'Dibu' Martínez quase desistiu do futebol e hoje é ídolo da seleção Argentina
O goleiro que defendeu duas cobranças nos pênaltis e colocou a seleção na semifinal da Copa
Na fila do metrô de Doha, depois da vitória sobre a Holanda, centenas de argentinos cantavam alto. O craque Lionel Messi era o mais celebrado, é claro. Mas ele não estava sozinho nessa. Também festejavam muito Emiliano Martínez, o goleiro que defendeu duas cobranças nos pênaltis e colocou a Argentina na semifinal da Copa do Mundo do Catar.
Martínez vive um sonho no Catar que até pouco tempo atrás era impensável para um goleiro pouco conhecido. A Covid-19 contribuiu para essa jornada de brilho. O então titular da meta argentina, Franco Armani, contraiu a doença e se afastou dois dias antes da Copa América de 2021.
Martinez assumiu a titularidade e não a perdeu mais. Ganhou a confiança do técnico Lionel Scaloni com boas exibições e, em um ano, passou de figura desconhecida a protagonista da seleção argentina. Brilhou no título da Copa América, consolidou sua importância na Copa do Mundo e se tornou um dos destaques do torneio.
A idolatria com a torcida foi conquistada com as defesas, mas também graças ao seu comportamento. Ele é um dos que mais defendem o grupo nas brigas e discussões de campo. Foi o que fez no quente duelo com a Holanda nas quartas de final desta Copa.
“Eu te ferrei duas vezes”, exclamou ele, sem camisa, antes de ser contido por membros da comissão técnica. A provocação foi feita em direção ao técnico da Holanda Louis van Gaal, como resposta às palavras do treinador, que antes do confronto havia criticado de diversas maneiras a Argentina.
No desabafo, o goleiro se referia às duas defesas nas cobranças de Virgil van Dijk e Steven Berghuis, que colocaram a Argentina na semifinal do Mundial após o empate por 2 a 2.
Ambicioso e seguro de si, Martínez nunca duvidou do seu talento. A confiança é tão alta que adversários podem achar que ele é arrogante. Mas o início de sua carreira não foi fácil. A vida financeira da família Martínez era complicada em Mar del Plata. ‘Emi’ é filho de pai entregador de pescado e mãe empregada doméstica. O menino era a grande esperança da família por uma vida melhor.
Na adolescência, ganhou o apelido de ”Dibu”, por conta do famoso desenho animado argentino dos anos 1990 chamado ‘Mi familia es un dibujo’. Recusado em testes no Boca Juniors e no River Plate quando tinha 10 anos, foi no Estudiantes que começou sua carreira. Logo teve destaque e foi vice-campeão do Sul-americano sub-17 em 2009, pegando dois pênaltis na final contra o Brasil. O Arsenal, da Inglaterra, tinha olheiros na competição e foi logo atrás de sua contratação.
A mãe Susana e o irmão Ajeandro choraram quando ele estava de malas prontas para Londres e pediram para ele não viajar. Mas ter visto o pai em lágrimas de noite porque não conseguia pagar as contas de casa deu forças a Emi para seguir. Ele se adaptou muito rápido na Inglaterra, aprendendo logo a nova língua, mas teve que lidar com a falta de oportunidades no clube inglês.
Martínez precisou ter persistência e paciência, quando foi emprestado a seis times diferentes. Há dez anos, ele estava na quarta divisão inglesa. A tristeza por não atingir seus objetivos era tão grande que chegou até a pensar em deixar o futebol. Foi então que buscou ajuda na terapia.
“Com tudo o que o futebol de nível mundial exige, acredito que todo jogador necessita de um psicólogo”, contou ao jornal espanhol El País. Ele foi atrás de ajuda de especialistas em psicologia no departamento de futebol do Arsenal e passou a colher os frutos ao tratar a saúde mental.
“Chorei muitas noites. Eu viajei 200 mil quilômetros. Fui para lugares horríveis, lugares lindos, passei mal, queria voltar para a Argentina, queria deixar o futebol, queria deixar meu povo desde os 12 anos”, revelou em entrevista no ano passado. “Tem muita coisa que as pessoas não sabem, que hoje só minha mulher sabe.”
CHANCE DE DIBU
Foi aos 27 anos, em junho de 2020, que tudo mudou em sua carreira. Titular do Arsenal, o goleiro Bernd Leno teve uma lesão grave durante um jogo e precisou ser substituído por Martínez.
Ainda pouco conhecido, o argentino se destacou com grandes defesas, reflexos ágeis e impressionou. Ao fim da temporada, os dois queriam a vaga de titular. O Arsenal decidiu por manter o alemão e vendeu Martínez para o Aston Villa, também da Inglaterra.
A estreia na seleção principal aconteceu no ano passado. A Argentina enfrentava uma longo problema em relação a goleiros e Martínez recebeu uma oportunidade. Ele participou de duas partidas das Eliminatórias Sul-Americanas, mas se lesionou em um choque com o zagueiro da Colômbia Yerri Mina, ex-Palmeiras.
Na Copa América, foi titular desde o início da campanha e ganhou a confiança da torcida argentina nas semifinais ao ser decisivo nas cobranças de pênaltis. Depois da classificação, Messi exaltou o amigo Martínez.
Os dois criaram uma ligação forte a ponto de o goleiro dizer que morreria pelo ídolo. “Eu quero dar a vida, quero morrer por ele.”
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