Há 24 anos morria Brasil de Oliveira, o melhor jornalista esportivo de Campinas
Há 24 anos morria Brasil de Oliveira, o melhor jornalista esportivo de Campinas
Há 24 anos morria Brasil de Oliveira, o melhor jornalista esportivo de Campinas
Foi-se o tempo em que a gente lembrava de pessoas que já se foram e ajudaram a escrever a história de Campinas, de uma forma ou de outra.
Pois este dez de setembro é data que marca as mortes do prefeito da cidade Antonio da Costa Santos, o Toninho, e o jornalista Brasil de Oliveira, conhecido à época como Brasa.
Toninho morreu há 19 anos, assassinado friamente após ter saído do Shopping Iguatemi.
Brasa morreu aos 46 anos de idade, em 1996, mas contava histórias do futebol com riqueza de detalhes, dando a impressão de que era um septuagenário.
INCOMPARÁVEL
A singularidade de Brasil de Oliveira no jornalismo esportivo de Campinas, distinguido como incomparável no segmento, me induz à reprodução de coluna que publiquei neste mesmo espaço há nove anos.
Tradução ao pé da letra do capítulo 17, versículo 16 do evangelho de João, da Bíblia Sagrada, em sermão de Jesus Cristo, é esse: ‘vivo no mundo, mas não sou do mundo’.
Na doutrina dos evangélicos pentecostais do passado, isso significava que membros daquelas comunidades deveriam ficar alheios às coisas materiais e terem apego apenas às espirituais.
CATÓLICO
Brasil Oliveira foi um católico praticante, devoto de Nossa Senhora Aparecida, todavia pode-se dizer que vivia no mundo, mas parecia um ser de outro mundo.
Por quê? Oras, você conhece alguém lúcido, sábio e comunicativo ser totalmente desprendido de bens patrimoniais?
ROUPA DO CORPO
Difícil, mas o Brasa era assim. E testemunhou isso no ar, na Rádio Central, um dos veículos de comunicação que trabalhava: “Meu patrimônio se resume a algumas anotações telefônicas, alguns livros e a roupa do corpo”.
Automóvel? Nem pensar. Quanto tinha dinheiro esbanjava, ao se transportar de táxi. ‘Durango’, como ocorria na maioria das vezes, usava ônibus ou apelava aos amigos para a carona.
Brasa era capaz de interromper o sono de amigo durante a madrugada.
PAPO FURADO
Assunto sério? Que nada. O telefonema, invariavelmente, era para ‘papo furado’.
E seus amigos entendiam que ele ficava atordoado com a solidão e o perdoavam.
Pronto, a humildade parava aí. Quando a discussão com amigos ou companheiros de trabalho se restringia ao seu ofício, o jornalismo esportivo, no alto de sua arrogância dizia que estava anos luz à frente dos jornalistas esportivos. “Só João Saldanha sabia mais que eu”, vangloriava-se
No quesito informação nem o falecido João Saldanha ganhava dele. Brasa era o Google da época, paradoxalmente sem ter relado o dedo em um computador. Tinha ojeriza pelo troço.
INFORMANTES
Ele conseguia dizer de cór e salteado o time do Juventude de Caxias do Sul, por exemplo.
Sua rede de informantes se estendia de Norte a Sul do país. ‘Tomava’ literalmente uma linha telefônica da sucursal da Agência Estado, em Campinas, e nem se importava com zunido.
Brasa era singular. Da mesma forma que contava cativantes histórias em botequim, se expressava no rádio. E no bar, antes mesmo de ser diagnosticado paciente cardíaco, detestava bebida alcoólica. Era um boêmio que varava madrugadas bebendo água Lindoia ou Coca-Cola.
Claro que também se empanturrava com guloseimas, contrariando prescrição alimentar de seu cardiologista.
Seu ponto de encontro preferido era o Largo do Rosário, área central de Campinas. E dali para o Éden Bar, em frente, local onde se falava de futebol, política e comportamento humano. Ali, frequentadores participavam de rodas pra se detectar quem sabia mais, quem tinha o raciocínio mais rápido.
POLÍTICA
Embora politizado, Brasa era avesso às discussões políticas. Provavelmente por conta de resquícios do tempo de estudante ativista, quando sofreu repressão da Polícia Federal, em São Paulo, no período da ditadura militar.
Por ter sido o mais badalado jornalista esportivo de Campinas da época, a cada aniversário de morte – neste 10 de setembro – seus amigos prestavam homenagem contando um pouco de sua história
O bom coração do Brasa espatifou em 1996, prestes a completar 47 anos de idade. E espatifou porque era desproporcional, enorme para comportar a legião de amigos.
CACHORRO MORTO
Como se vê, Brasa era diferente em quase tudo. Ensinava a seus discípulos que não se deve chutar ‘cachorro morto’. Alertava que o jornalista tem a obrigação de opinar sobre o perfil do jogador contratado por um clube, ou deve se calar para sempre. “Quem age de forma contrária é oportunista”, dizia.