ESPECIAL CHAPECOENSE: Os 25 dias da maior tragédia da história do futebol

Após uma ascensão espetacular, veio a dura queda, que deixou 71 mortos, mas o Índio Condá junta forças para o ressurgimento das cinzas

Veja como foram os 25 dias do maior acidente da história do futebol

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Campinas, SP, 24 (AFI) – Neste sábado, véspera de natal, completamos exatos 25 doloridos dias da maior tragédia do futebol mundial. A queda do voo da empresa boliviana LaMia, que levava a delegação da Chapecoense para a disputa da decisão da Copa Sul-Americana em Medellín, capital e maior cidade da Colômbia, interrompeu a vida de 71 pessoas, das quais 21 eram ou já haviam sido futebolistas – 19 estavam na ativa defendendo as cores da Chapecoense e outros dois aposentados, que já se aventuraram como treinadores. Também entre as vítimas estavam 17 pessoas da comissão técnica da equipe, oito dirigentes, 20 jornalistas e sete tripulantes do avião.

Em tempos críticos vividos pelo país do futebol, com vexames recentes da sua tão amada seleção canarinho, escândalos de corrupção em sua principal entidade organizadora e gestões que afundaram e endividaram clubes, a Chapecoense era um contraponto, um exemplo a ser seguido, uma mistura de uma gestão consciente e muito carisma, que levava um clube do patamar mais baixo do futebol nacional ao reconhecimento internacional em apenas seis anos.

ASCENSÃO DA SÉRIE D
A Chapecoense precisou de apenas uma chance para se lançar de vez no cenário nacional. Logo em 2009, no primeiro ano de existência da Série D do Campeonato Brasileiro (até então eram apenas três divisões), a Chapecoense chegou à semifinal e garantiu o acesso à Série C.

(Foto: AFP)

(Foto: AFP)

Na Terceira Divisão, a Chape não teve vida fácil e precisou se organizar por três anos para conseguir o acesso em 2012. A equipe parou nas quartas de final em 2010 e na 2ª fase em 2011, mas subiu ao ir até às semis em na terceira tentativa.

Já impaciente, o Índio Condá não quis perder tempo na 2ª divisão e conseguiu o acesso à elite do futebol brasileiro logo sua estreia na Série B. Já com nomes como Danilo Padilha, Bruno Rangel e Hyoran, que se tornaria mais tarde a transferência mais cara da história da equipe, a Chape conseguiu ótimas 20 vitórias em 38 jogos para segurar o vice-campeonato do torneio e ir à elite.

Se engana quem pensa que o carinho nacional pela Chapecoense veio após a tragédia. O carisma sempre esteve presente no jovem clube de apenas 43 anos de idade, da modesta cidade de Chapecó-SC. Com goleadas inusitadas sobre Palmeiras e Internacional, um tabu mantido de nunca ter perdido para o Fluminense em sua história, títulos catarinenses e jogadores alcançando sua melhor fase na carreira, a Chape cresceu rapidamente e, num piscar de olhos, estava diante do jogo mais importante de sua história, a final da Copa Sul-Americana, segunda competição mais importante do continente, contra o temível (nem tanto para o Índio Condá) Atlético Nacional.

A MAGIA DA ARENA CONDÁ
O clube catarinense provou também que um time aguerrido pode ir longe, compensando com força de vontade quando falta talento. Desde a sua estreia na Sul-Americana, a Chapecoense mostrou que estava em casa na Arena Condá. Com capacidade para cerca de apenas 23 mil pessoas, o estádio, que não poderia nem receber a decisão do torneio por ser pequeno demais, se tornou uma “fortaleza”, que levou o time à decisão sem seque precisar de nenhuma vitória fora de casa. Goleando ou tendo que segurar o 0 a 0, o Verdão fez o que era preciso em seu estádio para deixar pelo caminho Cuiabá, Independiente-ARG, Junior Barranquilla-COL e San Lorenzo-ARG.

(Foto: Divulgação / Francieli Constante / Site Oficial Chapecoense)

(Foto: Divulgação / Francieli Constante / Site Oficial Chapecoense)

MUITO APOIO À CAMPEÃ
E então o sonho terminou e veio o pesadelo. Que foi mais suportável porque o mundo do futebol se mobilizou, foi solidário e provou ser mais do que um esporte. O maior exemplo disso foi o próprio Atlético Nacional, que abriu mão do título imediatamente e pediu que a Conmebol reconhecesse a Chapecoense como campeã da Copa Sul-Americana 2016, o que foi atendido pela Confederação.

