Fifa abafou caso de doping de jogador russo, diz jornal britânico

No total, 155 ocorrências no futebol do país-sede da Copa teriam sido revelados; desses, 34 teriam chegado até a entidade mundial

No total, 155 ocorrências no futebol do país-sede da Copa teriam sido revelados; desses, 34 teriam chegado até a entidade mundial

0002050322571 img

Campinas, SP, 23 – A Fifa sabia e abafou casos de doping na elite do futebol russo. As acusações foram publicadas na noite deste sábado pelo jornal britânico The Mail on Sunday, com base em investigações realizadas pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês).

De acordo com a reportagem, o Ministério do Esporte da Rússia encobriu um teste positivo de um dos jogadores inicialmente convocados para a seleção que disputa a Copa do Mundo, Ruslan Kambolov.

OS NÚMEROS
No total, 155 casos de doping no futebol russo teriam sido revelados. Desses, 34 casos foram investigados e teriam chegado até a Fifa. A entidade insiste que, por mais de um ano, avaliou essas informações. Mas não abriu qualquer tipo de processo. Um mês antes da Copa, ainda declarou que considerava que as informações que dispunha eram “insuficientes” para concluir se houve ou não um doping no futebol russo.

O XIS DA QUESTÃO
O caso mais problemático seria de Ruslan Kambolov. Em 2015, ele foi selecionado para passar por exames antidoping, enquanto jogava pelo Rubin Kazan. Seu teste deu positivo, levando o Ministério dos Esportes a procurar o chefe dos laboratórios, Grigory Rodchenkov, para pedir orientação. Rodchenkov foi quem denunciou o esquema de doping nas Olimpíadas de Sochi, em 2014, e que levou o esporte olímpico russo a ser parcialmente banido da Olimpíada do Rio, em 2016. Um dia depois, um agente do Ministério dos Esportes indicou que o teste estava “salvo”, numa referência sobre a necessidade de encobrir o resultado.

TEM MAIS
O passo seguinte, seis dias depois, foi o envolvimento do FSB – o serviço de inteligência da Rússia – para trocar a amostra de urina do jogador. Naquele momento, a Rússia mantinha um estoque de dez mil amostras de urinas “limpas” que poderiam ser trocadas por amostras de urina de atletas dopados. Os dados estão nas agendas de Rodchenkov, apontando para o envolvimento do espião Evgeny Blokhin, o mesmo que também operou nos laboratórios de Sochi.

OLHA O NÍVEL
Richard McLaren, especialista que conduziu as investigações sobre o doping russo, acredita que não existiam amostras limpas de Kambolov, o que levou as autoridades a trocarem sua urina por uma de outro atleta. A troca foi feita com um atleta do pentatlo moderno. Naquele momento, a Fifa desconhecia os casos, já que eles foram abafados pelos russos. Mas, quando o esquema de doping de estado surgiu no movimento olímpico, a informação também foi repassada para a cúpula da entidade em dezembro de 2016.

Fifa abafou caso de doping de jogador russo, diz jornal britânico

Fifa abafou caso de doping de jogador russo, diz jornal britânico

QUEM É?
Kambolov esteve na seleção até abril de 2018, mas acabou sendo cortado para a Copa sob justificativa de uma lesão. Para McLaren, seu afastamento tem uma relação direta com o doping e com a declaração simultânea da Fifa de que o futebol russo estava “limpo”. O investigador ainda confirmou que, desde o ano passado quando apresentou as evidências para a Fifa, a entidade jamais voltou a o contactar.

VERSÃO
A Fifa nega e insiste que não tinha informações suficientes para processar um atleta. Além disso, classificou as declarações de Pound e de McLaren de “desinformadas”.

MAIS?
Mas esse não seria o único caso e existem indícios de que a elite do futebol russo tem sido beneficiada por esquemas de doping. Os 34 casos com documentação na Fifa já estão em Zurique por 18 meses. Mas, ainda assim, nenhuma providência foi tomada. Vinte e três deles se referiam a jogadores que estavam na Copa de 2014, no Brasil.

O MOTIVO? $$
Ao jornal britânico, o ex-presidente da Wada, Richard Pound, considerou que a dimensão “bilionária” da Copa seria o motivo para o silêncio da Fifa sobre as suspeitas de doping. O temor da entidade, segundo ele, é minar a credibilidade da Copa do Mundo, um evento que movimenta US$ 6,1 bilhões.

COINCIDÊNCIA?
Chamou a atenção do mundo o desempenho da seleção russa, que, em dois jogos, marcou oito gols e foi a que mais correu: 230 quilômetros. Pound insiste na necessidade de uma investigação independente sobre o caso e ataca a Fifa por não agir.

O ROSTO DO DOPING
O escândalo do doping russo e a Copa do Mundo coincidem em pelo menos um aspecto: o envolvimento de Vitaly Mutko, ex-CEO da Copa, ex-ministro dos Esportes russo e acusado como sendo a pessoa que orquestrou o doping de estado. Na semana passada, ele inclusive recebeu o ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, para um jantar na presença de Vladimir Putin e de Alexey Sorokin, CEO da Copa.