De bandido a rei: Dadá Maravilha acaba com fama de 'perna de pau' e vira ícone no Brasil
Ídolo de Ponte Preta, Sport, Bahia e Atlético-MG, o ex-atacante relembrou de momentos marcantes de sua brilhante carreira
Ídolo de Ponte Preta, Sport, Bahia e Atlético-MG, o ex-atacante relembrou de momentos marcantes de sua brilhante carreira
Campinas, SP, 31 (AFI) – De bandido a rei! Em duas entrevistas ao repórter Kim Belluco, Dadá Maravilha revelou momentos marcantes de sua carreira. Ídolo de Atlético Mineiro, Bahia, Sport e Ponte Preta, o ex-atacante contou sobre os perrengues que passou antes de se aventurar no mundo falou e conquistar toda idolatria da torcida brasileira.
Dadá Maravilha revelou o desejo de ter jogado no Corinthians, lembrou o título brasileiro pelo Atlético Mineiro e falou sobre sua passagem pela Ponte Preta e XV de Piracicaba, neste devolveu o dinheiro, pois não brilhou quanto deveria.
Pessoa humilde e brincalhona, Dadá ainda relembrou de causos com Pelé, contou que sempre foi muito massacrado por companheiros de equipe, adversários e imprensa e de como se torneio o ‘Rei Dadá’.
Confira trechos da entrevista com Dadá Maravilha:
Dadá, para começar, nos conte um pouco sobre o carinho que os torcedores da Ponte Preta tem por sua pessoa?
A reciproca é verdadeira. Eu fico muito feliz, porque minha filha mora em Paulínia, plantei raízes em Campinas. Sempre vou lembrar da passagem com muito carinho. Posso dizer que sou apaixonado pelo Ponte Preta.
Como era a vida de Dadá Maravilha antes do futebol?
Dadá felizmente venceu na vida, mas eu nunca joguei futebol. Joguei a partir dos 19 anos. Era bandido. Vivia assaltando, de má índole. Tinha diabo no corpo. Quando repeti a oitava série, fui para exército. Pensei: o que vai ser de mim? Até que um dia, o Capitão reuniu os soltados e começou a falar de futebol.
Disse que teria um campeonato e que gostaria de ser campeão. Caso ao contrário, ficaria todo mundo preso no quartel. Meu amigo, que me chamava de maluco, me cutucou pedindo para dizer algo. Eu nunca joguei bola na minha vida. Falei qualquer merda, pois isso era comigo mesmo.
Então falei: ‘Se a gente for campeão você nos dá 20 dias para ficarmos em casa? Vocês nos fez uma proposta, então, estou fazendo a minha’. O Sargento acabou nos apoiando e convenceu o capitão. Desde então, ele disse que ia ficar na cola do soldado 7728, ou seja, eu.
Eu sempre pulava muro para roubar manga. Comecei a pular e chutar. Fizeram uma ‘peladinha’. Me lançaram duas bolas, subi e fiz dois gols. Depois, jogaram em velocidade e fiz outro. O Sargento falou que iria me fazer um craque. Só que era difícil. Eu chutava com a perna esquerda e caia. Eu nunca tinha jogado futebol.
Na final, ficou a gente e a companhia de Botafogo e Flamengo. Ganhamos, marquei três gols. Fizemos festa, demos volta olímpica. Acabou o jogo, o Sargento me chamou e passou o telefone. Era do Campo Grande querendo me contratar. Eu assumi que era péssimo, mas gostaram da minha velocidade e impulsão, pois colocava os joelhos na cabeça do beque. Acabei brilhando em um amistoso entre titulares e reservas e acabei me destacando.
Como foi a experiência no Campo Grande até chegar no Atlético Mineiro?
Fizemos uma preliminar de Fla-Flu. Naquela época, colocavam mais de 120 mil pessoas no Maracanã. O Bonsucesso saiu frente, começaram a nos menosprezar. Eu não recebia muita a bola, porque me consideravam ruim. No fim, me deram lançamentos e acabei fazendo os gols. Fiquei famoso. Toda torcida pedindo para dar a bola para o 9, porque não sabiam o meu nome. E eu não sabia dar entrevista. Falei umas 300 vezes ‘Jesus Cristo’.
Quando acabou o jogo, um senhor bateu nas minhas costas perguntando no meu nome e falou se eu estava preparado para jogar no Atlético-MG. Assustei e ainda disse que a torcida era louca, pois chamavam os jogadores de ‘galo’. Ele me explicou de onde veio o apelido e me contratou.
Ai virei uma máquina de fazer gols. Fiz o gol do título de campeão brasileiro. Em 1971 já estava na seleção. Fui para a Copa, com a maior seleção que já viram. Deus ficou com pena de mim e me ajudou, porque minha vida mudou completamente.