Mais! A torcida do clube colombiano lotou o estádio e seu entorno na noite em que ocorreria a final, para fazer uma linda homenagem, com direito à várias velas brancas e cantos. Em uma das músicas, a torcida atleticana prometia se lembrar para sempre da “campeã Chapecoense. Do mesmo jeito, lotados, ficaram a Arena Condá e o Estádio Couto Pereira, palco escolhido para ser o estádio da decisão, nos dois dias da final.

Os colombiano lotaram o estádio em Medellín no dia da primeira partida da final para homenagear a Chape

Os colombiano lotaram o estádio em Medellín no dia da primeira partida da final para homenagear a Chape

E as homenagens não pararam por aí e rodaram o mundo. Minutos de silêncio nas partidas ao redor do planeta foram respeitados impecavelmente, o símbolo verde do clube brasileiro foi estampado na camisa de times argentinos, franceses, ingleses e… Além disso, algumas equipes fizeram convites para amistosos, ofereceram jogadores por empréstimo e ídolos do futebol mundial vieram ao Brasil para o velório das vítimas. Os torcedores também fizeram sua parte, o número de sócios do clube subiu gradativamente e as camisas esgotaram.

A RECONSTRUÇÃO COMEÇA
“Aceitamos ajuda, mas não queremos que sintam pena da gente”, essa seria mais ou menos a postura dos que permaneceram na diretoria da Chape, que mesmo em situação desesperadora, afirmou que manteria a filosofia de contratações que a equipe defendeu nos últimos anos. Muitos clubes se ofereceram para ajudar, mas não disponibilizaram jogadores interessantes para o Verdão e a ajuda não foi bem vinda. Mas, na última semana, os novos nomes começaram a aparecer.

O primeiro passo da reconstrução da equipe veio com um “não”. Levir Culpi se ofereceu para comandar a Chape durante o estadual e, certa de que queria um treinador para a temporada inteira, a Chapecoense recusou e acertou com Wagner Mancini, que, segundo o diretor-executivo Rui Costa, era sonho antigo do clube.

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Após o treinador, que foi montando a sua comissão técnica, foi a vez dos primeiros reforços, que até agora são: o goleiro Elias, do Juventude, o zagueiro Douglas Grolli, do Cruzeiro, o meia Dodô, do Atlético-MG, o atacante Rossi, do Goiás, o volante Moisés, do Grêmio, e o atacante Wellington Paulista, do Fluminense.

CHANCE DE UM RECOMEÇO PARA OS SOBREVIVENTES
Dos seis sobreviventes, três são jogadores da Chapecoense: o goleiro Jackson Follmann, o lateral-esquerdo Alan Ruschel e o zagueiro Neto. Desses, Neto e Alan Ruschel já apresentaram melhoras consideráveis e os médicos trabalham com a possibilidade de retorno de ambos aos gramados. Já o goleiro Jackson Folmann precisou amputar uma perna e ainda sofre com os traumas da cirurgia. Sem condições de retornar a jogar, o goleiro já teve as portas abertas pela Chapecoense, que afirmou querer o jogador na vida da equipe e que arrumará um cargo para ele no clube. O jornalista Rafael Henzel, também sobrevivente, já teve alta e disse se sentir na obrigação de narrar o primeiro jogo da Chapecoense em 2017.

AINDA VEM MUITA EMOÇÃO POR AÍ
A temporada 2017 será uma temporada de emoções conflitantes para a Chape e alguns jogos já prometem ser difíceis de segurar as lágrimas. Além de ter ganho uma vaga na fase de grupos da próxima Libertadores, na qual terá pela frente Nacional-URU, Lanus-ARG e ZuliáVEN, o clube catarinense disputará a Recopa Sul-Americana, diante do próprio Atlético Nacional, que venceu a Libertadores em 2016. Além disso, a seleção brasileira fará um amistoso contra a Colômbia, do qual toda a renda será destinada para o clube de Chapecó.

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O QUE ACONTECEU NA NOITE DO TERROR
A tragédia aconteceu no início da madrugada de terça-feira, dia 29 de novembro. Tudo começou quando a aeronave deixou Santa Cruz de la Sierra (Bolívia) rumo a Medellín na noite de segunda-feira. À 0h48 (horário de Brasília), a tripulação do voo Avro RJ-85 pediu prioridade para pousar, alegando falta de combustível. À 0h52, o piloto declarou situação de emergência. Segundo especialistas, a aeronave da Chapecoense estava sem combustível nenhum no momento da queda, o que é constatado como “pane seca”, já que a falta de combustível faz parar os sistemas elétricos do avião. A decisão dos donos da empresa LaMia de não fazer uma parada a mais para reabastecer foi o motivo da insuficiência de combustível, já que chegariam no destino “no limite”, como costumavam fazer e economizariam algum dinheiro. Após se chocar contra a montanha, a aeronave caiu a 17 km do aeroporto José María Córdova.

