Corintianos são velados em cerimônia marcada por consternação: 'Perdemos um pedaço de nós'
O sepultamento dos três está previsto para as 8 horas desta terça-feira.
Apenas o corpo de Andrew Nicolas Francisco, de São José dos Campos, não foi transportado até o ginásio em Pindamonhangaba, por decisão da família.
São Paulo, SP, 21 – Seis dos sete torcedores do Corinthians mortos em acidente de ônibus na madrugada de domingo foram velados nesta segunda-feira. Familiares e amigos deram o último adeus a Allan Luiz Sampaio Aguiar, Hamilton Rogério dos Santos e Vanderlei Rosielton Henrique Simão, o Mineiro, em cerimônia realizada no Ginásio de Esportes Prof. Manoel César Ribeiro, em Pindamonhangaba. O sepultamento dos três está previsto para as 8 horas desta terça-feira.
Rodrigo Lacerda de Barros, de São Luiz do Paraitinga, José Antônio da Silva e Renan Wellington Barbosa, ambos de Taubaté, não foram velados no ginásio, mas os corpos passaram pelo local para serem homenageados pela Gaviões da Fiel, maior torcida organizada ligada ao Corinthians e da qual eles faziam parte.
O velório dos três ocorrerá em suas cidades natais. Apenas o corpo de Andrew Nicolas Francisco, de São José dos Campos, não foi transportado até o ginásio em Pindamonhangaba, por decisão da família.
O acidente aconteceu na Rodovia Fernão Dias (km 381), entre Brumadinho e Igarapé, região metropolitana de Belo Horizonte. O ônibus transportava 43 torcedores do Corinthians de volta da capital mineira, onde viram o Corinthians empatar por 1 a 1 com o Cruzeiro no sábado à noite, até Taubaté. O acidente ocorreu no início da viagem de volta, depois de menos de uma hora de trajeto.
O velório estava previsto para começar às 14h, mas atrasou devido à lentidão na rodovia Fernão Dias provocada por um acidente na manhã desta segunda que tornou mais demorado o deslocamento dos corpos. A cerimônia, que teve início perto das 19h e se estenderá até a manhã de terça-feira, foi marcada por dor e consternação pelas mortes trágicas dos corintianos.
Os corpos chegaram no início da noite e foram recebidos com aplausos, cantoria e fogos pelos corintianos membros da Gaviões e da Coringão Chopp do lado de fora do ginásio, àquela altura já tomado por uma multidão na quadra e nas arquibancadas. Os caixões entraram, um a um, sob aplausos.
“Doutor, eu não me engano, o Allan é corintiano”, cantaram os torcedores na chegada do corpo de Allan. Eles fizeram o mesmo com todos os outros que chegaram na sequência, tornando o velório uma festa em memória às vítimas. Assim que os caixões foram abertos, ouviu-se, em uníssono “vai, Corinthians” de dentro da quadra, completamente lotada. Alguns caixões permaneceram fechados, cobertos pela bandeira do Corinthians.
Muitos parentes e pessoas próximas das vítimas, incluindo crianças, passaram mal e tiveram de ser atendidos pela enfermeira que estava de prontidão na cerimônia, que passou a ser barulhenta assim que a torcida voltou a cantar as tradicionais músicas de apoio ao time, além do hino corintiano.
“PERDEMOS UM PEDAÇO DE NÓS”
A morte de Hamilton Rogério, que era pedreiro, foi uma das que mais gerou comoção. Pessoas próximas do torcedor contaram que ele era muito conhecido em Pindamonhangaba.
“Ele era um cara legal, muito participativo. Estava em todos lugares na cidade e ajudava todo mundo”, resumiu Herlon César Nogueira, amigo de Hamilton.
Maria Martins dos Santos, mãe de Hamilton, revelou que a viagem a Belo Horizonte seria a última que o filho faria em caravana para ver o Corinthians. “Dei conselho pra que não fosse, mas ele não ouviu”, afirmou a mãe.
Stefania Maciel, tia de Allan, soube da morte do sobrinho pelos amigos dele integrantes da uniformizada. “Perdemos um pedaço de nós. É um pesadelo”, resumiu a contadora. Allan, de 31 anos, era soldador e, embora a família fosse composta por santistas e são-paulinos, escolheu o Corinthians desde pequeno. “Ele sofria, jogava junto”, contou a tia. “Saber que ele não está na torcida é muito difícil”.
O olho roxo, as dores na clavícula, as escoriações no corpo e a luxação no ombro que o fez usar uma tipoia não impediram que João Paulo, um dos sobreviventes, fosse ao velório horas depois de receber alta do hospital onde ficou internado. Ele disse lembrar de boa parte do acidente.
ACIDENTE
Relatos dão conta de que o ônibus perdeu o freio momentos antes do acidente. O ônibus teria entrado em uma curva, colidido com o barranco e tombado. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o veículo estava irregular.
Segundo os depoimentos, ao perceber a ausência do freio, o motorista desviou de um outro veículo – um caminhão ou um ônibus, os relatos divergem – e acabou direcionando o ônibus para uma ribanceira.
O Corinthians vai arcar com os custos referentes ao traslado dos corpos, velório e sepultamento e enviou Anderson Araújo, do departamento de responsabilidade social, para representar o clube na solenidade fúnebre.
A Gaviões da Fiel pediu que o jogo do Corinthians contra o Estudiantes nesta terça-feira, pela partida de ida das quartas de final da Copa Sul-Americana, fosse adiado.
De acordo com a maior organizada do clube, a solicitação foi feita de maneira informal em respeito às vítimas do acidente do último domingo. A Conmebol ainda não respondeu ao pedido, mas é pouco provável que acate a solicitação.