Catar ignora os direitos humanos e protestos marcam a Copa do Mundo
Do Irã vieram protestos significativos. Na estreia contra os ingleses, os jogadores se recusaram a cantar o hino nacional como forma de apoio às manifestações contra o regime teocrático do Irã
Um protesto marcante: os jogadores da Alemanha taparam a boca. Mensagem: reprovação à proibição de usar a braçadeira de capitão da campanha One Love
A Copa do Mundo completou uma semana de jogos marcada, nas arquibancadas e em campo, por protestos contra o desrespeito aos direitos humanos no Catar. Apesar da contrariedade e das ameaças da Fifa, várias seleções se engajaram nessa luta, casos de Alemanha, Dinamarca e Inglaterra entre elas.
Um protesto marcante ocorreu na quarta-feira. Ao posar para a foto antes do jogo com o Japão, os jogadores da seleção da Alemanha taparam a boca. Mensagem: reprovação à proibição de usar a braçadeira de capitão da campanha One Love durante os jogos do Mundial. A tarja é um sinal de apoio à comunidade LGBT+, cujos direitos são simplesmente ignorados no Catar.
FIFA
Quem proibiu foi a Fifa, preocupada em não desagradar as autoridades catarianas. A entidade avisou que iria punir o capitão da seleção que usasse a braçadeira vetada.
Dias depois, porém, o diretor executivo da Associação de Futebol Inglesa (FA, na sigla em inglês), Mark Bullinghan, denunciou que a ameaça era ainda maior e ficou clara antes do jogo da equipe com os Estados Unidos. Nos avisaram duas horas antes do jogo. Vieram aqui com cinco árbitros e disseram que, no mínimo, qualquer jogador que usasse a braçadeira enfrentaria medidas disciplinares ilimitadas. Não se tratava só de uma multa ou de cartão amarelo, afirmou ao jornal espanhol Mundo Deportivo.
REAÇÃO
A Inglaterra era uma das seleções que queriam usar a braçadeira One Love para protestar contra o Catar. Impedida, passou sua mensagem de outra maneira: na estreia contra o Irã, os jogadores cantaram o God Save The King e se ajoelharam em campo – ajoelhar-se é um protesto antirracista comum no futebol inglês.
Discutimos sobre nos ajoelharmos e chegamos à conclusão que devemos fazer isso. É o que acreditamos como time, e temos feito isso por muito tempo, disse o técnico Gareth Southgate.
IRÃ
Do Irã, por sinal, vieram protestos significativos. Na estreia contra os ingleses, os jogadores se recusaram a cantar o hino nacional como forma de apoio às manifestações contra o regime teocrático do Irã, iniciadas após a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro, enquanto estava sob custódia policial – ela foi presa pela polícia da moralidade do país, por não usar um hijab corretamente.
Durante o jogo, mulheres iranianas nas arquibancadas choraram. Proibidas por 40 anos de entrarem nos estádios em seu país, após a Revolução Islâmica em 1979, muitas estavam assistindo a uma partida de futebol pela primeira vez.
No Irã, porém, tudo tem um custo. Na vitória por 2 a 0 sobre o País de Gales os jogadores cantaram o hino. No mesmo dia da partida o ex-jogador Ghafouri havia sido preso no país acusado de insultar a reputação da seleção nacional e fazer propaganda contra a República Islâmica por publicar foto no Instagram uma roupa tradicional curda. A prisão teria sido um recado para que os jogadores da seleção se comportassem.
AZADI
No entanto, nas arquibancadas torcedores iranianos exibiram cartazes com a palavra Azadi (liberdade, em persa). Essas pessoas foram intimidadas por iranianos favoráveis ao regime dos aiatolás.
A seleção da Dinamarca também protestou neste Mundial. O brasão da federação foi apagado na camisa da seleção e presidente da entidade falou até em se desfiliar da Fifa por causa da posição retrógrada do órgão. A Holanda vai leiloar todas as camisas utilizadas no torneio e o dinheiro arrecadado será destinado a trabalhadores estrangeiros no Catar. A seleção brasileira não fez nenhum tipo de protesto.
Almir Leite
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