Com ex-ídolos e craques participando, quando vale o futebol apostar em criptomoedas?
Corinthians e o Atlético-PR se associaram a um token pouco conhecido ou divulgado no Brasil, e há o caso do Arsenal, na Inglaterra
Corinthians e o Atlético-PR se associaram a um token pouco conhecido ou divulgado no Brasil, e há o caso do Arsenal, na Inglaterra
Especial por
MAYRA SIQUEIRA
Depois de Ronaldinho Gaúcho e alguns outros antes dele, foi a vez de Didier Drogba anunciar seu nome e associar o seu peso e relevância a uma “moeda virtual”, ou uma ICO (Initial Coin Offering, da sigla em inglês). Além de atletas, clubes também fizeram parcerias no segmento.
O Corinthians e o Atlético-PR se associaram a um token pouco conhecido ou divulgado no Brasil, enquanto o Arsenal, da Inglaterra, anunciou em janeiro patrocínio de uma empresa americana do segmento.
Quando uma moda é lançada por gente grande e relevante, logo as atenções se voltam para a novidade. Vem a “hype”, empolgação e geralmente a análise criteriosa costuma ficar um pouco de lado.
É uma boa ideia para os
clubes e jogadores de futebol
apostar em um token?
Bom, claro que poderíamos ter MessICO, NeymarBit, Cointinho ou Cristiano Ronaldoken, e poderia dar muito certo. Mas, até que esse mercado seja organizado e estabilizado, é um risco enorme apostar em uma parceria com uma origem desconhecida.
Recentemente, o acordo anunciado com entrevista coletiva do presidente do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia, causou alvoroço no mercado esportivo. Não só por ser pioneira no Brasil a união de um clube com uma empresa desse segmento, mas pela ausência de confiança envolvendo a empresa em questão.
Assim como em outras áreas, o mercado de criptomoedas pode ser facilmente um prato cheio para golpes, pirâmides financeiras e aproveitadores que se apoiam em dados de altas relevantes de moedas digitais como base para garantir lucro.
Como funciona
Uma ICO funciona de forma semelhante a uma IPO, do mercado financeiro tradicional: uma empresa lança suas ações no mercado para arrecadar fundos para um novo projeto. Quem comprou esses ativos fica na torcida e expectativa de que o projeto dê certo, se valorize, e aumente o valor investido.
A mesma empresa que fez parceria com o Furacão acertou com o Corinthians, em um acordo não detalhado de divulgação da marca. Com a promessa de lucro posterior com a valorização do ativo digital, a empresa paga pela vitrine somente depois do sucesso obtido.
E as garantias? Não são muitas. Se der errado, deu. O Santos também foi procurado, mas não aceitou o acordo, justamente pela falta de confiança no retorno em um investimento desconhecido.
Como avaliar
Sem um estudo completo por trás da proposta (whitepaper) da ICO, não é possível analisar o seu propósito e viabilidade. Por mais fácil que seja hoje em dia lançar um ativo digital, são poucos os que vingaram e que tinham uma proposta robusta, confiável e respaldada.
Basta fazer o comparativo com empresas ou startups: a ideia original pode ser ótima, mas ela precisa ser bem executada e cobrir gargalos para engrenar e dar certo. Características que muitas dessas moedas digitais que se associaram a figuras eminentes do esporte não têm…
Do lado oposto, o prato é cheio: por que não correr atrás de um mercado com 3 bilhões de fãs ao redor do globo, com audiência que, só no Brasil, bateu 181 milhões de pessoas.
Futuro promissor
Ativos digitais e futebol ainda podem dar muito certo e estabelecer parcerias revolucionárias para o esporte, com diversos benefícios tangíveis na nossa realidade de hoje. Um token de um clube, por exemplo, pode se associar ao programa de sócio-torcedor e oferecer uma série de benefícios exclusivos.
Artigos da loja oficial, experiência VIP, ingressos para os jogos, preferência na compra de lançamentos… tudo isso injetando verba diretamente na conta do clube, mas de uma forma eficiente, pouco custosa, moderna e digital.
Oportunidades incríveis
Existem possibilidades incríveis e revolucionárias para o futuro no mundo digitalizado. Imagine poder comprar o “passe” (um token) de um jogador, ser você uma espécie de empresário de uma micro porcentagem do desempenho esportivo de um atleta, e ver seu ativo se valorizar conforme ele se destaca? Pode dar muito certo ou muito errado. A longo prazo, restam apenas projeções.
Veja os exemplos de casos de esportistas no mundo dos criptoativos:
Didier Drogba
O marfinense Drogba agora é o embaixador oficial da All.me, uma plataforma de redes sociais baseada em criptomoedas. Algo como um Instagram misturado com compra e venda, com muitas imagens e que movimentam dinheiro (virtual).
Basicamente o usuário receberia um retorno financeiro pelo rendimento proveniente dos anúncios na rede, conforme popularidade, conteúdo e atividade da página. Quanto mais popular o famoso, mais lucros.
Ronaldinho Gaúcho
O craque brasileiro, que já tinha sido anunciado seu projeto alguns meses atrás, ganhou visibilidade na última semana com a Ronaldinho Soccer Coin (RSC), uma promessa (tentativa?) de modificar a forma como gerimos e vemos o futebol hoje.
Ela terá plataforma para apostas, e-commerce e, o mais peculiar: estádios digitais, para uma superliga de e-sports (e premiações em dinheiro, claro). A moeda apenas leva o nome do brasileiro por uma questão simples: dinheiro e popularidade.
A iniciativa tem na verdade por trás a startup chinesa WSC (World Soccer Coin).
Figo, Suárez, James Rodríguez…
Luis Suárez recentemente usou seu Instagram para divulgar uma plataforma em blockchain (espécie de livro de registro público das transações de moedas digitais). Já o português Luís Figo se tornou embaixador de uma empresa que pretende criar fantasy game chamado “Football Stars”.
Isso sem mencionar a bizarra aparição do inepto em tecnologia (em suas próprias palavras), Harry Redknapp, ícone do futebol britânico, que chegou a tuitar elogios a outro projeto de criptomoeda. O também inglês Michael Owen foi recém envolvido nesse mercado, bem como o colombiano James Rodríguez com o seu “JR10 Token”.
Cruzeiro de Cachoeirinha
O centenário Cruzeiro de Cachoeirinha, do Rio Grande do Sul, anunciou recentemente o seu envolvimento nesse mercado lançando a sua própria ICO, a exemplo do clube inglês Arsenal.
A ideia, no caso do pequeno time gaúcho, é arrecadar R$ 60 milhões para a construção de seu novo estádio. Os tokens, no caso, são uma espécie de títulos que são transacionados nos blockchains, não sendo restritos a uma única moeda virtual.
O formato, no entanto, rompe toda e qualquer barreira do futebol tradicional, uma vez que implica que os torcedores que tiverem maior investimento no token do Cruzeiro poderão palpitar na rotina de decisões do clube; desde contratações, vendas de jogadores e esquema tático, até escalação para uma partida.
Ah, se a moda pega…
Mayra Siqueira, é jornalista, editora-chefe do Cointimes,
portal de conteúdo especializado na nova economia.