Manchester City busca tetracampeonato inglês inédito, mas vê ameaça do 'Big Six'
Em 2023/2024, o Manchester City, atual tricampeão, é o principal favorito e vai em busca de feito inédito: se tornar o primeiro clube a conquistar o tetracampeonato inglês. Em mais de um século, isso nunca ocorreu
Além do City, os outros times do Big Six - Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester United e Tottenham - tem objetivos próprios neste ano
Campinas, SP, 11 – Principal campeonato nacional da Europa, a Premier League começa nesta sexta-feira sua 32ª edição, desde que o Campeonato Inglês teve seu formato reformulado na temporada 1992/1993 e passou a ser organizada pelos clubes. Em 2023/2024, o Manchester City, atual tricampeão, é o principal favorito e vai em busca de feito inédito: se tornar o primeiro clube a conquistar o tetracampeonato inglês. Em mais de um século, isso nunca ocorreu.
Além do City, os outros times do Big Six – Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester United e Tottenham – tem objetivos próprios neste ano. O principal é de evitar que o rival conquiste o feito inédito na Inglaterra. No último ano, o Arsenal liderou boa parte da competição, mas perdeu fôlego na reta final, em abril, ao ceder o primeiro lugar ao City. Rival da cidade, o United teve seu primeiro ano sob o comando de Ten Hag além das expectativas – conquistou a Copa da Liga Inglesa – e teve o apoio de Casemiro para terminar em terceiro lugar.
Chelsea, Tottenham e Liverpool tiveram temporadas aquém da expectativa em 2022/2023. A dupla londrina sofreu com troca de comando durante o ano, enquanto o Liverpool não conseguiu manter o nível de 2021/2022, quando foi vice-campeão da Champions e da Premier League. Nenhuma equipe desse trio disputará a principal competição continental na temporada que se inicia nesta semana.
Apesar da janela de transferências ainda ter movimentações nos próximos dias – as principais ligas europeias fecham as negociações entre clubes após o dia 1º de setembro -, já é possível ter um panorama da ordem de forças da Premier League. O Estadão prepara um guia, com os principais destaques do Big Six e do Campeonato Inglês nesta temporada.
MANCHESTER CITY
Os comandados de Guardiola estreiam nesta sexta-feira, diante do Burnley, fora de casa. Após uma última temporada mágica na qual, além do título inglês, conquistou a Copa da Inglaterra e a Champions League – a tríplice coroa – o time se reforçou. Josko Gvardiol e Mateo Kovacic, croatas, foram as peças que se somaram ao elenco estrelado e multicampeão.
Mesmo assim, o time perdeu peças. Gundogan e Mahrez deixaram o clube, em direção ao Barcelona e o futebol saudita, respectivamente. João Cancelo, que estava emprestado ao Bayern de Munique, ainda não está 100% integrado ao elenco, apesar de ter disputado jogos na pré-temporada. Ele também negocia com o Barcelona. Bernardo Silva e Kyle Walker, apesar de negociações com outros times da Europa, devem continuar em Manchester.
A meta do clube nessa temporada, além do tetracampeonato inédito, é manter o nível após a tríplice coroa. Além dos croatas, que se juntaram ao elenco, o time ainda pode ter Lucas Paquetá, hoje no West Ham, até o fim da janela. O brasileiro é um sonho antigo de Guardiola, que admira o jogador desde os tempos de Flamengo. Na última entrevista coletiva, ele recusou responder sobre a procura pelo jogador.
“É algo muito raro (conquistar a tríplice coroa) e devemos estar atentos a isso. Foi bom, mas acabou, e agora estamos começando do zero. A história mostra. Quando você consegue algo como nós fizemos, é quase impossível repetir”, afirmou, sincero. “Subimos a montanha mais alta na temporada passada, mas agora descemos essa montanha e começaremos como todos os outros.”
A base da equipe segue intocável. Guardiola deve manter o esquema com três zagueiros, adicionando Gvardiol à rotação com Rúben Dias, Akanji, Laporte e Aké. Stones, desde a última temporada, atua no meio-campo da equipe, como um primeiro volante. O elenco ainda tem poucas peças de reposição, algo que não foi um problema desde 2019/2020, quando o time precisou improvisar jogadores em funções diferentes por causa de lesões.
