Jogos adiados podem virar rotina no Campeonato Brasileiro, dizem infectologistas
Na visão dos médicos, o maior perigo do Campeonato Brasileiro é fazer com que os jogadores se tornem vetores da doença
Na visão dos médicos, o maior perigo do Campeonato Brasileiro é fazer com que os jogadores se tornem vetores da doença
Campinas, SP, 11 – Quem acompanhar o Campeonato Brasileiro desta temporada possivelmente vai precisar se acostumar com a situação inusitada de uma partida ser adiada porque há um time com um grande número casos do novo coronavírus no elenco. A exemplo do ocorrido no último domingo, entre Goiás e São Paulo, em Goiânia, infectologistas ouvidos pelo Estadão apostam que, pela situação da pandemia e pela exposição dos atletas ao contágio, outras partidas vão passar pelo mesmo problema.
Para esses especialistas, é provável até mesmo que surtos como o encarado pelo Goiás, que tem nove casos confirmados da doença, passem a ser mais comuns justamente a partir de agora, por causa das viagens. Cada time terá duas partidas por semana e vai precisar passar com frequência por locais considerados pelos médicos como mais perigosos para se contrair o vírus. A segunda das 38 rodadas da competição tem início na quarta-feira.
“É possível que aconteça (novos adiamentos dos jogos). A epidemia ainda está entre nós, e qualquer proximidade entre pessoas pode gerar transmissão”, afirmou o membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Renato Grinbaum. O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, manifestou na segunda-feira a preocupação com esse impacto. “O Brasileirão precisa que todos entendam e aperfeiçoem os protocolos para continuar suas atividades”, escreveu nas redes sociais.
É DIFERENTE
Os médicos consideram que, após as equipes terem disputado Estaduais, apenas com partidas com viagens curtas ou quase sempre na mesma cidade, agora o calendário passará por uma fase crítica.
“O deslocamento por aeroportos e hotéis é uma situação muito crítica porque você tem muita exposição ao vírus em salas de espera, recepções e restaurantes”, explicou o médico Estevão Urbano, também da SBI.
Na opinião do infectologista, inclusive, o maior perigo do Campeonato Brasileiro é fazer com que os jogadores se tornem vetores da doença. “Os atletas têm boa saúde e certamente vão se recuperar. O problema é na verdade o pai deles, alguém com comorbidade da família ou uma pessoa que possa ser contaminada porque está no mesmo hotel”, disse Urbano.
Apesar das preocupações, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mantém a realização do torneio e a aplicação de cuidados. Um desafio para o Brasileirão é continuar com os jogos espalhados por várias cidades, ao contrário do realizado por outras ligas.
MODELO NORTE-AMERICANO
Nos Estados Unidos, o campeonato local de futebol reuniu todos os times em um mesmo resort em Orlando para dispensar as viagens e criar com mais cuidado uma espécie de bolha de convivência. Já a China dividiu os participantes em duas sedes. A Liga dos Campeões terá nesta semana o início da fase final com os oito clubes restantes concentrados em Lisboa.
Os clubes e a CBF descartaram mudar o formato de disputa do Brasileirão e insistiram em disputar as 38 rodadas. Para infectologistas, a ideia de reunir os 20 times em um mesmo local seria positiva, porém a medida teria altos custos e não traria garantias de segurança.
“Por melhor que sejam os protocolos, eles não são 100% eficazes. Você não consegue deixar todos os jogadores presos em um mesmo local o tempo todo. Sempre vai ter algum furo”, disse o infectologista Marcelo Otsuka, também da SBI.