Paulista Sub 17: Técnico mais jovem da competição, William Batista comanda o Atibaia

Com apenas 23 anos e inspirado pelo futebol espanhol, ele aprendeu na Europa como priorizar o lado humano antes da competitividade

Com apenas 23 anos e inspirado pelo futebol espanhol, ele aprendeu na Europa como priorizar o lado humano antes da competitividade

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Atibaia, SP, 29 (AFI) – O Atibaia recebe neste sábado no Estádio Salvador Russani a equipe do São Paulo, na estreia da segunda fase do Campeonato Paulista Sub-17. Com apenas 23 anos, apenas seis a mais que seus comandados, o técnico William Batista é o mais jovem treinador da categoria e uma das armas do Falcãozinho para surpreender Taubaté, Grêmio Prudente e o próprio tricolor do Morumbi.

Ex-jogador de base do Bragantino, Red Bull e Rio Ave (Portugal), Batista encerrou a carreira precocemente aos 20 anos e sua paixão pela parte tática do futebol o levou à Europa para o aprendizado mais importante de sua carreira até aqui, priorizar o lado humano antes da competitividade. Taticamente, se assemelha muito ao técnico Fernando Diniz, por quem foi convidado para um bate-papo na última semana a pedido do próprio treinador do Oeste.

William Batista é o mais jovem treinador do Campeonato Paulista Sub-17(Foto: Fabio Giannelli / Soccer Digital)

William Batista é o mais jovem treinador do Campeonato Paulista Sub-17(Foto: Fabio Giannelli / Soccer Digital)

Em entrevista à Rádio Falcão, o treinador do Falcãozinho falou sobre carreira, viagens internacionais, experiência no futebol europeu e ainda detalhou os preparativos para mais um desafio de sua equipe no Campeonato Paulista SUB17.

CONFIRA ABAIXO:

Você é o treinador mais jovem do Campeonato Paulista. Gostaria que fizesse um resumo de sua carreira no futebol até aqui.

Com 23 anos tenho o privilégio de ser o treinador mais jovem do Campeonato Paulista Sub17. Como jogador atuei nas categorias de base do Red Bull, Bragantino e Rio Ave, de Portugal. Há dois anos parei de jogar, com 20 anos, e a convite de um amigo meu do Sumaré assumi a equipe lá. Sempre tive uma grande paixão por entender o jogo, por assistir jogos, tinha interesse muito grande nos treinos que meus treinadores montavam. Eu tinha uma visão até muito crítica dentro das equipes que eu jogava quando algo não acontecia taticamente, individualmente, e me questionava muito por isso. Quando veio esse convite, aceitei rapidamente, dali pra frente (2015) trabalhei no Sub17 do EC São Bernardo, onde fomos campeões de um torneio na França. Depois fui auxiliar no sub20 do Guarani e este ano a convite do Wagner, da AFA, vim para o Sport Club Atibaia.

Você possui cursos e especializações no exterior. Conte um pouco sobre essa experiência no futebol europeu.
No final do ano passado a convite de alguns amigos estive em Portugal e Espanha acompanhando algumas equipes, a metodologia delas de trabalho. Fui visitar o Deportivo La Coruña, o Celta de Vigo e Vitória, de Setúbal. O que me chamou muito atenção além da parte tática, técnica, eles criam o perfil dos jogadores que eles querem formar. Os jogadores estão acima tudo, da parte tática, da parte técnica, acima de tudo que envolve o jogo para ter um jogador perfil determinado que eles entendam ser necessário para ter um bom desenvolvimento dentro da parte do jogo. A metodologia do La Coruña foi algo que achei fantástico, um jogo de tempo e espaço, algo muito profundo que cria uma identidade própria e única dentro do jogador que faz muito a diferença em termos de agressividade, de compreensão do jogo, de independência para as tomadas de decisão. Chamou a atenção também se comparado ao Brasil e nisso ficamos atrás, o Espanhol traça o perfil do jogador que ele quer formar, o brasileiro traça uma parte tática para implementar dentro dos jogadores. Acredito que o grande segredo do negócio é ter um perfil traçado para aquilo que você entende que ele tem que ter para depois trazer para ele a parte tática. A estrutura também dos clubes dispensam comentários, fora da curva, e esse contato agregou muito para minha carreira principalmente para o dia a dia do trabalho.