Antes da estreia nesta sexta-feira, diante do Burnley, Rodri reconheceu que a sequência de jogos gerou um desgaste no grupo. “Não lembro exatamente o número de jogos que fiz, mas tive uma conversa com o clube e com o treinador porque não é saudável. Que se faça isso durante uma temporada, mas, quando são duas ou três seguidas, pode ser pior para o time. Já falamos isso antes, não pode ser sempre assim”, disse.
Haaland segue como a referência no ataque após uma temporada que pode lhe render a Bola de Ouro. Artilheiro da Premier League e da Champions, contou com as assistências de De Bruyne para chegar à marca de 52 gols em 53 jogos.
UNITED E ARSENAL BUSCAM TÍTULOS
Na última semana, o Arsenal revidou as derrotas que teve diante do City ao conquistar a Supercopa da Inglaterra, nos pênaltis, após empate por 1 a 1 no tempo regulamentar. A competição, em jogo único, tem menor importância quando comparada aos demais troféus que estão em disputa ao longo do ano. Mesmo assim, a vitória foi valorizada pelos Gunners, que tem apenas um objetivo: destronar o City.
O clube não conquista a Premier League desde 2002/2003, quando ainda era comandado por Arsene Wenger, e teve a chance de encerrar essa seca. A base do time de Mikel Arteta se manteve. Xhaka, capitão durante boa parte de sua passagem por Londres, é a principal perda – o suíço se transferiu para o Bayer Leverkusen neste ano.
Ainda com Saka, Nketiah, Gabriel Martinelli e Odegaard, o Arsenal contratou três importantes peças para continuar ameaçando o City: Declan Rice, maior contratação da história do futebol inglês (116 milhões de euros, cerca de R$ 620 milhões), Kai Havertz e Jurrien Timber. Três jovens nomes – todos abaixo dos 25 anos – que podem ser titulares já em sua primeira temporada na equipe.
Nesse início, o principal desfalque é Gabriel Jesus. O brasileiro sofreu nova lesão, ainda na pré-temporada, e teve de passar por cirurgia no joelho. Em 2022/2023, perdeu alguns meses e foi substituído por Nketiah. Quando retornou, o Arsenal teve uma série de deslizes que possibilitaram que o City encostassena briga pela liderança.
“Até hoje me dói profundamente não ter vencido a Premier League depois de passar 10 meses lutando com o City. Mas esse é o esporte”, afirmou Arteta, em entrevista ao Marca. “Dito isto, vale a pena o que se conseguiu com uma equipe tão jovem. Isso também está claro para mim.” A média de idade da equipe é de 24 anos.
O mesmo vale para o United. Comandado pelo holandês Ten Hag, chega em agosto após um bom desempenho na reta final da última temporada. Casemiro, Bruno Fernandes e Rashford se mostraram como pilares da renovação pela qual o clube passa e que contou com a rescisão contratual do ídolo Cristiano Ronaldo ainda em 2022.
O United não conquista o troféu desde 2013, último ano de Alex Ferguson no comando da equipe. Desde então, flertou com a conquista da Premier League em algumas oportunidades, mas que não foram além de vice-campeonatos. Para esta temporada, perdeu De Gea, goleiro da equipe desde 2011, e Alex Telles, mas se reforçou com Hojlund, Mason Mount e Onana.
CHELSEA, LIVERPOOL E TOTTENHAM TENTAM SE RECUPERAR
Para o resto do Big Six, o último ano não foi como o esperado. Apenas o Liverpool, com Jurgen Klopp, não trocou de treinador ao longo do ano. O Chelsea, em sua primeira experiência com o novo dono Todd Boehly, teve três comandantes: Thomas Tuchel iniciou a competição, mas foi substituído por Graham Potter, ex-técnico do Brighton; com insucessos, foi demitido e Frank Lampard, ídolo da equipe, assumiu até o final da Premier League. O time terminou apenas na 12ª colocação, a dez pontos do primeiro rebaixado.
