Em Catanduva, padre reza missa, administra a cidade e dirige um time de futebol

Ele é o clérigo mais famoso da cidade e, talvez por isso, tenha sido eleito prefeito do município em 2020 pelo PSDB com 20.981 votos

Osvaldo de Oliveira Rosa
Foto: Reprodução

Catanduva, SP, 19 – Em Catanduva, no noroeste do Estado de São Paulo, a 385 quilômetros da capital, há poucas pessoas mais conhecidas que Osvaldo de Oliveira Rosa, 55 anos, um padre que não se limita às atividades paroquiais. Ele é o clérigo mais famoso da cidade e, talvez por isso, tenha sido eleito prefeito do município em 2020 pelo PSDB com 20.981 votos.

Em meio aos desafios de administrar uma cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, padre Osvaldo dirige o Catanduva FC, clube que fundou em 2017 a partir de um projeto social que mantinha com 300 garotos desde 2011.

PAIXÃO

Em um aparador em seu amplo gabinete na prefeitura da cidade, imagens de Nossa Senhora da Aparecida e outros santos dividem espaço com troféus, copos do Palmeiras e outros itens futebolísticos, o que demonstra quais são as prioridades de Osvaldo, um sacerdote que exerce o ofício há 23 anos e é apaixonado por futebol. O religioso acorda cedo, reza todos os dias missa na capela Padre Albino e depois cumpre agenda como gestor da cidade. Despacha de sua sala e recebe dezenas de visitas todos os dias, mas não esquece dos assuntos ligados ao Catanduva FC. “Estou a par de tudo que acontece”, conta Osvaldo ao Estadão.

CATANDUVA

O Catanduva FC, cujo mascote é um santo, está inscrito na Federação Paulista de Futebol (FPF) e disputa a Segundona, equivalente à quarta divisão estadual, um campeonato pródigo em histórias peculiares envolvendo pequenos times. Neste ano, a equipe do padre sonha em conseguir seu primeiro acesso, ainda que o seu fundador e os dirigentes digam que o objetivo principal é dar oportunidade para jovens talentos, desde a base, e revelar atletas.

“Eu penso em fazer um time bom, de qualidade, para poder revelar atletas e ter recursos no futuro”, diz. Segundo ele, o clube nasceu com caráter social. “A intenção foi fazer com que os jovens da região pudessem mudar de vida por meio do futebol”, explica.

O clube tem como presidente Ernesto Pedro de Oliveira Rosa, irmão de Osvaldo. Embora seja fundado e administrado por dois párocos, a agremiação não proíbe manifestações religiosas nem apresenta uma cartilha nesse sentido para os jogadores seguirem. No entanto, de acordo com Osvaldo, o clube existe também para “acolher e semear valores humanos e cristãos”.

INVESTIMENTO PESADO

O cartola investiu cerca de R$ 1 milhão entre gastos com as categorias de base e a montagem do elenco profissional. “Se quiser montar um time para subir, preciso gastar R$ 2 milhões”, avisa, ciente de que ascender de divisão é um sonho distante para o time. O plano é desenvolver as categorias de base e jogar a Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2023. No horizonte está o pensamento de formar jovens talentosos para lucrar com eles no futuro.

A agremiação sobrevive com dinheiro do próprio padre e de patrocinadores. Mas o que é mais difícil: administrar a cidade do interior paulista ou o clube? “Na administração pública, os problemas são maiores. No time, o mais difícil é arranjar recursos. Fazemos parcerias, temos patrocinadores. A gente tem que se virar”, observa o padre-cartola-prefeito. Ele entende que o sucesso na gestão, seja em qual área for, passa por “princípios, metas e uma boa equipe”.

O “Santo” estreia na segunda divisão paulista dia 22 de Abril, às 20h, contra o Penapolense.

ELEITO COM APOIO DE DORIA

Padre Osvaldo foi eleito com apoio de um grupo de políticos ligado ao governador João Doria. O padre recebeu do PSDB o convite para se filiar ao partido e disputar as eleições em Catanduva. A ideia para lançar o sacerdote na política partiu de Marco Vinholi, presidente do PSDB-SB, filho do ex-prefeito da cidade, Geraldo Vinholi, e secretário de Desenvolvimento Regional de São Paulo. Só aceitou porque, segundo ele, o bispo Dom Valdir Mamede lhe convenceu e sua candidatura era bem avaliada pela população.

“Nunca tive pretensão de entrar na política. Foi um contexto. O bispo me chamou e apresentou uma situação. Me disse: ‘Catanduva está em descrédito político muito grande. Está com problemas sociais. Pense no bem do povo'”, afirma o prefeito, que diz estar “destravando” o município e trabalhando para levantar a autoestima do catanduvense. Na campanha eleitoral, ele tentou dissociar sua imagem de Doria e da família Vinholi, mas mudou a postura assim que foi eleito.

O tucano topou o desafio de virar chefe do Executivo municipal também porque não teve de abrir mão das atividades como padre. “Foi um chamado por meio da igreja. Se tivesse que largar a igreja eu não me candidataria”. Insatisfeito com a mentalidade política no País, Osvaldo não sabe se tentará a reeleição em 2024. “A gente consegue ter mudanças pontuais. Há bons deputados, governadores, prefeitos. Mas o sistema é complicado. O sistema é doentio”, opina.

Na semana passada, Doria visitou Catanduva pela primeira vez durante a gestão de Osvaldo e se encontrou com o prefeito. O governador foi ao município do interior para entregar uma unidade do Programa Creche Escola e autorizar repasse de R$ 13,5 milhões para o Hospital do Câncer da cidade.

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