De Osasco para o Catar, cartas de motivação ao hexa

O Brasil vai parar nesta quinta-feira para assistir ao jogo contra a Sérvia.

Alunos escolheram jogadores para enviar seus recados positivos pelo hexacampeonato.

Antony Brasil 2022
Alunos de escola em que Antony estudou fizeram cartas aos jogadores.

Campinas, SP, 23 – Na mesma quadra em que o atacante Antony iniciou a carreira, crianças aproveitam o intervalo da aula na Escola Municipal Etiene Sales Campelo, em Osasco, para repetir os chutes e dribles da do jogador da seleção brasileira. É uma admiração de papel passado. Alunos do 5.º ano do Ensino Fundamental enviaram cartas de apoio e motivação para o jogador de 22 anos e mais dois atletas nascidos no município da Grande São Paulo que estão na Copa do Catar: o goleiro Ederson e o atacante Rodrygo.

As cartas mostram como os atletas são exemplos. Sim, é possível chegar lá. Isso é o que meninos e meninas mostram ou deixam nas entrelinhas das mensagens. A Copa traz o pó de pirlimpimpim de fazer acreditar. “Achei legal que ele saiu do mesmo lugar onde eu estou agora. Quero dar para a minha mãe o mesmo orgulho que o Antony está dando para a mãe dele”, diz Luan Silva Santos, de 11 anos.

A estudante Nicolly Guimarães escreveu para o atacante Rodrigo, que tem familiares no bairro Presidente Altino. “Ele é um jogador muito bom, um cara humilde e que conquistou bastante fama. Quando crescer, quero ser igual a ele”, diz a menina de dez anos que gostava de jogador futebol na rua com os amigos, mas descarta seguir a carreira.

Luan e Nicolly estão entre os 7,2 mil alunos do 5.º ano do Ensino Fundamental da rede municipal de Osasco que foram desafiados a colocar sua admiração no papel. Como o projeto da Secretaria de Educação ainda está em andamento, ainda não há o total de cartas produzidas. Mas deve uma montanha parecida com aquelas dos desenhos animados.

A atividade lúdica tem um objetivo pedagógico bem definido, como explica Alessandra Cornaglia, secretária executiva de Gestão Pedagógica da Secretaria de Educação da Prefeitura de Osasco. “No processo de alfabetização dos alunos, nós trabalhamos vários gêneros textuais, entre eles, a escrita de cartas, que possibilita o desenvolvimento das ideias com coerência e coesão, expressando pensamentos e emoções”, diz a professora.

Apesar de terem sido colocadas para escanteio pela popularização da comunicação digital, as cartas são importantes na alfabetização. “Trabalhamos habilidades como leitura e escrita, interpretação, sistematização de textos e a pesquisa de elementos importantes na vida cotidiana, como endereço, destinatário e remetente, CEP”, diz Alessandra.

Os meninos gostaram e mostram que nem tudo é efêmero, mesmo que tenham apenas 10 ou 11 anos. “Achei divertido. Vou ter lembranças para o futuro”, diz o menino Luan.

ÍDOLO
Alguns estudantes estão seguindo os passos dos craques. Literalmente. Carlos Eduardo da Silva, o Cadu, joga na escolinha “Meninos da Vila”, mantida pelo Santos, em Osasco – Antony também passou por essas quadras. Sua intenção é fazer um teste no centro das categorias de base do São Paulo, em Cotia. Canhoto habilidoso, daquele tipo de gruda a bola no pé, ele joga do meio para a frente. Sua carta foi até ilustrada: ele desenhou uma taça dourada. “A carreira do Antony me inspira porque, se ele saiu daqui, eu posso ser igual a ele. Quero ser jogador para ajudar minha família”, diz o menino de 11 anos.

Os craques retribuem esse carinho. Antes de se transferir do São Paulo para o Ajax, da Holanda, Antony visitou a escola. Falou com os alunos, tirou fotos e deixou camisas e bolas autografadas. Essa humildade – na palavra dos pais e das crianças – ficou marcada.

A passagem de Antony pela escola como aluno, uns 15 anos atrás, foi marcante. “Era um aluno tranquilo e tímido. A gente precisava instigar para ele falar. Não era questionador, mas bonzinho e interessado”, conta a professora Simone de Almeida Xavier, de 52 anos, que deu aula para o jogador do Manchester United em 2007 na 1.ª série do Ensino Fundamental.

Duas imagens ficaram marcadas na carreira da educadora. A primeira é a do menino franzino que usava um meião que ficava acima dos joelhos. A outra era uma peraltice. “Quando ele ia ao banheiro, a gente dizia para ir sem correr. Ele saía, dava só dois passos, imaginava que a gente não estava olhando e começava a correr. Era baixinho, mas já era bem ligeiro”, recorda-se.

Quando era menor, Gustavo Araújo Silva já quis ser cozinheiro, médico e professor. Agora, aos 11 anos, ele quer ser um dos melhores goleiros do mundo. Por isso, ele escreveu sua carta para Ederson, um dos arqueiros de Tite. E sua carreira já começou. Ele conta que é um dos melhores goleiros da sua escola.

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