Em 67, era reserva do Campo Grande, Em 70, eu estava na Copa. De repente, estava conversando com Jairzinho, Pelé, Clodoaldo, Piazza, Gerson. Parecia um sonho.
Como foi a experiência na seleção brasileira?
Foi uma confusão tremenda. Comecei a fazer muitos gols. Barrei o Pelé em 69, que era sempre o principal goleador. Fiz tantos gols que se juntasse os quatro grandes do Rio, hoje, não fariam igual. Nisso, fizemos um amistoso contra a Rússia e ganhamos de 2 a 1. A seleção, comandada por João Saldanha, empatou por 2 a 2. Aí resolveram fazer uma partida entre Atlético e Brasil, no Mineirão.
Todo mundo falava que o Brasil ganharia do Atlético. Eu não achava, porque a seleção não tinha Dario. Até hoje não sei porque falei essa porcaria. O João Saldanha me avacalhou, o Carlos Alberto queria me quebrar. No jogo, pisou em mim, mas não pipoquei. Partia para cima. Ele dava porrada e o juiz ria.
O Amauri acabou fazendo 1 a 0, o Pelé empatou e eu marquei o gol da vitória. Me deram o prêmio de melhor em campo. Não aceitei, tinha que ser o Pelé. E ele estava atrás de mim e ouviu. No fim, trocamos camisa e acabou sendo um momento bem legal.
Mas João Saldanha continuou me criticando, me batendo nas entrevistas. Falei que, na minha opinião, melhor que Dadá só Jesus Cristo.
Os jornalistas se aproveitaram e, em 1971, me fizeram diversas perguntas, falei três coisas: campeão? Atlético-MG, artilheiro? Dadá, gol do título? Dadá! Falei três absurdos e todo mundo sabe como terminou. Atlético foi campeão, fiz o gol do título contra Botafogo, de cabeça, em uma jogada maravilhosa e fiquei artilheiro do Brasil. Fui um homem louco. Era ruim, mas dentro da área melhor que Dadá, só Jesus Cristo.
O gol contra o Botafogo foi o mais marcante?
O mais importante da minha carreira, mas não o mais bonito. No Flamengo, contra o Bangu, prometi cinco gols, vencemos de 7 a 0 , driblei o goleiro várias vezes, nem eu acreditei. O Maracanã ficou em silêncio.
Como foi disputar a Copa do Mundo de 70, com uma seleção recheada de craques?
Maior prazer da minha vida foi estar naquela seleção, a maior de todos os tempos. Eu olhava Pelé, Rivelino, Jairzinho, Gerson, sem acreditar. Eu treinava demais. Acabava o treino, dava cabeçada, chutava de pé direito, de pé esquerdo. Falava que seria uma máquina de fazer gols. Era determinado. Fui o jogador mais humilhado da face da terra, mas depois tiveram que bater palma para Dadá Maravilha
Como foi o primeiro encontro com Pelé?
Atlético e Santos, no Mineirão. Era artilheiro do Brasileiro e o Pelé, o maior de todos. Pelé me respeitava, mas eu era maluco. Gostava de falar frases marcantes, como ‘para toda problemática, tenho a solucionática. Faço tudo com amor, inclusive o amor, esta é a frase mais fantástica. Três coisas que param no ar: helicóptero, beija flor e Dadá’.
Qual passagem por outros clubes que você considera marcante?
A do Bahia foi fantástica. Aquele povo parece muito o povo carioca. Alegre, brincalhão. Foi de encontra a minha vida e minha necessidade. Fico feliz, pois sempre me citam. Fiquei na história como jogador corajoso. Prometia que seria campeão, artilheiro. Só tenho agradecer a Deus. Já pelo Inter fui campeão gaúcho, e fiz o gol em cima do inter no nosso querido coringão por 2 a 0.
Como aconteceu a proposta da Ponte Preta? Como foi sua passagem pelo clube?
Eu estava com 10kg abaixo do peso. Fui operado, falavam que eu ia morrer, delirava no hospital. Fui castigado. Estava pele e osso. Vicente Matheus foi no hospital e não quis me contratar. Eu tinha loucura para jogar no Corinthians. A Ponte Preta topou. Falaram que iriam me contratar para ganhar do Corinthians, pois a Pote não ganhava. Fiz 2 gols na vitória contra o Corinthians por 2 a 0. Corri barbaridade, perdi 5kg. Fazia o gol e ia para arquibancada. Pedi a Deus para não deixar Dadá falhar contra o Corinthians e ele me ouviu.
Como foi disputar um dérbi com a camisa da Ponte?
