Coritiba se torna primeiro clube brasileiro a aderir ao Pacto Global da ONU

O planejamento se iniciou com a nova gestão do clube, presidida por Juarez Moraes, ainda em 2021

Diante de um cenário mundial de crescente preocupação com os danos da humanidade ao meio ambiente, o Coritiba se torna o primeiro a aderir, de forma integral, ao Pacto Global da ONU

Torcida do Coritiba
Coritiba dá show fora das quatro linhas (Foto: Site Oficial do Coritiba)

Curitiba, PR, 26 – Próximo de completar 113 anos, o Coritiba conquista neste ano uma de suas maiores vitórias fora de campo, como instituição social. Diante de um cenário mundial de crescente preocupação com os danos da humanidade ao meio ambiente, o clube se torna o primeiro a aderir, de forma integral, ao Pacto Global da ONU.

Lançada em 2000, a ideia da iniciativa, de caráter socioambiental, é alinhar empresas para comprometer suas estratégias e operações de acordo com dez princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção, além de desenvolver ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade.

Ele é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil participantes, entre empresas e organizações, distribuídos em 70 redes locais, que abrangem 160 países. Para chegar a essa conquista, o Coritiba se juntou à GreenPlat, startup de software de gestão e monitoramento de indicadores ESG, para traçar planos que tornassem possível o reconhecimento da instituição diante da ONU.

O planejamento se iniciou com a nova gestão do clube, presidida por Juarez Moraes, ainda em 2021.

“Trouxemos a ideia ao Coritiba, de mapear o uso de resíduos, de gasto energético, e ela foi aderida de forma imediata pelo clube”, conta Chicko Sousa, fundador e CEO da GreenPlat, ao Estadão.

Português, ele se mudou para o Brasil em 1985, coincidentemente o mesmo ano em que o Coritiba conquistou seu único Campeonato Brasileiro, diante do Bangu.

“Foi uma união que era para acontecer”, brinca o empresário.

“Nós buscávamos, para exposição de nosso trabalho, algo que fosse de amplo alcance nacional, como o futebol”, detalha Chicko, que conta que, antes mesmo de propor a ideia ao Coritiba, o clube já buscava novas maneiras de manejo sustentável e de otimização dos recursos. “Vamos reduzir o impacto de um time de futebol na natureza?”

COMO ACONTECEU

A partir de planejamentos, a GreenPlat somou esforços com o Coritiba para traçar métodos sustentáveis em seus projetos. Captação da água no estádio Couto Pereira, coleta eficiente do lixo nas arquibancadas e uso eficiente de recursos energéticos são alguns dos exemplos de mudanças que possibilitaram a entrada do clube no Pacto Global.

Por meio de um software desenvolvido pela GreenPlat, o clube pode medir seu impacto na biodiversidade e corrigí-lo. Cerca de seis toneladas de lixo e resíduos, produzidas por mês, provenientes de jogos, treinos e demais atividades, são monitoradas pela Plataforma Verde, da Green Plat. Desta maneira, o clube terá condições de melhor destinar seus resíduos e implementar políticas austeras com fornecedores, além de desenvolver planos de educação ambiental.

“No primeiro momento, buscamos chamar a atenção da torcida, da imprensa e da mídia, para a preservação da biodiversidade”, explica Lucas Pedrozo, Head Administrativo do Coritiba, ao Estadão.

A Mata Atlântica, bioma ameaçado do Brasil e de suma importância para o ecossistema do Paraná, foi um dos focos dessa fase. O clube anunciou uma parceria com a iniciativa Grande Reserva Mata Atlântica, para dar amparo e promoção a proteção do maior remanescente contínuo do Bioma Mata Atlântica

O clube lançou uma camisa, produzida com material biodegradável e reutilizável, para conscientizar quanto aos riscos do desmatamento e da perda da biodiversidade.

“Um time de futebol é multiplicador de informação e a questão da educação ao seu público é um passo fundamental para o sucesso do nosso projeto”, conta Chicko.

BENEFÍCIOS

Essa gestão do Coritiba apresentou, ainda em 2021, um planejamento para a “reinvenção do clube”. Nessa parceria com a GreenPlat, traçou-se um plano de 15 anos para as metas de sustentabilidade do clube. Além de retornos econômicos, como a economia de recursos, energéticos e financeiros, o Coritiba tem, com o Pacto Global, um projeto social em mãos.

“Nós trouxemos essa mensagem de conscientização, de sustentabilidade, para dentro do clube e da nossa camisa”, afirma Lucas. Mas além disso, a ideia é que, com esses projetos, a base de futebol do Coritiba e a comunidade ao seu redor, seja beneficiada. “Somos responsáveis pela mensagem e pelo impacto no Couto Pereira, no nosso Centro de Treinamento, e foi preciso endereçá-lo”.

“Qual foi a última vez que ouvimos sobre educação ambiental”, brinca o dirigente.

Com essa premissa, o Coritiba busca divulgar o projeto por meio de uma nova campanha. O “Nossa Identidade Verde”, segundo Lucas, traz as cores do clube para informar o torcedor das questões socioambientais.

Por meio desse lema, o clube faz ações com seus jovens atletas e torcedores, divulgações nos estádios e nas redes, acerca dos benefícios de um posicionamento efetivo nesta questão. “Vamos trazer o nosso sócio como peça ativa dessa mudança na estrutura social do clube”, afirma Lucas.

FUTURO DO CLUBE

“Infelizmente, para a maioria dos dirigentes dos clubes, há um obstáculo para a implementação de projetos como estes”, diz o head do Coritiba. “É recorrente que eles pensem: ‘mas esse investimento vai fazer com que o time vença os jogos?’, quando na realidade nossa campanha é muito mais do que isso.”

O projeto do Coritiba, o Pacto Global e a Nossa Identidade Verde, em conjunto, estarão em vigor nos próximos 15 anos. “É um planejamento a longo prazo, mas o impacto já pode ser sentido desde já”, conta Lucas. Com o manejo sustentável dos resíduos e economia dos gastos, o clube pode investir em outras áreas, tanto no social quanto no futebol.

“Hoje posso dizer que esse nosso planejamento, nossa parceria com a GreenPlat, ganha jogos”, brinca Lucas. Na gestão do Coritiba, no entanto, não houve resistência para a implementação dessas metas do Pacto. “Nosso presidente (Juarez Moraes) e conselheiros já tinham essa mentalidade de mudar a forma como o clube se posiciona no mundo.”

Além de um posicionamento forte da marca com o Pacto Global, a ideia, para Lucas e para a diretoria do clube paranaense, é de que esse seja o início de uma mudança no cenário brasileiro.

“O Coritiba está abrindo o caminho para os clubes de futebol do Brasil e do mundo quanto às questões ambientais e sociais”, explica o dirigente.

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