Filó, o primeiro brasileiro campeão do mundo; pela Itália

Foi um dos poucos “destaques” de uma copa manchada pela propaganda e ameaças

O mundial de 1934 foi disputado todo em fase mata-mata e iniciou já nas oitavas de final

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São Paulo, SP, 24 – Conhecido celeiro de craques, o Brasil não só exporta jogadores para os clubes mais poderosos do mundo, como reforça muitas seleções com atletas naturalizados. Na Copa de 2022, teremos três: Pepe, Matheus Nunes e Otávio, todos por Portugal. Mas 92 anos antes um brasileiro naturalizado foi campeão por um escrete estrangeiro. Anfilóquio Guarisi Marques, que brilhou no futebol de São Paulo atuando por Portuguesa, Paulistano e Corinthians, levantou a taça da Copa do Mundo, então a lendária Jules Rimet, com a Itália em 1934. Foi um dos poucos “destaques” de uma copa manchada pela propaganda e ameaças a jogadores do regime totalitário de Benito Mussolini.

Ponta-direita rápido e habilidoso, “Filó”, como era conhecido, começou sua carreira na base da Lusa. Fez história no Campeonato Paulista ao marcar cinco gols no empate contra o Brás, por 5 a 5. Um ano depois, era convocado pela Seleção Brasileira, para a Copa América de 1925. Mas sua carreira com o time nacional acabaria após o vice-campeonato para a Argentina. Com pouco brilho, não foi mais lembrado pelo treinador Píndaro de Carvalho Rodrigues e ficou de fora da Copa de 1930.

A partir dali, começava sua história com a Azzurra. De 1929 a 1931, Filó se destacou com jogadas plásticas, dribles e artilharia no Corinthians. As exibições chamaram a atenção dos times do exterior, e ele se transferiu para a italiana Lazio. Filho de mãe italiana e pai português, se naturalizou. E não foi o único brasileiro: De Maria, Del Bebbio e Rato Castelli, seus companheiros de Corinthians, também foram para lá. Eles seriam comandados por Amílcar, que encerrava sua carreira no Palestra Itália (origem do Palmeiras). O “esquadrão” verde e amarelo ficou conhecido como “La Brasilazio”.

PROPAGANDA FASCISTA
O destaque de Filó, um dos artilheiros do time, rendeu a convocação para sua primeira Copa do Mundo, a de 1934, pela seleção italiana, comandada na época por Vittorio Pozzo. A jornada pela Azzurra fez parte de um esforço do regime fascista do ditador Mussolini de ganhar a Copa em casa, nem que pra isso fosse preciso “contratar” jogadores estrangeiros através de uma lei vigente que garantia dupla nacionalidade a filhos de italiano.

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Países sul-americanos, enfraquecidos pela saída de seus atletas com ascendência europeia, boicotaram o evento. O Uruguai recusou-se a defender a conquista de 1930 e o Brasil não mandou sua força máxima.

OBRIGAÇÃO
O mundial de 1934 foi disputado todo em fase mata-mata e iniciou já nas oitavas de final. Os estádios viraram palco de celebração do nacionalismo italiano e vencer o torneio passou a ser uma dura obrigação dos jogadores, que não necessariamente compactuavam com o regime. Há relatos até de ameaças de morte ao elenco: “Ou vocês ganham, ou terão que arcar com as consequências”, teria dito Mussolini.
Em campo, Filó começou como titular e ajudou na vitória por 7 a 1 sobre os Estados Unidos. Foi seu único jogo na competição. Ele não foi escalado nas fases seguintes, contra Espanha, Áustria e no duelo final, com a Checoslováquia.

Mesmo com apenas uma atuação, e o contestado cenário político, Filó entrou para história como parte do elenco que levantou a primeira taça do Mundo da Itália. Foi também o primeiro brasileiro a conquistar o título mais cobiçado do futebol, muito antes dos esquadrões de Pelé, Garrincha e companhia. Depois do título, retornou para o Corinthians em 1937 e defendeu o Palestra Itália de 1938 a 1940, quando encerrou a carreira com o nome marcado no futebol brasileiro.

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