Como taticamente gosta de trabalhar sua equipe? Quais suas prioridades num time de futebol?
Gosto de uma equipe que esteja pronta para responder as ações do jogo. O jogo não é algo programado e se modifica muito dentro dele mesmo. É como um organismo vivo, com mutações a todo o momento. Gosto muito que minha equipe seja independente, que minha equipe esteja pronta para reagir bem conforme as mudanças que acontecem o tempo todo dentro do jogo. Que saiba se comportar e ter uma ocupação de espaço em determinado setor próximo à bola onde a gente consiga tirar vantagem dos desequilíbrios do adversário. A grande prioridade na minha equipe é propor o jogo, temos que resgatar o prazer do jogador em ter a bola. Os jogadores chegam aos clubes novos e muitas vezes saem das ruas, de lugares menos favorecidos e chegam com um sonho, e muitas vezes o clube por ter uma pressão, programação estabelecida pelos diretores e coordenadores, coloca uma pressão muito grande dentro dos jogadores e eles perdem muito a essência que eles têm de ter o futebol como um sonho, com o prazer de jogar. Por isso eles perdem esse prazer de algo que era gostoso e passa a ser algo que é obrigação do comprometimento apenas. A gente tem que ter aquela irresponsabilidade boa que os garotos novos com 14 e 15 anos ainda tem e depois com o tempo perdem. A grande prioridade da minha equipe é que eles tenham prazer de jogar futebol, que acordem pela manhã felizes por fazerem o que gostam. Então priorizo é ter a bola e resgatar esse prazer de jogar com a bola, com independência e que eles estejam prontos para fazer as ações dentro do jogo e se sentirem realizados com o que estão fazendo.

A AFA realiza um trabalho conjunto esse ano com o Sport Club Atibaia, diferentemente do que aconteceu nos anos anteriores. Como vê essa nova integração?
É importante essa integração do Sport Club Atibaia com a AFA (Associação Futebol de Atibaia), principalmente para os jogadores. A AFA tem um trabalho sério, muito bom, desde 2011 se não me engano. Em anos anteriores não estive, mas falando desse ano não vejo um parceiro melhor que a AFA que o Sport Club Atibaia poderia ter. Então acredito que de forma inteligente, eles acreditando no trabalho que é muito bom pela formação dos atletas que estão ai para mostrar isso. É muito importante principalmente para os jogadores que é a parte mais importante disso tudo. Houve essa possibilidade e todo mundo quer ter um parceiro bom, não vejo um parceiro melhor para o clube e isso é uma vantagem para todos, para a AFA que faz o trabalho, para o clube que recebe jogadores com bom nível e a gente fica feliz de ver porque o futebol carece de coisas boas, de pessoas honestas e sinceras que os dois lados tem. Por isso acredito que essa integração esteja mais viva e forte que os anos anteriores.

Esse trabalho social da AFA prioriza o lado humano dos atletas à competitividade?

Abordamos muito esse assunto, o lado competitivo e o lado humano. A AFA por conceito de trabalho visa muito o lado humano dos atletas. Eu particularmente também tenho esse olhar com o ser humano antes da competitividade. A gente acredita muito que esse lado pessoal potencializa muito a capacidade dele como atleta. Ter esse prazer de estar no dia a dia, de fazer o que gostam é o que potencializa a evolução dentro do trabalho. A competitividade existe porque está dentro de todos, dentro de nós que comandamos, dentro deles que competem, mas o lado humano é a parte fundamente e principal dentro do trabalho. A gente resgatar esse prazer para fazerem o que gostam da melhor forma, de ter a bola para jogar com ela é o que marca a diferença. A gente vê muito isso dentro das nossas reuniões, conversamos muito sobre esse lado humano de melhorá-los como pessoas e potencializar como pessoas para que eles também se potencializem como atletas. O jogo depois é algo natural que acontece por conta dessa parte humano, de confiança, de respeito uns com os outros, de um espirito que eles têm que ter com eles mesmos. Por isso a gente olha e trabalha muito esse lado porque acreditamos que o lado humano é primordial para tudo que se vai fazer na vida. Se não tiver o lado humano antes, todo o outro processo em algum momento morre pelo caminho.

