'Dunga foi condenado pela imprensa, mas não é essa pessoa sisuda', diz diretor de série
A minissérie documental "Brasil vs Dunga - Futebol em Pé de Guerra", dirigida por Fernando Acquarone, estreia às 20 horas desta quinta-feira, no SporTV
No primeiro episódio do documentário, Dunga conta que ficou tão triste que, ao voltar para o Rio Grande do Sul
Campinas, SP, 19 – Dunga foi o melhor jogador da final da Copa de 1994, contra a Itália, e ergueu a taça como capitão da seleção brasileira com um sorriso no rosto, imagem que está gravada na história do futebol. É comum, contudo, que as pessoas lembrem do ex-volante como uma pessoa mal-humorada, muito em razão da memória mais recente do embate entre ele e parte da imprensa durante a Copa do Mundo de 2010, quando era treinador do Brasil.
Desmistificar essa visão que se tem a respeito do capitão do tetra é um dos objetivos da minissérie documental “Brasil vs Dunga – Futebol em Pé de Guerra”, dirigida por Fernando Acquarone, que estreia às 20 horas desta quinta-feira, no SporTV. A produção mostra, em três episódios, a redenção do ex-jogador, que teve de lidar com críticas públicas desde a Copa de 1990, na qual foi apontado como o rosto do fracasso brasileiro pela mídia e torcedores.
“Dunga é um cara que sempre apanhou, desde criança foi desacreditado. Como jogador foi condenado pela imprensa. Isso nunca vai sair. O rancor é difícil de sumir da noite para o dia”, diz Acquarone ao Estadão. “A gente tem essa imagem dele, de ser uma pessoa bronca, sisuda. Mas ele foi super aberto. Acho que ninguém tinha perguntado antes. Essa relação com a imprensa para ele foi muito difícil. A gente explora isso no nome da série. Isso já dá o clima da batalha que o Dunga travou tanto com torcedores quanto com a imprensa”, afirma.
Os dedos apontados após 1990 tiveram impacto profundo no gaúcho de Ijuí. O período iniciado ali e encerrado apenas com o tetra, em 1994, foi chamado pela imprensa de “Era Dunga”, para dizer que o Brasil não jogava mais o futebol ofensivo pelo qual era conhecido e havia se tornado cauteloso, defensivo.
“Muita gente questiona a qualidade técnica do Dunga. Esse lance do futebol retranqueiro. Você não passa quatro décadas na seleção brasileira, sendo juniores, ganhando Copa América em 1989, indo para três Copas do Mundo, ganhando Copa das Confederações como treinador, sendo um pereba”, pontua o diretor.
No primeiro episódio do documentário, Dunga conta que ficou tão triste que, ao voltar para o Rio Grande do Sul depois da eliminação para Argentina nas oitavas de final, bebeu noite adentro ao lado do pai e passou mal no dia seguinte.
Em outro momento, ele revela o quanto foi afetado pela situação. “Depois da Era Dunga, um negócio estranho comigo. Quando eu vejo uma câmera, uma máquina fotográfica, dificilmente eu consigo sorrir. Já me dá um negócio psicológico. Aí depois que sai a câmera, já começam a dar risada: ‘por que com a câmera você não dá risada?’. Pode ser um bloqueio, conseguir viver com isso é muito difícil”, diz o ex-volante.
A série conta o início do capitão do tetra no futebol e mostra que desde criança ele foi desacreditado por causa de suas características físicas. Mesmo assim, construiu o que Acquarone chama de uma “relação umbilical” com a seleção brasileira, que começou ainda nos juniores e passou por três Copas do Mundo como jogador (1990, 1994 e 1998) e uma como treinador, em 2010.
“A série resgata essa história de superação, de um jogador dedicado. O apelido dele é Dunga, já é uma superação. Imagina, ele era baixinho, gordo, perna torta, orelhudo, ninguém acreditava que ele fosse ser jogador de futebol. Sempre remou contra a maré, é um cara que nunca desistiu. A minissérie explora esse arco dramático”, diz Acquarone.
“O Dunga é um jogador que sempre dividiu opiniões, mas, entre os jogadores, ele sempre foi unanimidade. Isso é muito legal. A gente explora essa relação com a amarelinha. Quando você pensa no Dunga, ele inevitavelmente está de amarelo. É um relação parecida com a do Zagallo”, conclui.
DUNGA E CONSCIÊNCIA SOCIAL
A produção também mostra a consciência social do ex-jogador. Foram gravadas ações com uma visita ao Quilombo Santa Luzia, na periferia de Porto Alegre, conhecido por prestar apoio à comunidade LGBT+ e liderado por Morgana Alves.
Dunga esteve no local para distribuir cestas básicas. “Ele é consciente que cada pessoa tem sua própria história, escolhas e dores. Ele não tem preconceito, enxerga o ser humano de igual para igual. Desmistifica totalmente essa imagem que a imprensa vem passando há anos”, afirma Acquarone.
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O legado de Dunga no futebol italiano é outro objeto da série. O italiano Roberto Baggio, que foi companheiro do ex-volante na Fiorentina e se tornou rival na final da Copa de 1994, é um dos entrevistados e relembra alguns episódios divertidos, como quando pediu ao amigo brasileiro se havia como aprender a batida de falta de Zico.
“O interessante é que os dois moravam na mesma casa. Uma casa de dois andares com suas famílias. Eles viviam juntos. Tinham um companheirismo gigante. Foi muito difícil para eles depois quando se reencontraram na final de 94, pela amizade e carinho que cada um tem. Depois da cobrança de pênalti, você vê que eles estão abraçados.”
Baggio perdeu o pênalti que decretou o tetra brasileiro, e a imagem é a mais lembrada por ser a última ação da partida. A cobrança anterior, contudo, foi de Dunga. Se ele perdesse aquele pênalti, sabia que daria argumentos aos criadores da “Era Dunga”, por isso Acquarone acredita que este seja o ponto mais dramático da carreira do tetracampeão. “Imagina o que acontece se ele erra aquele pênalti. A pressão era colossal. O próprio Dunga lembra que a caminhada até a marca parece interminável.”
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