Mulheres levam grito por liberdade a arquibancadas da Copa do Mundo do Catar
As mulheres têm ocupado as arenas catarianas, especialmente a comunidade árabe e muçulmana de países próximos, e demonstrado várias formas de torcer com ou sem véu, mesmo que em muitos países de maioria islâmica o caminho delas até as arquibancadas ainda seja um desafio
Campinas, SP, 08 – Dentro do metrô de Doha, grande parte da torcida do Marrocos presente na Copa do Mundo do Catar fazia festa incessante para comemorar a ida da seleção do país às quartas de final pela primeira vez na história, após vencer a Espanha nos pênaltis. Entre as várias torcedoras que gritavam no meio da multidão, estava Fatma Abdallah. Com os cabelos soltos e rosto pintado, não parava de comemorar.
Questionada sobre o que acha da participação tão ativa das mulheres nas arquibancadas nesta Copa, Fatma apenas sorriu, com o braço erguido. As torcedoras estão com tudo e isso pôde ser observado em todos os dias do Mundial em que havia uma seleção de país árabe ou islâmico em campo.
Na estreia do Irã, do lado de fora do Khalifa Stadium, onde a seleção de seu país foi goleada por 6 a 2 pela Inglaterra, a iraniana Asi Lisani, que pediu asilo e vive no Canadá, não se importava com a partida prestes a começar. Queria falar com estrangeiros que foram até o Catar para a Copa do Mundo sobre a situação das mulheres em sua terra natal.
Vim até aqui para ser a voz do meu povo, que está sendo massacrado pela brutalidade do regime islâmico. As pessoas estão bravas lá, querem mudança, enfatizou, exibindo uma camiseta com os dizeres seja nossa voz, com uma estampa em que braços e olhos com maquiagem simulavam uma agressão com sangue.
A Fifa liberou o uso durante o Mundial de bandeiras e camisas com o nome de Mahsa Amini, iraniana morta após a polícia da moralidade do país, criada após a revolução de 1979, flagrá-la em julho com parte do cabelo descoberto em público. Desde então, foram registrados protestos contra o regime. A repressão aos atos resultou em 450 mortes e 18 mil prisões, de acordo com a ONG Human Rights Watch.
CALDEIRÃO CULTURAL
As mulheres têm ocupado as arenas catarianas, especialmente a comunidade árabe e muçulmana de países próximos, e demonstrado várias formas de torcer com ou sem véu, mesmo que em muitos países de maioria islâmica o caminho delas até as arquibancadas ainda seja um desafio.
A saudita Marian Karin saiu de Al-Hufuf, no sul da Arábia Saudita e a 170 quilômetros de Lusail, para assistir ao jogo da seleção nacional contra o México. Ela viajou com duas amigas e todas estavam de abaya e cobriam a cabeça com o hijab. Mesmo ligando pouco para futebol, a torcedora saudita escolheu um traje típico das muçulmanas em verde para combinar com a bandeira nacional, mas estava mais interessada em ver de perto a grande festa que uma Copa do Mundo proporciona.
Esta sensação de ver algo diferente encantou árabes de partes da África, como a Tunísia e Marrocos, além de países da região do Golfo.
Questionada se já foi a algum estádio na Arábia Saudita, Marian respondeu que não, até porque a liberação da entrada de mulheres neles é recente (2019) e ela mora distante dos centros dos maiores clubes do país, como Riad e Jeddah. Apenas em 2020 foi criado o primeiro campeonato feminino de futebol por lá. A experiência de viver uma Copa do Mundo é algo que nunca imaginei. Como mulher árabe, fico feliz em poder estar em um momento tão importante para nossa região.
BARREIRAS
Em cada país muçulmano da comunidade árabe, há uma interpretação da lei da sharia, que rege os costumes e zela para que a tradição islâmica seja mantida, com punições a quem cometer infrações. No caso de mulheres frequentarem estádios de futebol, não há uma proibição expressa nos países da comunidade, mas em alguns deles, as barreiras culturais e religiosas são tão firmes que afugentam a presença feminina.
Um dos motivos mais complicados é que as mulheres devem ter uma área reservada para assistirem às partidas separadas dos homens e alguns estádios e federações pouco evoluíram em criar ferramentas de incentivo.
SEPARAÇÃO
No Catar, as mulheres podem frequentar os estádios e não há separação por gênero. Nos Emirados Árabes Unidos, como em Dubai e Abu Dabi, torcedoras podem assistir futebol in loco, mas a presença de praticamente só homens nos espaços cria um ambiente pouco acolhedor. No Egito, mulher frequentar estádio é desaconselhado e há risco de assédio.
Dos países que seguem o islamismo, a Turquia e o Líbano são dois exemplos mais avançados nessa questão, e há grande número de fãs femininas que apreciam e frequentam o ambiente do futebol. No Irã, apesar de ser uma nação persa e não árabe, a presença de mulheres não é formalmente proibida, mas a exigência de separação de gêneros torna a ida feminina aos estádios uma exceção.
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