Corinthians enfrenta crise com cambismo e problemas no Fiel Torcedor

Venda ilegal cresce e torcedores enfrentam dificuldades para comprar entradas para jogos na Neo Química Arena

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Em grupos de WhatsApp, ingressos para o setor Sul, uma das áreas mais populares da Neo Química Arena, estão sendo oferecidos por R$ 600. Já nas cadeiras Oeste, os valores chegam a R$ 1.500.

São Paulo, SP, 19, (AFI) – A comercialização de ingressos para os jogos do Corinthians se tornou um problema recorrente nos últimos tempos. Torcedores têm relatado dificuldades para garantir suas entradas por meio do Fiel Torcedor, enquanto cambistas já negociam bilhetes para a segunda final do Campeonato Paulista contra o Palmeiras, mesmo antes da abertura oficial das vendas.

Em grupos de WhatsApp, ingressos para o setor Sul, uma das áreas mais populares da Neo Química Arena, estão sendo oferecidos por R$ 600. Já nas cadeiras Oeste, os valores chegam a R$ 1.500. O crescimento do cambismo vem gerando revolta entre os torcedores, que denunciam a dificuldade cada vez maior de adquirir ingressos pelo programa de sócio-torcedor do clube.

ORIGEM DOS INGRESSOS

As investigações sobre a venda ilegal de entradas indicam três principais fontes de fornecimento para os cambistas:

  • Sócios-torcedores que compram ingressos para revendê-los.
  • Conselheiros do clube, que recebem bilhetes e os repassam ilegalmente.
  • Ingressos de contas internas do próprio Corinthians, originalmente destinados a convidados, parceiros comerciais e membros da diretoria.

Um exemplo concreto ocorreu no jogo contra o Bahia, em dezembro de 2024. Relatórios mostram que ingressos vendidos por cambistas foram emitidos pela conta “Arrecadação – Vendas”, uma das que mais recebem bilhetes no sistema do clube. Essas entradas foram adquiridas por R$ 45 e revendidas a R$ 180, um valor quatro vezes maior.

A suspeita de desvios internos ganha força ao se observar a grande quantidade de ingressos destinados a contas internas. No jogo contra o Santos, na primeira fase do Paulistão deste ano, a conta “Arrecadação – Vendas” recebeu 2.662 ingressos. Outros setores internos, como “Comercial Arena”, “Operação Arena” e “Arrecadação SCCP”, somaram mais de 1.500 entradas no total.

O ex-chefe do departamento de tecnologia do Corinthians, Marcelo Munhoes, afirmou que a quantidade de ingressos disponíveis para o Fiel Torcedor diminuiu drasticamente no último ano, dificultando o acesso dos torcedores comuns.

— De fato, o torcedor não está errado nessa sensação de que está mais difícil (conseguir ingresso). Antes, certas pontuações no Fiel Torcedor garantiam a compra, e hoje isso não acontece mais. O clube tem mais torcedores, mas menos ingressos destinados a eles — explicou Munhoes.

Diante das inúmeras denúncias, o Ministério Público e a Polícia Civil abriram inquérito para apurar o caso. A investigação está sob responsabilidade da 4ª Delegacia de Crimes Cibernéticos, que já intimou funcionários do Corinthians para depor.

RECONHECIMENTO FACIAL

O Corinthians reconhece o problema do cambismo e afirma que está tomando medidas para combatê-lo, como monitoramento de redes sociais e bloqueio de compras suspeitas. No entanto, o clube aponta uma solução definitiva: o reconhecimento facial na Neo Química Arena.

Por lei, todos os estádios com capacidade superior a 20 mil torcedores deverão adotar essa tecnologia até junho de 2025. O Corinthians alega que está estudando a implementação do sistema.

Porém, segundo Marcelo Munhoes, a diretoria tem atrasado a adoção da biometria. Ele revelou que, no início do ano, fechou um acordo para fornecimento de equipamentos com a empresa Ligatech, responsável pelo controle de acesso da Neo Química Arena. Contudo, pouco depois de comunicar a aquisição dos equipamentos, foi demitido e o contrato cancelado.

— Esse é um projeto que não sai do dia para a noite. Precisávamos começar em outubro de 2024. Como não havia definição de fornecedor, foi adiado. Quando tomei a frente e renegociei o contrato, fui destituído do meu cargo e o clube cancelou a entrega dos equipamentos — afirmou Munhoes.

FUTURO DAS INVESTIGAÇÕES

As denúncias sobre desvio de ingressos e cambismo continuam sendo analisadas pelas autoridades. Enquanto isso, torcedores seguem enfrentando dificuldades para garantir presença nos jogos, enquanto cambistas lucram com um mercado paralelo altamente inflacionado.

A implementação do reconhecimento facial pode ser a solução para minimizar o problema, mas a demora na adoção da tecnologia levanta dúvidas sobre o real compromisso do clube em combater a prática ilegal.

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