#FORÇACHAPE
“Acordei e pensei: estou indo para a Arena Condá e quero abraçar cada torcedor que estiver lá. Ali que vou encontrar minha força. Agora sou mãe de todos eles”, disse dona Alaíde, mãe do goleiro Danilo, antes de abraçar o repórter Guido Nunes, do SporTV, que não resistiu aos choros.

VEJA TODOS OS 77 PRESENTES NO VOO

JOGADORES:
1. Danilo (goleiro)
2. Gimenez (lateral)
3. Bruno Rangel (atacante)
4. Marcelo (zagueiro)
5. Lucas Gomes (atacante)
6. Sergio Manoel (meio-campista)
7. Filipe Machado (zagueiro)
8. Matheus Biteco (meio-campista)
9. Cleber Santana (meio-campista)
10. Alan Ruschel (lateral – SOBREVIVENTE)
11. William Thiego (zagueiro)
12. Tiaguinho (meio-campista)
13. Neto (zagueiro – SOBREVIVENTE)
14. Josimar (meio-campista)
15. Dener Assunção (lateral)
16. Gil (meio-campista)
17. Ananias (atacante)
18. Kempes (atacante)
19. Jackson Follmann (goleiro – SOBREVIVENTE)
20. Arthur Maia (meio-campista)
21. Mateus Caramelo (lateral)
22. Aílton Canela (atacante)

COMISSÃO TÉCNICA
23. Caio Júnior (técnico)
24. Eduardo de Castro Filho, Duca (auxiliar técnico)
25. Luiz Grohs, Pipe (analista de desempenho)
26. Anderson Paixão (preparador físico)
27. Anderson Martins, Boião (preparador de goleiros)
28. Dr. Marcio Koury (médico)
29. Rafael Gobbato (fisioterapeuta)
30. Cocada (roupeiro)
31. Sergio de Jesus, Serginho
32. Adriano
33. Cleberson Silva
34. Mauro Stumpf, Maurinho (vice-presidente de futebol)
35. Eduardo Preuss, Cadu Gaúcho (diretor)
36. Chinho di Domenico (supervisor)
37. Sandro Pallaoro
38. Cezinha
39. Gilberto Pace Thomas, Giba (assessor de imprensa)

DIRETORIA
40. Nilson Folle Júnior
41. Decio Burtet Filho
42. Edir de Marco (diretor)
43. Ricardo Porto (diretor)
44. Mauro dal Bello (diretor)
45. Jandir Bordignon (diretor)
46. Dávi Barela Dávi (empresário)
47. Defim Peixoto Filho (vice-presidente da CBF e presidente da Federação Catarinense)

IMPRENSA
48. Victorino Chermont (Fox Sports)
49. Rodrigo Santano Gançalves (Fox Sports)
50. Deva Pascovich (Fox Sports)
51. Lilacio Júnior (Fox Sports)
52. Paulo Julio Clement (Fox Sports)
53. Mario Sergio Pontes de Paiva (Fox Sports e ex-jogador)
54. Guilherme Marques (Globo)
55. Ari de Araújo Júnior (Globo)
56. Guilherme Laars (Globo)
57. Giovane Klein (repórter da RBS TV de Chapecó)
58. Bruno Mauro da Silva (técnico da RBS TV de Florianópolis)
59. Djalma Araújo Neto (cinegrafista da RBS TV de Florianópolis)
60. André Poliacki (repórter do Globo Esporte)
61. Laion Espindula (repórter do Globo Esporte)
62. Rafael Henzel (rádio Oeste Capital – SOBREVIVENTE)
63. Renan Agnolin (rádio Oeste Capital)
64. Fernando Schardong (rádio Chapecó)
65. Edson Ebeliny (rádio super Condá)
66. Gelson Galiotto (rádio super Condá)
67. Douglas Dorneles (rádio Chapecó)
68. Jacir Biavatti (comentarista RIC TV e Vang FM)

TRIPULAÇÃO
69. Miguel Quiroga (piloto)
70. Ovar Goytia
71. Sisy Arias
72. Romel Vacaflores (assistente de voo)
73. Ximena Suarez (aeromoça – SOBREVIVENTE)
74. Alex Quispe
75. Gustavo Encina
76. Erwin Tumiri (técnico da aeronave – SOBREVIVENTE)
77. Angel Lugo