Atacante ex-Bahia relata ser viciado em plataformas de apostas esportivas
Sem clube atualmente, ele fez questão de ressaltar nunca ter se envolvido ou participado de qualquer esquema de manipulação de resultados
Contratado pelo Campinense para disputa do Paraibano 2025, Dodô fez apenas dois jogos no Estadual contra Botafogo-PB e Esporte de Patos

Salvador, BA , 21 (AFI) – Um depoimento sincero do atacante Dodô, ex-Campinense e Bahia, chamou a atenção na última semana. Isso porque o jogador assumiu publicamente em seu perfil no Instagram ter problemas com as apostas esportivas. Sem clube atualmente, ele fez questão de ressaltar nunca ter se envolvido ou participado de qualquer esquema de manipulação de resultados.
“Sempre fui sorridente, alegre e brincalhão. Desde 2022, eu comecei a conhecer o mundo das apostas. Nunca fiz manipulação de resultado, graças a Deus. Mas eu gostava de apostar, não era jogo do Tigrinho, era jogo de futebol”, afirmou Dodô em um dos trechos do vídeo.
Contratado pelo Campinense para disputa do Paraibano 2025, Dodô fez apenas dois jogos no Estadual contra Botafogo-PB e Esporte de Patos. Antes do futebol paraibano, ele defendeu Bahia, Democrata, Ferroviária, Nacional Uberaba, entre outras equipes.
Reconhecer os sinais de uma compulsão por jogos pode ser desafiador. É comum que as pessoas usem os jogos como uma forma de fugir de conflitos internos ou como uma maneira de ganhar dinheiro rápido. O problema se agrava quando isso se torna uma compulsão, prejudicando outras áreas da vida e outras pessoas.
“Por isso, é importante buscar auxílio profissional o quanto antes, e, não hesitar em contar com o apoio da família, já que muitas vezes o compulsivo não enxerga o quanto o jogo afeta sua vida”, explica Cristiano Costa, psicólogo clínico e organizacional, e diretor de conhecimento (CKO) da Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo (EBAC).
“Quando fui ver estava distante do relacionamento com a mãe da minha filha, atualmente não tenho contato com minha mãe, irmãs. Perdi meu apartamento, carro, minha carreira.
Se eu jogar um campeonato amador hoje, o dinheiro que pego é para pagar uma dívida”, acrescentou Dodô durante o seu discurso nas redes sociais.
O depoimento emocionado dado pelo atacante assusta, mas seu relato não é o único caso recente a se tornar público. O jogador de futsal pernambucano, Williams Oliveira, o Vassoura, também revelou situação semelhante durante participação em um podcast.
“Jogo desde os 14 anos. Perdi casa, carro e ano passado procurei tratamento [após perceber que estava insustentável]. Se Deus perguntasse o que eu tiraria da minha vida, eu tiraria o jogo de apostas. Você não perde só o dinheiro. Perde tempo, família. Não é fácil”, disparou o jogador, 39 anos, que atualmente segue sua carreira atuando pelo Atlético Piauiense.
Multicampeão, o jogador defendeu o Pato entre janeiro e julho de 2019, temporada em que o time paranaense sagrou-se campeão da Liga Nacional. Ele também disputou a Copa do Mundo de futsal de 2016 por Azerbaijão, terminando em sexto e figurando na lista dos principais artilheiros, com seis gols anotados. “Eu cresci vendo minha mãe jogar jogos de azar. Não é fácil. A galera fala assim: mas poxa, por que você é viciado? Eu sou um cara sozinho no mundo, eu não tenho pai, não tenho mãe, não tenho ninguém. Então, acontece qualquer coisa comigo, só tem eu para resolver”, seguiu.
Os dois casos não são incomuns no futebol. Por uma regra estabelecida nas modalidades, atletas envolvidos nas disputas não podem participar ativamente de apostas. Mas outros nomes do esporte já tiveram problemas e até cumpriram suspensão por causa disso.
Um dos primeiros casos foi o do atacante Ivan Toney, do Brentford. Ele ficou suspenso do futebol por oito meses por ter violado as regras de apostas esportivas da Federação Inglesa, que queria suspendê-lo por quinze meses, mas reduziu a pena depois que o inglês admitiu os fatos e foi diagnosticado com vício em jogos de azar pelo psiquiatra Philip Hopley.
Outro caso foi o do meio-campista Fagioli, da Juventus, suspenso por sete meses. Em entrevista ao jornal italiano “Gazzetta dello Sport”, Fagioli comentou a respeito da sua fixação por jogos e detalhou os prejuízos causados pelo mesmo. Outro exemplo e que teve maior repercussão foi o do seu compatriota Tonalli, do Newcastle e da seleção da Itália.
O fácil acesso a plataformas de entretenimento tem sido pauta de muitos debates, principalmente quando o tema é o vício em jogos, que já é uma grande realidade. O Brasil tem, em média, dois milhões de viciados em jogos, de acordo com o Departamento de Psiquiatria da USP. Um levantamento do Instituto Locomotiva indica que 52 milhões de pessoas já apostaram na modalidade ao menos uma vez.