Copa América: Especialistas condenam liberação de público na decisão

Especialistas em saúde não concordam com a possibilidade de torcida na grande final

Prefeitura do Rio de Janeiro autorizou capacidade de 10%

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Foto: Twitter oficial da Copa América

Rio de Janeiro, RJ, 09 – Uma atitude temerária. Assim pode ser definida a liberação de público, mesmo que restrito, para a final da Copa América entre Brasil e Argentina, que acontece neste sábado, no Maracanã, em meio à pandemia de covid-19 que assola o País. Num cenário em que mais de 530 mil pessoas foram vitimadas pela doença, o Estadão ouviu especialistas da área de saúde para saber até que ponto essa medida pode agravar ainda mais a questão sanitária neste momento, com a preocupação de uma noca cepa, a Delta Indiana.

CASEMIRO AVALIA A COMPETIÇÃO

‘PATAMAR MUITO ALTO DE ÓBITOS’

O infectologista José Ribamar Branco, Fundador do Instituto Brasileiro da Segurança do Paciente, afirma que os números de mortos pela pandemia no Brasil não permitem uma ação que pode provocar a aglomeração de pessoas, mesmo que seja 6.500 num estádio para 65 mil.

Branco disse que entende a pressão econômica e esportiva de uma final envolvendo Brasil e Argentina, mas comentou que num período crítico como o atual, o gestor precisa optar por alternativas que favoreçam a população.

“Estamos estabilizando num patamar muito alto de óbitos. O número de mortes diárias em São Paulo, por exemplo, aumentou cinco vezes em relação a outubro do ano passado”, comentou.

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Foto: Twitter oficial da Copa América

“Temos a variante Delta do vírus, que já circula no Brasil. E os jovens são os maiores disseminadores dela. Eles contraem a doença e depois vão para casa. O resultado de uma aglomeração é que o número de mortes pode explodir e até colapsar o sistema. Podemos ter hospitais lotados e pessoas morrendo por falta de atendimento.”

O Brasil já viveu situações parecidas em outros momentos da pandemia, em pancadões nas metrópoles, férias em praias ou em cidades turísticas.

NA CONTRAMÃO DAS OLIMPÍADAS

Para o pneumologista Arthur Feltrin essa liberação, além de inadequada, é preocupante em todos os sentidos.

“Sabemos que o futebol é uma das maiores paixões do brasileiro, mas isso não justifica liberar. Essa decisão vai na contramão do que o Comitê Olímpico Internacional (COI) vem fazendo, por exemplo. O órgão proibiu o público nos Jogos de Tóquio e por aqui acontece justamente o contrário”, comparou.

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Foto: Twitter oficial dos Jogos Olímpicos

TAXA DE VACINAÇÃO AINDA É BAIXA

Feltrin apontou ainda outros fatores que condenam a decisão da Conmebol e do prefeito do Rio, Eduardo Paz. E a lenta escala de vacinação da população é um deles.

“Nos últimos meses, esse número aumentou, mas sabemos que é muito baixo ainda. Apenas 20% da população foi vacinada, sendo que o índice ideal para começar a liberar público seria na escala de 60 a 70%.”, pontuou.

REAÇÃO TARDIA

Outro ponto analisado pelo especialista são as variantes que o vírus tem apresentado nesse período.

“Estamos com um ano e meio de pandemia. E a covid-19 tem um outro fator perigoso. Entre o período de incubação e os primeiros sintomas vai um intervalo de 14 dias. Então, a pessoa pode ter o contato com o vírus e só depois começar a sentir os sintomas. É muito difícil controlar isso“, comentou

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Foto: Lucas Figueiredo/CBF

AGLOMERAÇÃO FORA DO MARACANÃ

Para o cardiologista e médico do esporte Nabil Gorayeb, de 74 anos, o problema não vai ser dentro do estádio, mas ao redor do Maracanã, na movimentação de pessoas, na entrada e saída do público.

“O problema não é ver o jogo, pois vão estar dentro de um espaçamento previsto. O que não pode permitir é aglomerar. O cuidado tem de ser grande. As pessoas tem de estar vacinadas, usar máscaras e ficarem distantes uma das outras. Sem dúvida de que, se pudesse evitar, seria bem melhor”, alertou o médico.

Ele lembrou que mesmo na Europa, onde a situação está mais branda do que no Brasil, os casos de covid-19 aumentaram com a liberação do público para assistir aos jogos da Eurocopa.

“O número de casos teve um aumento lá fora”, lembra.

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