Com dinheiro público, Nuzman transfomou COB em uma entidade multimilionária
Sua carreira como dirigente esportivo foi marcada por uma ascensão muito rápida
Sua carreira como dirigente esportivo foi marcada por uma ascensão muito rápida
Rio de Janeiro, RJ, 05 – Os discursos carregados de emoção e gafes nas cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada, no ano passado, foram os últimos atos de protagonismo do presidente Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, de 75 anos, antes de ser investigado e acusado de fazer parte de um esquema de corrupção internacional para a compra de votos para a escolha do Rio como sede exatamente dos Jogos de 2016.
No Rio-2016, Nuzman fracassou ao não atingir a meta proposta pelo COB de alçar o Brasil entre os dez primeiros colocados pelo número total de medalhas – com 19 pódios (sete ouros, seis pratas e seis bronzes), o Brasil ficou apenas na 13.ª colocação. O cartola também decepcionou em abril deste ano, quando perdeu a eleição à presidência da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). Apontado como favorito, acabou ficando em terceiro – e último – lugar. No mês seguinte, pediu demissão da Organização Desportiva Sul-Americana (Odesur), entidade que presidia havia 14 anos.
No ano passado, também encerrou um casamento de quase duas décadas com a jornalista Márcia Peltier. Os fracassos acumulados nos últimos anos contrastam com uma carreira como dirigente esportivo marcada por uma ascensão muito rápida. Ex-jogador de vôlei, Nuzman defendeu o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964. Após abandonar as quadras, não demorou muito tempo para assumir a presidência da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), em 1975.
CHEGADA AO COB
A união de marketing com bons resultados obtidos pela seleção o fizeram liderar, em 1979, um movimento de oposição ao major Silvio de Magalhães Padilha e lançar a sua candidatura ao COB. Com a promessa de aumentar o número de medalhas conquistadas pelo Brasil nos Jogos de Moscou, em 1980 (mesma estratégia usada para a Rio-2016), desafiou o poderoso major e o seu principal cabo eleitoral, o então presidente da Fifa João Havelange, mas acabou derrotado.
O vôlei se popularizou com Nuzman e o cartola perseguiu o comando do COB por anos, até que em 1990 assumiu a vice-presidência da entidade em uma época em quem novos grupos de investidores entraram no esporte e os patrocinadores passaram a ter maior visibilidade. Acumulou o cargo no COB com o comando da Confederação de Voleibol e foi eleito presidente da entidade em 1995. O seu plano era transformar o Brasil em uma potência olímpica a médio prazo. Dizia que, em oito anos, formaria uma geração de atletas vencedores.
Mesmo com a injeção de dinheiro público na entidade, não conseguiu fazer do Brasil uma potência olímpica passadas mais de duas décadas. Foi na sua gestão que o COB passou a contar, a partir de 2001, com recursos da Lei Agnelo/Piva, que destina parte da arrecadação das loterias federais ao esporte, e transformou-se em uma entidade multimilionária. Em 2002, por exemplo, foram repassados R$ 50 milhões. Para 2017, o COB trabalha com uma estimativa de arrecadar R$ 210 milhões.
A primeira grande conquista de Nuzman à frente do COB veio em 2002, quando o Rio ganhou o direito de sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007. Com o apoio de políticos, em 2009, Nuzman liderou a candidatura do Brasil para os Jogos Olímpicos de 2016. A vitória veio em 2009, assim como as acusações de que escolha foi fraudulenta.