Ídolo do Bentão e do Nhô Quim, Gatãozinho está com o “coração dividido” na A2
São quase 400 jogos com a camisa dos clubes
Gatãozinho falou sobre sua história nos clubes e a expectiva para o confronto
Sorocaba, SP, 24 (AFI) – Neste sábado e terça-feira, Sorocaba e Piracicaba “vão tremer”! São Bento e XV de Piracicaba estarão frente a frente em 180 minutos por uma vaga na semifinal do Campeonato Paulista da Série A2. Mais duas histórias serão escritas do duelo apaixonante de um dos maiores clássicos do interior do estado de São Paulo, entre dois times de muita história, camisas tradicionais e “pesadas” no futebol paulista.
Dois times de torcidas pra lá de apaixonadas. Pura tradição e raça em campo. E em comum, esses dois times tiveram, entre vários craques, um grande ídolo. Um cara respeitado ao máximo com uma história marcante no time da Manchester Paulista e do Noiva da Colina: Uma unanimidade! Um ídolo de torcedores alvicelestes e quinzistas: José Fernando Naval. Ou simplesmente, Gatãozinho.
Com números espetaculares, o ex meio-campista, treinador, dirigente e hoje aposentado, deixou uma marca . Foram mais de 20 jogos na história do XV de Piracicaba e 367 jogos vestindo a camisa do São Bento. Marcas históricas e um carisma e simplicidade de impressionar! o “nome” Gatãozinho é unanimidade no Bentão, Nhô Quim e no futebol paulista.
CARREIRA
O meia esquerda Gatãozinho, ou José Fernando Naval, nasceu em Piracicaba em 11 de abril de 1953 (tem 68 anos hoje). Iniciou a carreira na base do Corinthians e jogou no XV de Piracicaba, São Bento Juventus e Bragantino entre 1971 e 1990. Seu pai, pai, Vicente Naval Filho, Gatão, de 1952 a 1955 fez 73 jogos no Corinthians como centroavante. E mais de 500 jogos pelo XV. O filho, Gatãozinho tem 367 jogos pelo São Bento, e mais de 300 jogos pelo Juventus.
O craque mora hoje em Piracicaba, e falou ao Futebol Interior, com exclusividade na véspera desta grande decisão entre seus ex-times. Nesta entrevista mais que especial para o FI, Gatãozinho, falou do passado, dos duelos que jogou por um lado e outro, gols marcados, o carinho do torcedor. E, claro, de sua expectativa sobre essas duas partidas que prometem muitas emoções no CIC e no Barão de Serra Negra. E ainda revelou que está bem à vontade, e quem vencer será merecido pois tratam-se de duas equipes e que estará com o “coração dividido”. Confira.
Futebol Interior – Você lembra quantos jogos você fez no Bento contra o XV e vice-versa?
Gatãozinho – Você sabe que eu joguei pelo XV contra o São Bento só duas partidas. Foram em Sorocaba e Piracicaba em 1973. Em 73 nós ganhamos por 2 a 1, e meu o meu irmão, Tatau, ponta esquerda fez um dos gols e o Renato fez o outro.
No outro jogo deve ter sido empate. Era um jogo que dava empate na maioria das vezes. Já no São Bento, contra o XV, eu acho que fiz uns 12 jogos, mas sempre, bem equilibrado, uma vez o XV ganhava, outra o São Bento.
Futebol Interior – E marcou gols nestes duelos?
Gatãozinho – Nas duas partidas que eu joguei pelo XV contra o São Bento eu não marquei gols, no 2 a 1 e no empate em Piracicaba, 0 a 0 ou 1 a 1, não me lembro. Agora, a favor do São Bento (contra o XV), devo ter feito um ou dois gols nestes 10 ou 12 jogos. Eu não era de fazer gols, pois jogava na época de volante (mas tarde se especializou como meia esquerda) , e a gente tinha um meia mais adiantado.
Um dos gols que eu fiz foi justamente num jogo aqui em Piracicaba. Por causa disso os caras (torcedores), xingaram meu pai (Vicente Naval, o Gatão), que estava assistindo o jogo.
Futebol Interior – Você está na história por ser um dos jogadores que mais vestiu a camisa do Bentão. Como é isso?
Gatãozinho – O saudoso Nilton Belo (in memorian), que era o secretário do São Bento, fez um levantamento que mostrou que eu joguei 367 jogos pelo clube. Algumas pessoas vieram depois de falaram que era 350. Eu fico com os dados do Nilton. É uma satisfação e orgulho ter vestido essa camisa por tanto tempo. Dizem que sou o que mais vestiu a camisa do clube, mas é um orgulho para mim.
Assim como nos deixa muito orgulhoso de como piracicabano ter vestido a camisa do XV. No XV eu marquei menos de dez gols, porque era uma época que os volantes pouco iam para o ataque e eu não era de fazer muitos gols. No São Bento não tenho ideia de quantos gols eu marquei nestes mais de 370 jogos.
Futebol Interior – Como era enfrentar XV e São Bento nesta pra você nesta época? Seu pai, Vicente Naval (ex-jogador Gatão), assistia seus jogos né?
