O que devemos observar e refletir após a eliminação da Alemanha

Após a grande campanha da Copa do Mundo de 2014, a Alemanha sofreu uma inesperada eliminação, ainda na fase de grupos da Copa do Mundo

Após a grande campanha da Copa do Mundo de 2014, a Alemanha sofreu uma inesperada eliminação, ainda na fase de grupos da Copa do Mundo

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Por Lucas Brando Leite

Campinas, SP, 04 (AFI) – Com isso, grande parte da mídia e da massa de torcedores, ironizou e questionou o processo conduzido pelo futebol alemão, assim como suas teorias, alegando que o Brasil não precisa aprender com as ações praticadas pelos germânicos.

Após o histórico e decepcionante 7 a 1 de 2014, a Alemanha foi tida como modelo à ser seguido pelo futebol brasileiro. Diferentemente de outros países que conquistaram títulos e resultados expressivos na Copa do Mundo, a Alemanha teve não só uma seleção competitiva, mas também um futebol nacional bastante estruturado.

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Podemos analisar vários exemplos de desequilíbrio nesse sentido:

– A Inglaterra tem a principal liga de todo o mundo, todavia não conseguiu ter uma seleção competitiva nos últimos anos. Desde o ano de 1990, sua seleção não disputa sequer a semifinal da Copa do Mundo.

– A Itália foi campeã em 2006 e passou longe de ser apontada como modelo a ser seguido. Desde então, a Seleção Italiana viveu duas eliminações ainda na fase de grupos da Copa (em 2010 e 2014) e sequer se classificou para a Copa do Mundo de 2018. Além disso, suas ligas e finanças tiveram uma grande queda.

– O Brasil foi campeão em 2002 e viveu um longo período de “decadência” técnica na seleção, além de ter um futebol nacional conturbado, questionável e deficitário para os clubes. Isso sem falar nos diversos dirigentes envolvidos em escândalos administrativos.

Tudo isso mostra que ser vencedor, não significa ter o melhor futebol do mundo. O futebol é dinâmico. Nele o céu e o inferno são muito próximos. O que dá certo hoje, muitas vezes não terá consistência e regularidade para dar certo no amanhã.

Antes de fazer qualquer análise, precisamos separar bem os pontos: O FUTEBOL ALEMÃO é uma coisa e a SELEÇÃO ALEMÃ outra.

A Alemanha de 2014 foi ovacionada por conseguir atingir a excelência no futebol nacional e na seleção nacional. Já em 2018, apenas a Seleção Alemã tem um processo questionável, uma vez que a estrutura do futebol alemão continua sendo impecável administrativamente.

Em relação ao futebol local, a Alemanha estruturou com excelência máxima a sua gestão financeira, o seu plano de excelência para clubes, as suas ligas nacionais/regionais, a sua interação com o público consumidor, a periodização tática, o potencial das marcas, a capacitação de treinadores e a formação de atletas por meio de centros de inteligência municipais (como enfatizei na última coluna).

Já em relação à seleção nacional, “bem ou mal” a Alemanha desenvolveu uma estratégia que deu certo! Em 2000, junto à empresa belga Double Pass (especializada em traçar planos e avaliar projetos de formação de jogadores), a Alemanha traçou um rigoroso plano de formação de jogadores, para formar uma seleção estruturada à longo prazo. Após 14 anos, o país colheu os frutos de todo o planejamento executado.

Nos últimos anos, a Alemanha teve uma excelente sequência de resultados nas competições:

Copa do Mundo de 2006 – Semifinalista

Eurocopa de 2008 – Vice Campeã

Copa do Mundo de 2010 – Semifinalista

Eurocopa de 2012 – Semifinalista

Copa do Mundo de 2014 – Campeã

Eurocopa de 2016 – Semifinalista

Quais seriam as justificativas para o fim dessa sequência de resultados expressivos?

Após o título de 2014, a Alemanha sabia que teria de viver uma fase de transição, uma vez que titulares como Philipp Lahm, Klose, Lukas Podolski e Schweinsteiger, além alguns dos reservas, anunciaram aposentadoria da seleção. Essas “baixas”, modificaram a “espinha” titular da Alemanha, que foi planejada para atuar em alto nível de 2010 a 2018.

