Na Boca do Gol: As tardes de Domingo em 1988…
Diante de um futebol tão fraquinho praticado nos últimos tempos, diante de um quadro tão triste, com pessoas sofrendo, mortes, estádio sem público, dias cinzentos, como bom canceriano (um tanto quanto melancólico) que sou, me dei ao luxo de compartilhar com vocês um texto que escrevi no ano passado (também durante a pandemia), quando estava, e ainda estou, mergulhado em melancolia e saudades…
Você lembra como eram suas tardes de domingo lá por volta de 1988?
A macarronada da minha avó Jacyra estava divina, sentada em seu quarto a tia Benê com o radinho ligado ouvia as informações do jogo da tarde, o seu Orlando Vermelho (meu avô) falava sobre as eleições daquele ano com o Tio Fábio e a minha prima Alessandra fazia uma tremenda onda para comer seus nuggets… Eu tomava com muito gosto meu último gole de “Coca-Cola”.
Naquela época, aos dez anos eu já adorava política, vivia aquilo como o futebol. Éramos torcedores do Guido Miné (candidato), não era só uma eleição para prefeito, era como se fosse um clássico no Morumbi lotado. Mas naquele domingo a pesquisa da Gazeta de Taubaté pouco me importava, muito menos o que o Salvador Khuriyeh (o outro candidato) tinha dito.
Naquela tarde, levantei rápido da mesa, tomei alguma bronca de leve do Seu Orlando, a tia Edna deve ter falado algo também, e a Vó perguntou se meu pai vinha me buscar, respondi que sim e que o Tio Tadeu também iria com a gente. Enquanto o tio despedia dos demais, eu já estava sentado na mureta na porta da casa. Não demorou muito e meu pai com sua “Variant” branca ligada na rádio passou para nos pegar rumo ao estádio… Naquela tarde paramos perto da casa da Tia Ivone, atravessamos a linha e de cara deu para observar, a “Casa” estava cheia!
Era o momento mais feliz de todos para um garoto de dez anos… Nem mesmo o hambúrguer da “Fino Coffe”, a pizza do “Convênio” ou mesmo a piscina ou partidas de futebol de salão na AABB, nada era mais legal que aquele clima de “Joaquinzão”. Tinha gente apressada, barulho de fogos, vendedores de laranja já descascada naquelas redinhas amarelas, tinham bandeiras, de todos os tamanhos e modelos, sempre nas cores azul e branca. Nessa época ficávamos atrás do gol de entrada, às vezes encontrava no caminho ou já lá no estádio com os amigos, era o Leandro, Rodrigo, os irmãos Miragaia, o Reginaldo santista do “Dom Pereira”, o Dimas (que vivia querendo bater em mim), tinha o pessoal da Vila Marli que ficava perto da Torcida Explosão (que depois fundaram a Dragões)
Geralmente fazia muito sol, eu e meu irmão Fabinho, estávamos sempre com bonés e nada nos faltava, laranja, refrigerante, picolé, água… E o palavrão do portão do estádio para dentro era liberado! O time entrava em campo com muitos rojões (grande Maciel) e com cinco minutos de bola rolando o talco ou pó de arroz fazia uma fumaça branca… A bandinha de carnaval vinha tocando o tradicional “poropópó”, e as pessoas iam se levantando, a Explosão abria caminho para seu lugar na arquibancada.
Em campo nosso time era ótimo! Meus ídolos eram o Marcelo (goleiro), o Neto, Alberto, Careca, Miguelzinho e Reinaldo Xavier. Meu pai era fã do Alencar nosso camisa cinco. Tinha também o Daniel, Fagundes, Ailton… Como era legal!
Não vou lembrar do empate contra o Catanduvense que nos tirou a chance de subir. Aquele campeonato de 1988 foi muito maior que aquele jogo!
Foi a primeira vez que a minha geração viveu com tanta intensidade um campeonato, o time da cidade passou a ser nossa prioridade. O Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos passaram para o segundo plano. Nossas conversas eram sobre o Taubaté. No rachão da rua ou na quadra improvisada da escola, éramos o Burrão da Central, até a minha capa da prova foi um desenho da nossa torcida com faixas das torcidas Explosão e Camisa 14.
Naqueles domingos de 1988 aprendi a ser torcedor de verdade. Não subimos, o nosso candidato a prefeito perdeu feio a eleição e um pouco depois meu pai foi transferido para Santos (onde acabei passando uma temporada). Talvez, tenha sido uma época complicada para os meus pais, hoje sei que o momento econômico do país era péssimo, mas mesmo sendo curioso e leitor voraz da Folha em casa e do Diário Popular no meu avô, eu ainda era um menino que sonhava em ser jogador de futebol e gostava da Vanessa que morava perto da minha antiga casa na Monção (Gláucia você foi um ano antes) e tenho essa época guardada com muito carinho no coração.
Em 1988 foi assim, teve o título do Timão com o gol do Viola, tinha as aulas de judô, as olimpíadas de Seul, a querida professora Maria Imaculada (que hoje mora no céu), ainda jogávamos Atari e fazíamos fabulosos campeonatos de futebol de botão, mas nada foi mais marcante que as tardes de domingo no Joaquinzão.
Que saudade de ver o meu Esporte Clube Taubaté no Joaquinzão!