Eliminatórias: Argentinos têm apoio do embaixador para deixar o Brasil e entram na mira da PF

Dois dos jogadores já vão retornar para a Europa

Guerra de bastidores sem fim

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Jogo foi interrompido logo após seu início - Getty Images

Campinas, SP, 6 – A Polícia Federal vai investigar os quatro atletas da seleção argentina que descumpriram a quarentena em território brasileiro e, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), infringiram a lei sanitária do País. Eles e toda a delegação argentina deixaram o Brasil na noite de domingo, horas depois da suspensão do clássico válido pela sexta rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo do Catar.

INVESTIGAÇÃO

Emiliano Martinez, Emiliano Buendia, Giovani Lo Celso e Cristian Romero não prestaram depoimento, mas foram ouvidos por policiais federais em termos de declarações no pavilhão de autoridades do Aeroporto de Guarulhos antes de deixarem o Brasil. Existia a possibilidade de o quarteto ser deportado, mas isso não aconteceu.

No entanto, nesta segunda-feira, a Polícia Federal instaurou inquérito para investigar suspeitas de falsidade ideológica por parte de jogadores da seleção argentina.

DISPENSA E PUNIÇÃO

Martínez e Buendía foram dispensados da seleção em acordo com o técnico Lionel Scaloni e não encaram a Bolívia, na sexta-feira. Os atletas do Aston Villa vão retornar à Europa pela Croácia, passando antes em Madrid, para evitar um isolamento obrigatório de 10 dias num hotel da Inglaterra a quem regressa de países da lista vermelha. Já Lo Celso e Romero permanecem com o grupo, mas devem ser punidos pelo Tottenham por causa do episódio e por viajarem sem liberação do clube.

A seleção argentina deixou a Neo Química Arena às 19h15 do domingo, bem depois dos jogadores do Brasil, que, com a suspensão do jogo, treinaram na arena do Corinthians e empolgaram os convidados que permaneceram no estádio.

Em Guarulhos, os argentinos tiveram o apoio do embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, para regressar ao país vizinho. Ele estava na Neo Química Arena e, no aeroporto, acompanhou os atletas na conversa com os policiais e até mesmo na passagem pelo detector de metais.

ENTENDA O CASO

A delegação argentina entrou no Brasil às 8h da última sexta-feira. Foi ali que se originou todo o problema. Naquele dia, a Anvisa disse que identificou que quatro jogadores que atuam em clubes ingleses “prestaram informações falsas”. Segundo o órgão sanitário, na declaração de saúde do viajante apresentada às autoridades, Martinez, Buendia, Lo Celso e Romero teriam omitido que estiveram no Reino Unido nos últimos dias.

A portaria interministerial nº 655, de junho de 2021, estabelece que viajantes estrangeiros que tenham passagem, nos últimos 14 dias, por Reino Unido, África do Sul, Irlanda do Norte e Índia estão obrigados a cumprir quarentena para evitar a disseminação de novas variantes do coronavírus.

Os quatro atuaram em partidas do Campeonato Inglês entre os dias 28 e 29 de agosto. A entrada deles no país foi considerada ilegal, e a Anvisa notificou a Polícia Federal orientando medidas que impeçam a circulação dos argentinos.

Horas depois da interrupção da partida na Neo Química Arena, a Anvisa publicou uma nota esclarecendo que se reuniu com representantes da CBF, Conmebol e da delegação argentina no sábado, e recomendou a quarentena dos quatro jogadores argentinos que não haviam cumprido os protocolos sanitários. Entretanto, os atletas seguiram para a partida. Após o episódio, a entidade máxima do futebol brasileiro se disse “surpresa” com a ação.

De acordo com a agência, as tentativas para que os atletas cumprissem o período de isolamento foram frustradas desde a saída da delegação argentina do hotel à Neo Química Arena. Uma intervenção no vestiário também foi tentada, mas sem sucesso. O capitão Lionel Messi disse no vestiário que, se o quarteto fosse impedido de jogar, o time não entraria em campo.

Aos cinco minutos de jogo, agentes da Polícia Federal e da Anvisa entraram em campo para interromper o duelo. Os jogadores da Argentina se dirigiram ao vestiário e a partida foi paralisada e, posteriormente, suspensa.

ANVISA

“Desde o instante em que tomou conhecimento da situação irregular dos jogadores – no mesmo dia da chegada da delegação – a Anvisa comunicou o fato às autoridades brasileiras em saúde, por meio do CIEVS – o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde”, disse o órgão sanitário.

“A ação da Anvisa, em síntese, se limitou a buscar o cumprimento das leis brasileiras, o que se limitaria à segregação dos jogadores e as suas respectivas autuações”, acrescentou a agência, em comunicado.

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que apoia as recomendações da Anvisa em relação aos jogadores argentinos. “O Ministério da Saúde informa que apoia e reconhece as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autoridade em saúde responsável pelas ações de vigilância sanitária do país.”

AFA E TÉCNICO ARGENTINO

Por outro lado, Associação do Futebol Argentino (AFA) negou que tenha recebido qualquer notificação da Anvisa, e ressaltou que a delegação cumpriu “todos os protocolos sanitários em vigor regulamentados pela Conmebol para realização das Eliminatórias”. O presidente da entidade Claudio Tapia lamentou o episódio.

“O que aconteceu hoje é lamentável para o futebol, é uma imagem muito ruim. Quatro pessoas entraram para interromper o jogo para fazer uma notificação e a Conmebol pediu aos jogadores que se dirigissem ao vestiário”, disse o dirigente.

O técnico Lionel Scaloni reforçou que os quatro jogadores não foram avisados da proibição de jogar. “Em nenhum momento nos notificaram que não podiam jogar a partida. Queríamos disputar o duelo, e os jogadores do Brasil, também”. “Fico muito triste. Não procuro culpado. Se algo aconteceu ou não aconteceu, não era momento para intervir”, reclamou o treinador.

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