeu o jogo, ganhou ainda mais força, quando em um programa de rádio, o ex-ponta maqueano ouviu o presidente João More afirmando que ele se vendeu.
“Em 1988 eu estava em Marília e fui convidado para participar de um programa de rádio. Quando eu cheguei à emissora, o João More estava lá e me acusou e ter pegado 500 mil cruzeiros do União São João. Eu saí de lá transtornado, pedi o carro emprestado ao Bernardo para voltar a Rio Claro e no trajeto pensei várias vezes em bater de frente com um caminhão para morrer. No entanto, eu pensei que se fizesse isso, muitos poderiam dizer que eu me matei pelo fato das acusações serem verdadeiras”, lembrou.

ZAPAROLI E PAVAN DEFENDEM GIBA
O presidente do União São João da época, José Mário Pavan, afirmou que as acusações contra Giba eram sem sentido. O ex-ponta maqueano foi contratado pelo clube de Araras em 1989, depois de ter passado por Portuguesa e Santos, onde estava por empréstimo. “Pensa comigo. Como vou contratar alguém que aceita dinheiro para perder? Se ele fez com o Marília, poderia perfeitamente fazer com o meu clube. Outra coisa, se ele tivesse feito o que muitos o acusam, não teria sido tão caro para nós o contratarmos anos depois. Demos uma boa quantia em dinheiro e mais o passe do Miranda (zagueiro). O Giba é uma pessoa muito séria e competente. Nunca nos deu trabalho”, destacou.
Técnico do MAC da época, Walter Zaparoli, disse não ter cabimento acusar Giba ou qualquer outro jogador de ter vendido o jogo. “Ele fez um jogo normal, assim como os outros. Até eu cheguei a sofrer com algumas desconfianças de torcedores, porque o time titular base não estava sendo escalado nas últimas partidas. Eu poupei alguns atletas para entrar no segundo tempo, porque nós vínhamos de uma maratona de partidas de meio e final de semana”.
PÊNALTI POLÊMICO
No empate de 1 a 1 com o União São João, a principal polêmica foi a atuação do árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilla, que um dia antes desse jogo, apitou Atlético-MG 2×3 Flamengo-RJ, no Mineirão, pelo Campeonato Brasileiro.
“A gente teve a informação que ele veio a Marília com um avião pago pela diretoria do União São João. Antes da partida começar, o Dulcídio foi homenageado com uma placa e com flores. Quando cheguei para parabeniza-lo, ele disse: ‘Jogador do Marília que nem ouse reclamar ou olhar para mim durante o jogo, que eu coloco pra fora’. Fiquei surpreso, pois ele me conhecia e antes dos jogos sempre fazia alguma brincadeira comigo”, comentou Giba.
O presidente do União São João disse que a história do clube ter trazido o árbitro de avião para a partida é mentirosa. “Eu não gostava do Dulcídio, pois ele já havia agredido um funcionário da equipe. Essa história foi criada para encobrir a incompetência do MAC, que não conseguiu vencer um time eliminado (Paulista) na última rodada”.
O pênalti marcado para o União São João aos 31 minutos do segundo tempo, é contestado até hoje. “A marcação foi inexplicável. Saiu de uma cobrança de escanteio. Me parece que o Dulcídio alegou que o Lúcio deu um empurrão no jogador do União. Ninguém entendeu”, citou Giba.
O técnico Walter Zaparoli também não se conforma com a penalidade assinalada. “Eu sinceramente não gosto muito de lembrar desse jogo, porque estávamos muito perto do acesso. Nós somamos 75% dos pontos no Quadrangular Final, terminamos invictos (três vitórias e três empates) e não subimos. Nossa equipe era muito boa, se jogássemos mais dez vezes, ganharíamos nove. Infelizmente o Dulcídio achou esse pênalti. Porém, ele não é o culpado por não termos conseguido o acesso. Verdade seja dita, o segundo tempo contra o União e o jogo final contra o Paulista, nós estivemos muito abaixo de nossas atuações”.
FICHA TÉCNICA:
Marília 1×1 União São João
Data: 03/12/1987
Local: Estádio Bento de Abreu
Público: 10.048 pessoas
Renda: Cr$ 1.385.500,00
Árbitro: Dulcídio Vanderlei Boschilla
Gols: Careca Bianchesi ‘6/1T’ (Marília); Adauto ‘pen. 31/1T’ (União)
MARÍLIA – Luiz Andrade; Paulo, Murilo, Arnaldo e Fabinho; Wanusa (Roberto), Zé Rubens (Popeia) e Lúcio; Giba, Beto Rocha e Careca Bianchesi. Técnico: Walter Zaparolli.
UNIÃO SÃO JOÃO – Privatti; Kiko, Eduardo, Cavalcante e Carlinhos; Vanderlei, Adauto e Juca; Celso Luís, Cássio (Marinho) e Odair. Técnico: João Magoga.