Atibaia/AFA garantiu vaga na próxima fase vencendo o Red Bull na última rodada. Quais as lições que tira dessa primeira fase?
Pensamos sempre no momento e no próximo jogo, que nesse caso é o São Paulo. A gente vai trabalhar sempre para ser o melhor, independente do adversário. A gente sabe e respeita muito o São Paulo, eu acredito ser o melhor time sub17 do Brasil, com muitos jogadores que estão servindo a seleção brasileira, mas a gente trabalha para sermos os melhores porque não há sentido e significado trabalhar para não ser o melhor. Então temos que correr mais, nos dedicarmos mais, sermos mais intensos, viver o momento, ter o espírito de competitividade. Se não tivermos essa determinação o trabalho perde sentido. Acredito que será uma chave equilibrada, Grêmio Prudente e Taubaté também têm bons trabalhos. O futebol hoje está muito equilibrado e os detalhes farão a diferença. Queremos estar pronto para encarar esses detalhes, bater de frente com os grandes e levar o Atibaia para a próxima fase. Confiamos no que fazemos e temos qualidade para isso. Nossa preparação será para fazer o melhor independente do que vai acontecer. Para sermos os melhores temos que ter trabalho, vontade, disposição e um espirito de luta e sacrifício muito grande todos os dias.

Agora a equipe terá o São Paulo pela frente na estreia, além de Grêmio Prudente e Taubaté. Como está sendo a preparação para a segunda fase?
Conseguimos uma vitória sobre o Red Bull na última rodada, um jogo com uma intensidade muito alta, um nível de concentração muito elevado, o adversário brigando pela liderança com o Guarani e a gente precisando ganhar para classificar. O jogo dentro do campo deles, muito difícil, onde eles treinam todos os dias. Dentro da nossa proposta jogamos e vencemos, isso é o que mais nos deixa contente dentro do trabalho porque são poucos clubes que vão para lá e propõem o jogo. Sabíamos da possibilidade de ganhar, mas sabíamos que para ganhar teríamos que jogar e não abrir mão da bola. Quanto mais tivermos a posse de bola, maior a chance de ter um resultado positivo. Tiramos algumas lições, como não ter conseguido repetir a escalação dentro do campeonato nenhuma vez, rodamos muitos jogadores durante os jogos e isso serve de experiência para criarmos possibilidades para não ficarmos presos em apenas onze ou quinze jogadores. Houve alguns erros, a gente sabe quais foram e o que devemos trabalhar, mas preferimos pegar as lições positivas e trazer para todos os dias para que a gente melhore ainda mais e consiga igualar às grandes equipes como o Red Bull, uma equipe muito difícil de ser batida na casa deles.

Qual sua projeção para o futuro da equipe? E o seu particularmente?
A gente sabe das dificuldades, vencemos o Red Bull que é um time que sempre chega às fases finais e entendemos que uma equipe que ganha do Red Bull está pronta para jogar com qualquer outra equipe, mas sabemos que para atingir outros níveis na competição precisamos continuar evoluindo porque as outras equipes também estão em constante evolução. Nossa equipe de dois meses atrás já não serve para o atual momento, então acreditamos muito nessa evolução e projetamos sempre para o próximo jogo. O futuro será sempre uma utopia, algo que não existe, eu acredito que não exista e sim o presente momento. Isso que a gente vive todo dia. Lá na frente, quando acontecer, estaremos prontos para o que virá. A gente quer brigar forte com os grandes como brigou com o red Bull e trabalhamos por isso todos os dias. Lá na frente os resultados vão dizer, muitas vezes não condizem com o que foram as partidas, mas nesse nosso esporte é a prioridade. Meu futuro não projeto muitas coisas, como disse para mim é uma utopia. Prefiro viver o hoje, trabalhar e fazer o projeto da AFA junto com o Sport Club Atibaia o mais competitivo possível. As coisas acontecem quando tem que acontecer e são as leis naturais num processo da vida. Com muito trabalho e muito estudo, trazendo esse lado humano para o nosso ambiente é o que acredito. Só podemos controlar e esperar o presente. Tenho também que agradecer muito ao Wagner e ao Carlos Brígida porque confiaram e acreditaram no trabalho. Mudamos muitas coisas nos treinos desse ano, no inicio os resultados não vieram e esperava que seria assim, e eles tiveram uma paciência que muitos não teriam. Os resultados estão ai, conseguimos essa classificação e com dirigentes assim o futebol se faz muito melhor.