Na janela de transferências, foi, do Big Six, aquele que mais teve perdas. Além de Havertz, Kovacic e Mount, contratados pelos rivais Arsenal, City e United, respectivamente, a lista de perdas é extensa: Koulibaly, Christian Pulisic, Edouard Mendy, Loftus-Cheek, Ampadu, Kanté, Azpilicueta, Aubameyang e João Félix são alguns dos nomes que deixaram o time antes do início da temporada.
Isso se deve a dois fatores: os elevados gastos nas últimas janelas e o fraco resultado esportivo. Ao todo, o clube londrino gastou mais de R$ 2,5 bilhões com contratações no último ano. Para “driblar” as regras da Uefa e do fair play financeiro, o clube utiliza uma estratégia semelhante à das ligas americanas: espalhar o valor pago para os jogadores ao longo dos anos de contrato. Para conciliar este modelo, é preciso obter um sucesso esportivo: em 2022/2023, o time londrino terminou na 12ª colocação da Premier League e sem nenhum título nas demais competições.
Como reforço, o Chelsea contratou Nkunku – que ficará afastado por tempo indeterminado por problemas no joelho – e algumas jovens promessas, como Ângelo e Deivid Washington, do Santos. Pochettino, contratado recentemente, tenta retomar o caminho das vitórias no comando dos Blues.
O Liverpool vive um cenário semelhante do Chelsea, já que perdeu importantes peças desde a última temporada. Firmino, Henderson e Fabinho deixaram o clube, em direção ao futebol da Arábia Saudita. Milner, campeão da Champions com o time em 2018/2019, reforçará o Brighton na reta final de sua carreira.
O Tottenham é, dos times do Big Six, aquele que mais sofre por amargar a falta de títulos. Desde que começou a Premier League, o time é o único que ainda não foi campeão. Manchester United (13), City (7), Chelsea (5), Arsenal (3) e Liverpool (1) empilharam troféus na última década, dentro e fora da Inglaterra.
O time de Londres fez movimentações pontuais nesta janela de transferências, com as contratações de James Maddison, Pedro Porro e Micky van de Ven. A principal dúvida, às vésperas do início da Premier League, é o futuro de Harry Kane, artilheiro da equipe. Os Spurs aceitaram a proposta do Bayern de Munique, superior a 100 milhões de euros, mas o centroavante ainda não definiu onde jogará na temporada 2023/2024. Deve viajar à Alemanha ainda nesta semana para selar as transferências.
BRASILEIROS NA PREMIER LEAGUE
Caso consiga contratar Paquetá, o City terá seu segundo jogador brasileiro no elenco. Ederson, goleiro, está no clube desde 2017. O Brasil é, além da Inglaterra, um dos países com mais atletas na liga. Nesta temporada, 16 das 20 equipes com algum brasileiro em seu plantel.
Brentford, Everton, Luton Town e Sheffield United são os únicos clubes que não tem um jogador do Brasil. Os dois últimos foram recém promovidos à primeira divisão – o Luton é, inclusive, um estreante na Premier League. Antes da primeira rodada, 34 brasileiros estão distribuídos por 16 times do Inglês. Arsenal e Fulham, ambos de Londres.
“A Premier League atingiu um status de sonho a ser realizado para diversos atletas, independente do clube para o qual escolhem atuar. A liga possui uma marca que por si só consegue atrair jogadores para a competição, que ainda se beneficia em relação à concorrência pelos altos salários, nível técnico e audiência global expressiva”, afirma Marcos Casseb, um dos sócios da Roc Nation Sports Brazil, empresa de entretenimento norte-americana que se tornou acionista majoritária e controladora da TFM Agency, companhia que gerencia as carreiras de Paquetá e Gabriel Martinelli, que jogam na Inglaterra.
“Além de questões culturais, como o idioma, e condições climáticas, o brasileiro enfrentava barreiras legislativas para se consolidar na Inglaterra devido ao passaporte. Com as transformações socioeconômicas ao longo dos anos e o desenvolvimento competitivo da Premier League, o cenário se alterou e os jogadores do Brasil passaram a ser observados com maior atenção pelos clubes ingleses. E também há a qualidade e o talento do jogador brasileiro, que reduzem os obstáculos para que atuem no campeonato nacional mais atrativo e assistido do mundo”, destaca Sandro Orlandelli, diretor técnico que esteve por mais de uma década em times como Arsenal e Manchester United.
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