E agora, José ?

O rei do futebol pegou uma carona com o melhor treinador do país e rumou à Brasília para falar com o ex-presidente da UNE, atual Ministro dos Esportes.

O rei do futebol pegou uma carona com o melhor treinador do país e rumou à Brasília para falar com o ex-presidente da UNE, atual Ministro dos Esportes.

Pelé e Vanderlei Luxemburgo foram contar para Orlando Silva Jr. o que este corajoso PORTAL contou para seus leitores desde o primeiro dia em que a Lei que pôs fim ao passe dos jogadores entrou em vigor: que ela iria acabar com o futebol brasileiro.

Éramos, então, apenas nós – e durante muito tempo somente nós – quem alertava para aquilo que quem enxerga um palmo à frente do nariz (mesmo sendo um nariz feio, sujo e grande como o de José) já sabia: a Lei Pelé era uma porcaria. De qualquer ângulo que você a analisasse, ela não passava de uma imensa besteira.

Retirando o único ativo financeiro que os clubes de futebol possuíam, a bendita Lei foi feita por quem não sabe a diferença entre fatura e duplicata, a não ser que ela seja uma fatura emitida contra a Pelé Sports para cobrar reportagem publicada na revista Playboy. (Quer dizer, o cara escreve em revista de mulher pelada, só faz entrevista de oba-oba, é, então, naturalmente mandado embora, como de todos os outros empregos anteriores e quer ser levado a sério??!!).

Depois de minha pioneiríssima coluna a respeito dos absurdos da Lei Pelé no FUTEBOL INTERIOR e da escorreita postura editorial do PORTAL, que sempre me apoiou, aos poucos, “a visão foi clareando, a visão foi clareando, até que um dia”, o Brasil acordou.

Dalmo Pessoa analisou com brilhantismo a merda da Lei, João Zanforlim, jornalista e especialista em Direito Esportivo escreveu, deu palestras e esclareceu a respeito dos despropósitos da dita cuja, o advogado e professor Piracy de Oliveira escreveu um definitivo livro a sobre a aberração jurídica na qual ela se constituía.

Quanto mais os efeitos maléficos da Lei ficavam comprovados, mais juristas conceituados se manifestavam, invariavelmente indignados: o advogado gaúcho Celso Rodrigues se estarreceu com o texto, o estudioso advogado João Bosco, vice-presidente do Goiás, também.

A promulgação da lei 9.615/98 surpreendia pela idiotice a todos que a analisavam a sério.

Já os dirigentes, mesmo alertados pelas minhas colunas, eram lerdos e demoraram a entender o estrago que a Lei causava. Alguns, por burrice mesmo, outros porque procuravam brechas para se locupletarem da confusão que ela causava e das lacunas que abria, permitindo um sem número de falcatruas, principalmente nas chamadas divisões de bases dos clubes.

Os dirigentes honestos, sim, felizmente eles existem e não são poucos, apenas ficavam estupefatos com a desonestidade que a Lei continha.

Só quem batia palma para o mostrengo eram o advogado que ajudou a redigi-la e que, ato contínuo montou com o pelego presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais e com uma ex-sócia, um plano de verdadeira extorsão aos clubes. Gente da melhor qualidade, como se vê.

E havia ainda os outros grandes beneficiários, os empresários de jogadores, aquela casta que pretendia simplesmente substituir os clubes. Ocupar o espaço das entidades que criaram o esporte no país, possuem alguns mais de cem anos de existência e investiram tempo e milhões de reais para construir patrimônio, currículo e valor de marca.

Um alto negócio para os empresários que, sem por nenhum, ficam, enquanto a Lei Pelé vigorar, com a produção dos clubes.

Para encurtar a conversa e saber quem são estes empresários, basta dizer que os dois principais do país acabaram presos logo a seguir a Lei Pelé entrar em vigor.

E que o advogado que ajudou a redigi-la e sua ex- sócia (ex?) estão hoje desmoralizados no meio esportivo.

E é este tipo de pessoas e a seus interesses que o José defende com unhas e dentes. Da maneira histérica e irresponsável de sempre.

Aos poucos nomes de dentro campo, treinadores e jogadores, insuspeitos portanto, começaram a perceber que alguma coisa estava muito, muito errada com a Lei Pelé.

Elitista, ela diminui galopantemente o mercado de trabalho, mata a galinha dos ovos de ouro, diminui a paixão dos torcedores que já não conseguem identificar quais os craques de seus times, tal a velocidade do turn-over de jogadores que se implantou nas agremiações.

Dos famosos, Roberto Rivelino foi o primeiro que alertou, Felipão, simplesmente o técnico campeão do mundo em 2002, um dos mais recentes.

Felizmente não existe hoje ninguém sério no futebol brasileiro que defenda a Lei Pelé.

Faltava aquele que lhe deu o nome. Que mesmo tardia, pública e pateticamente acaba de ir expiar a própria culpa com o Ministro dos Esportes.

Lamento constatar, mas depois da promulgação da Lei Pelé nenhuma transação de peso no futebol brasileiro foi realizada sem confusão, sem aspectos nebulosos nos contratos, sem comissões pagas a um, dois, três, quatro intermediários.

Desafio você, meu caro leitor, após o advento da Lei Pelé, a apontar um exemplo, um exemplo que seja, de negociação de vulto em que o clube formador não fosse prejudicado (quando não levasse completo totó) na venda de um jogador de nível de seleção brasileira.

Denilson, um bom atacante do São Paulo, mas apenas isso, um bom atacante, foi vendido por 35 milhões de dólares quando a Lei do passe existia!

Kaká, sem dúvida nenhuma, a maior revelação do São Paulo Futebol Clube, desde 1935, foi vendido por 8 milhões de dólares, sob a Lei Pelé. 27 milhões a menos que seu colega Denílson! E se o tricolor não o fizesse rápido não ganharia nada dali a alguns meses na venda de Kaká.

É necessário dizer mais alguma coisa?

Talvez falte uma, sim: um dos maiores crimes que a Lei Pelé propicia é o verdadeiro mercado negro de meninos brasileiros que estão indo para o exterior, assim que dão os primeiros chutes numa bola de futebol. Garotos de 14, 15 anos de idade são “comprados” por empresários por quaisquer 20, 30 mil reais e jogados na Europa para tentar a sorte. Sem nenhuma sustentação, muitas vezes sem nenhum apoio. Há dezenas de denúncias a respeito, inclusive no Ministério Público, para quem se interessar pelo assunto.

Mas sobre esse verdadeiro horror, o José, porta-voz oficial da Lei Pelé, tão falsamente investigativo, permanece em total silêncio.

Mas é compreensível.

Como exigir preocupação com o futuro de crianças a quem, ao lado de outras trocentas ações pelos quais responde como réu nas Justiças Cível e Criminal, já foi processado até mesmo por falta de pagamento de pensão alimentícia a menor?

E agora, José?

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