Courtois pede desculpas por abandonar seleção, detona técnico e não defende Bélgica na Eurocopa
Em recuperação de cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, o goleiro deu enorme entrevista ao site belga Sporza
Campinas, SP, 19 – Thibaut Courtois quebrou o silêncio seis meses após abandonar a seleção da Bélgica antes de jogo com a Estônia por causa de polêmica sobre a tarja de capitão. Nesta terça-feira, o experiente goleiro pediu desculpas por sua atitude, disse que não vai disputar a Eurocopa de 2024 e não poupou críticas ao técnico Domenico Tedesco que, em sua visão, “não fez esforço para encontrar uma solução.”
Em recuperação de cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, o goleiro deu enorme entrevista ao site belga Sporza e revelou que o problema clínico vai impedi-lo de defender o país na Eurocopa. Mesmo já dando os primeiros passos, ele avalia que necessitará de uns 9 a 10 meses para estar “inteiro”.
“O clube (Real Madrid) deixou bem claro que quer que eu me recupere 100% e certamente não volte tão cedo. Não quero trair essa confiança. Se eu não jogar mais nenhuma partida nesta temporada, tudo bem”, disse. “Por causa da lesão, não disputarei nenhum campeonato europeu. Primeiro tenho que recuperar 100% e depois é melhor, sem fixar uma data para voltar. Se tiver sorte, posso jogar uma partida em maio. Mas não estarei pronto para um grande torneio”, afirmou, descartando jogar a Eurocopa.
“Acho que é melhor fornecer imediatamente essa clareza à seleção nacional. Não vou estar na baliza somente 80%, pois temos outros bons goleiros. Estou deixando minha honra de lado e serei apenas um apoiador extra em junho, torcendo por um título europeu.”
Courtois resolveu explicar o motivo de ter abandonado a seleção antes do jogo com a Estônia, pelas eliminatórias da Eurocopa. Ele gostaria de ser o capitão diante da Áustria, na partida anterior, pois seria homenageado pelos 100 jogos defendendo o país. Mas Tedesco optou por dar a tarja a Lukaku e o goleiro sentiu-se desprestigiado. Ele esclareceu, contudo, que jamais se achou o dono da tarja. Apenas queria usá-la naquele jogo festivo.
“Estamos em um esporte coletivo, não individual. Minha decisão naquele momento teve um pequeno impacto em mim pessoalmente, mas foi importante para o grupo. Isso criou ansiedade antes do jogo com a Estônia e eu poderia ter tomado aquela atitude depois. Mas eu estava um pouco cheio de tudo naquele momento”, explicou, fazendo um mea-culpa.
“Bem, primeiro gostaria de me desculpar por isso. Foi uma decisão errada sair após a partida contra a Áustria. Gostaria de pedir desculpas à equipe e principalmente aos torcedores. Acho que esses dois grupos foram os mais chocados. Portanto: 100%, minhas desculpas”, disse. E explicou o ocorrido.
“Primeiro deixe-me esclarecer que não teve nada a ver com a capitania. A história toda é muito mais sutil do que isso. Muitos falaram para ter seu minuto de glória, mas poucos se interessaram pela minha versão da história. Quem quer que tenha me feito a pergunta diretamente obteve uma resposta, como Romelu Lukaku. Ele é um dos únicos que falou corretamente sobre isso em todas as suas coletivas de imprensa”, iniciou o goleiro.
“Olha, se minha saída fosse apenas por causa da capitania, eu já teria renunciado em março (quando Tedesco escolheu De Bruyne como capitão). Kevin capitão? Sem problemas. Depois ainda tinha Romelu e eu como vice-capitães, sem hierarquia. Mas aquele jogo contra a Áustria foi o meu 102º com a seleção belga, com uma homenagem à minha centésima partida internacional. Esse é um momento em que, como federação e treinador, você pode fazer um gesto simpático para um goleiro que fez muito pelo seu país” seguiu, reclamando da atitude de Tedescu.
“Foi muito mais profundo. Durante aquela semana em questão, estive presente em Tubize (local dos treinos) desde segunda-feira, como o único dos três capitães (De Bruyne se machucou e Lukaku se juntou mais tarde, após a final da Liga dos Campeões). No entanto, o treinador não falou comigo nenhuma vez. Na verdade, só um minuto antes do treino para perguntar como foram as coisas em Madri, só isso. Aí eu já senti que alguma coisa estranha está acontecendo”, mostrou-se incomodado. “Sinto que sou respeitado por todos no clube em Madri e não percebo isso com a seleção e naquela semana eu estava explorando para ver o que aconteceria.”
E acabou ocorrendo o que Courtois temia. “No sábado da partida, poucas horas antes do início do jogo, Tedesco chamou Lukaku e eu. Quando ele disse que Romelu seria o capitão contra a Áustria e eu contra a Estônia, na terça-feira, algo estalou dentro de mim. Não funcionou mais. O fato de não sentir mais o apreço da federação e do treinador fez algo explodir dentro de mim”, revelou, antes de reclamar da falta do politicamente correto do treinador.
“O treinador poderia simplesmente ter-me dado aquela explicação sobre Romelu no início daquela semana. Se eu tivesse dito que era um jogo especial para mim, ele teria se sentido à vontade para fazer sua escolha. Mas Tedesco não pensou nisso em nenhum momento e para mim, isso significa que não há sentimento ou pouca apreciação. O treinador não fez nenhum esforço para encontrar uma solução, mas simplesmente disse que contaria tudo à imprensa. Ele queria me pressionar para não sair e me ameaçar. Isso simplesmente não é possível, porque foi uma conversa privada. Depois há uma quebra de confiança entre o jogador e o treinador.”