Com isso, essa “nova equipe”, necessitava de entrosamento, coletividade e repetição. Entretanto, a Alemanha caiu em um grupo limitado nas Eliminatórias Européias, cujo nível de exigência técnica foi muito aquém do que a Alemanha enfrentaria na Copa do Mundo. Além do mais, competições como os Jogos Olímpicos e a Copa das Confederações foram utilizadas como “laboratório”, para lapidar jovens atletas da próxima “geração titular”, assim como em alguns amistosos. Ou seja, o time perdeu alguns jogadores de 2014 e não se preparou em alto nível para atingir a excelência coletiva.

A Alemanha chegou na Copa de 2018, tendo um processo extremamente consistente e uma equipe confiante, desprevenida para viver situações adversas tão precocemente. A falta de repetição e sequência em alto nível da equipe considerada titular, foi um grande risco assumido pelos germanicos. Pensar no futuro, sem viver o presente com a intensidade necessária, é uma aposta muito arriscada. Além disso, atletas como Marco Reus, Ilkay Gündogan e Manuel Neuer tiveram lesões inesperadas e acabaram ficando sem o ritmo ideal. O que também foi inesperada, foi a queda de rendimento de Mário Gotze e além dos fortes rumores à respeito de atritos entre alguns jogadores.

Com todos os equívocos e situações adversas, o auge da geração “de ouro” da Alemanha chegou ao fim antes do previsto. Porém, a eliminação precoce da Alemanha, não apaga a organização, assertividade na forma de se pensar o futebol e todo o projeto que a mesma executou nos últimos anos. Assim como os 7 a 1 e as eliminações precoces do Brasil em diferentes edições da Copa América, não apagaram o que o Brasil já fez de positivo e o que tem de instrumento para fazer um futebol ainda melhor que o atual.

Copiar o modelo alemão (assim como qualquer outro modelo), é inviável e impossível, uma vez que o mesmo foi desenvolvido para a realidade do FUTEBOL ALEMÃO. Este método de condução dos processos não foi copiado de outro país e sim DESENVOLVIDO através de ideias oriundas das peculiaridades do futebol germânico e de experiências (positivas e negativas) de outros países.

Da mesma forma que não devemos copiar um modelo de outro país por conta de um título de Copa do Mundo, não podemos simplesmente pensar que trocar o treinador é a solução para as diversas necessidades que o futebol brasileiro possui.

Aprender é sempre válido. Podemos sim aprender e utilizar muitas das ações praticadas pela Alemanha. Assim como os acertos de 2018, seus erros na Copa do Mundo de 2018, também podem nos servir de aprendizado. Até mesmo as seleções sem a mesma expressão da Alemanha podem nos proporcionar um ou outro ensinamento.

O futebol mundial de modo geral, certamente já aprendeu muito com o futebol brasileiro e continua aprendendo até hoje. Todos os países têm o que ensinar e também o que aprender, mesmo que uns mais e outros menos.

Acreditar que devemos desconsiderar os ensinamentos que a Alemanha “forneceu” ao futebol mundial, é uma grande ignorância e uma grande perda de oportunidade.

Torço muito para que possamos extrair o melhor que modelos e cases de sucesso possuem de interessante, para que o nosso futebol possa ser aprimorado.

Desta forma, seria possível a introdução de um plano para um FUTEBOL estruturado e não apenas para uma seleção competitiva.

ATUALIZAÇÕES NO CURRICULO

É um jovem Executivo de Futebol do futebol brasileiro. Possui uma eclética formação em cursos sobre os negócios do esporte. Foi executivo de futebol e CEO no Flamengo-SP. Ministrou cursos pela Escola do Esporte, FC Futebol e aulas pontuais para turmas da EEFEUSP. Atualmente, é Executivo de Futebol do Capital Futebol Clube (TO) e gerencia o Departamento de Scout da escola THE360, que já realizou trabalhos para a base da Chapecoense, para a Seleção Catarinense Sub 20 e hoje presta serviço para as categorias de base do Avaí FC.