Quando joguei pelo XV contra o São Bento no começo (1973), era eu primeiro campeonato e vi como um jogo normal, como se estivesse enfrentando Juventus, América, Botafogo, Comercial.
Eu sempre, tanto no XV como no São Bento, Juventus e outros times, eu sempre quis estar bem, jogar com regularidade, mostrar meu futebol, saber que tinha feito o melhor depois de sair de campo. Tanto que nos jogos contra o XV, principalmente em Piracicaba, eram jogos diferentes, mas sempre queria sair de campo consciente que tinha feito meu melhor. E tinha um aspecto especial.
Meu pai assistia todos os jogos. Ele (Vicente Naval), vestiu a camisa do XV, mais de 400 jogos, e mais de 200 gols no XV, e via os jogos lá na arquibancada vendo seu filho, jogando pelo São Bento e até às vezes marcando gol, ouvia muita coisa (dos torcedores) e sofria muito. Mas outro aspecto era que mesmo jogando contra o XV em Piracicaba, as rádios da cidade me elogiavam.
Como disse, independente do time eu procurava ser muito regular e me dedicava muito. Isso aprendi com meu pai.
Futebol Interior – Falando desta decisão, como você avalia? Fator torcida será importante num jogo tão igual?
Gatãozinho – Eu acho que a torcida é fundamental para incentivar os times em casa O jogador sente confiança quando tem a torcida do lado. Sobre vantagem, eu vejo que o XV tem uma mínima vantagem por poder decidir em casa e saber o que vai precisar no segundo jogo (terça-feira no Barão de Serra Negra).
É sempre bom decidir em casa do lado de seu torcedor. Por outro lado, tem muitos que acham que o melhor e fazer o primeiro jogo em casa, pois você pode fazer o resultado e se defender e administrar o segundo jogo fora. No caso do São Bento em casa se fazer um 2 a 0, pode fazer um bom jogo fora na volta.
No entanto, se o XV tiver um bom resultado em Sorocaba, pode complicar a vida do Bento em Piracicaba. Então, vai ser uma série decidida nos detalhes, em uma falha de um ou outro. Eu acho também é importante é ter uma arbitragem boa.
Estamos vendo muito juiz errando em lance que decide campeonato. Já as torcidas tem que ir a campo e apoiar seus jogadores. Serão dois jogos parelhos e que dificilmente vai ter um ganhador dos dois jogos.
Futebol Interior –Você tem acompanhado os trabalhos do Paulo Roberto e do Roberto Cavalo, treinadores desta decisão?
Gatãozinho – Eu não tenho ido muito aos campos ver os jogos, mas sabemos do trabalho de ambos, dois grandes técnicos e dos belos trabalhos que fazem. É uma briga difícil, entre dois técnicos muito competentes neste campeonato.
O Paulo Roberto tem o trunfo de conhecer mais a cidade, tem bons times, a torcida gosta dele, que já fez sempre boas campanhas. O Roberto Cavalo chegou a pouco mais de um mês a Piracicaba, não conhece tanto a torcida, mas sempre faz bons trabalhos, monta bons times.
O pessoal daqui de Piracicaba tem falado muito bem do trabalho do Roberto Cavalo, com quem já joguei contra, quando ele era do Criciúma e eu estava no Juventus, Bragantino.
Ele pegou um time já montado no decorrer do campeonato – sabemos que o todo treinador gosta de montar seu time. Ele é um técnico muito capacitado. Assim como o Paulo Roberto que montou o elenco desde o início. Colocaria ambos num grupo dos quatro ou cinco melhores treinadores da divisão hoje, mas para essas duas partidas, como já disse, não tem favorito, serão jogos definidas nos detalhes.
Futebol Interior – E o coração do Gatãozinho, como fica nesta hora? Mais azul e branco ou mais alvinegro?
Gatãozinho – Isso é interessante. Já tem muita gente falando aqui em Piracicaba que eu sou ídolo do São Bento e iria torcer pelo Bento nestas finais. Mas aí eu pra eles que estou numa situação confortável nestes jogos com relação ao resultado.
Eu tenho muitos bons motivos para torcer pelo São Bento e muitas boas razões para torcer pelo XV. Por isso eu fico em cima do muro (risos). E quem vencer e passar para a semifinal será justo.
E o certo é que teremos duas grandes partidas com grandes públicos destas duas grandes equipes de duas grandes cidades, pelas quais eu tenho muito carinho.
Futebol Interior – Você vai acompanhar os jogos, seja em Sorocaba ou Piracicaba?
Gatãozinho – Eu até queria, mas como operei os olhos de uma catarata na semana retrasada, eu tenho que ficar de molho, sabe? Eu sempre que posso vejo o pessoal de Sorocaba, que me convidam para eventos, como para abertura do Cruzeirão e outros. Agradeço o respeito que tanto Piracicaba no XV, como Sorocaba, no São Bento, tem por mim.
Eu fico muito orgulhoso porque eu fui um jogador que me dediquei na minha carreira. Além da carreira no São Bento e XV, eu joguei também quase 300 partida no Juventus, onde fiquei sete ano. Também tive uma boa passagem no Bragantino. Agradeço a todos pelo apoio que me deram em todos clubes e cidades por onde passei na minha carreira.