Meu dérbi me deixou muito triste, porque nós perdemos por 1 a 0, mas o time do Guarani era uma máquina. Foi um jogaço. Guarani ganho de 1 a 0. Eu corri barbaridade, mas a marcação foi forte. A torcida bugrina estava com peito cheio de ar, foi um pandemônio. Guarani tinha Careca, Zenon. Dica e Zenon foram extraordinários. Deveriam ter mais fama do que tiveram. Eram do primeiro quilate.
Além da Ponte, qual time mais te marcou?
O Sport me marcou muito. Fazia 15 anos que não ganhava. Santa Cruz era infernal. Sport só disputava e todo mundo gozando. Dei uma entrevista na Placar e o título era: ‘Quem quiser ser campeão, contrata Dadá’. Fui com uma mala velha. Falava que tinha gols e títulos dentro dela. O Presidente do Sport me ligou e demonstrou interesse. Falei que estava no caminho certo, pois estava procurando quem dá titulo. Era muito dinheiro. Ia pedir 10, me deram 25 mil. Era muito dinheiro. Fui artilheiro, para variar, e modesta a parte, massacrei os rivais.
Você teve uma passagem rápida pelo XV de Piracicaba, como foi?
Foi frustrante. Estava com problema no joelho, mas eu queria o desafio. Não correspondi. Fiquei chateado, porque não aguentava correr. Era o joelho da impulsão e fiquei um jogador comum. Peço desculpa de não dar ao XV o que ele merecia. Eu devolvi o dinheiro que o XV investiu, pois foram muito decentes comigo e não achava certo roubar do clube.
Quando decidiu se aposentar?
Eu ainda fui para Manaus, fui campeão. Passei pelo Douradente, mas também não consegui render. Quando começaram a ganhar de mim no alto e na velocidade, falei pra mim mesmo que tinha acabado. Ai parei.
Quais treinadores mais te inspirou?
Um deles foi o Telê Santana. Ele me ensinou a cabecear. Eu tinha impulsão, mas não sabia jogar. Me ensinou cabecear, dominar, dar passe. Não acertava nada, depois comecei a acertar tudo. O jogador que menos errava passe era eu. Jamais daria passe longo.
Como surgiu o apelido Dadá Maravilha?
Eu peguei e perguntei como vou vencer na vida com o nome Dario?. Botei Dadá. Falavam: ‘Para com isso, vão falar que você é ‘viado’, Dadá não é homem não’. Comecei Dadá pra lá, pra cá e fiz muitos gols. Cheguei a conclusão que eu mereço. A partir daquele momento eu só atendi como Dadá Maravilha. Fui pro Bahia e me chamaram de Rei Dadá, time foi campeão. Mas minha preferência é Dadá.
Qual clássico te chamou mais atenção?
Clássico que mais me marcou, sem dúvida, foi o Fla-Flu. Foi violento. Depois tive Atlético e Cruzeiro e Internacional e Grêmio. Foram fantásticos.
Como foi a experiência como treinador?
Fui treinador em Macapá. Fui campeão. Inventei três esquemas (veja sobre eles no áudio). Mas como era muito brincalhão, ninguém levava a serio e acabei não tendo sequência. Mas com esses esquemas ninguém ganhava do Dadá. Vou levar eles para o túmulo. Não posso entregar nada.
Qual foi a maior decepção?
Não tive decepção. Lógico que tem jogadores que ganharam mais que perderam. Pelé ganhou tudo na vida. Nós meros mortais estamos sujeitos a vitórias e derrotas e faz parte do ambiente e da profissão. Não tive decepção, porque nunca pensei que fosse chegar aonde cheguei. Era ofendido, vaiado. Fugi de tudo isso para encontrar a gloria. Quase todo ano, era carregado. Só Deus para fazer tudo isso acontecer na minha vida. Se me pedirem para fazer três embaixadas, eu não consigo, não.
Pode surgir um novo Dadá Maravilha?
Para ser um Dadá, tem que ser muito humilde. Eu sabia que era um perna de pau, mas eu treinava. Se falarem que tem algum cabeceador melhor que Dadá, eu processo. Jardel, Escurinho cabeceavam muito bem, ma melhor que Dadá…
Manda um recado para os torcedores da Ponte Preta
Abraço e beijos com carinho, o meu muito obrigado. Joguei pelo Brasil todos, mas plantei raízes aqui. Sempre acompanho o time. Mas vou deixar um outro recado, para todos. Tenha Dadá como exemplo. Fala que Dadá era perna de pau e virou rei. Se eu conseguir superar tudo isso, todos podem.
Confira aqui a entrevista completa com Dadá Maravilha:
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