Dá saudade do jornalismo esportivo de Brasil de Oliveira, nos anos de 1990, para a atualidade. A diferença é enorme. Incrível: 'nós pioramos'
Brasa atuava na era da máquina de escrever Olivetti, que celular ainda estava engatinhando por aqui, e a Internet não passava de projeto.
Por ARIOVALDO IZAC
Campinas, SP, 12 (AFI) – Blog do Ari em temos de saudade. Há quatro anos, no dia dez de setembro, havia recontado a história do jornalista esportivo Brasil de Oliveira, o melhor de todos os tempos de Campinas, morto em 1996.
Nesta quinta-feira, a pauta de conteúdo impressionante esvaziado no segmento futebol de um veículo de comunicação de Campinas e outro em Belém do Pará me fez recordar da arrogância assumida pelo velho ‘Brasa’ quando dizia, sem rodeio, que no seu segmento tirava o chapéu apenas para o saudoso comentarista João Saldanha.
“Sobre os demais, estou a anos luz à frente”, gabava-se nas rodinhas do Largo do Rosário, área central de Campinas, ou nas habituais refeições no Restaurante Éden Bar, que fica defronte.
Pois ele foi um boêmio que detestava bebida alcoólica e varava madrugadas bebendo água Lindoya ou Coca-Cola.
AIRTON FARÁ FALTA
Não seria preciso ensinar o ‘bê-a-bá’ para o repórter da nova geração sobre o reflexo da ausência do atacante Airton, do Guarani, diante do Paysandu, devido à uma lesão.
Bastaria recapitular jogadas em que ele teve participação ativa neste processo de recuperação da equipe bugrina, neste segundo turno da Série B do Brasileiro.
Brasa atuava na era da máquina de escrever Olivetti, que celular ainda estava engatinhando por aqui, e a Internet não passava de projeto.
Como também escrevia para o Jornal da Tarde, por vezes fazia uso de duas linhas telefônicas simultaneamente, para contatos neste Brasil afora, ao acionar a rede de informantes sobre quem era quem no futebol de Norte e Sul do País.
Logo, se ainda estivesse entre nós, caçoaria da mesmice do veículo de comunicação que resumiu o informativo quer da Ponte Preta, que vai recepcionar o Ituano nesta sexta-feira, quer sobre o Guarani, que no sábado vai jogar em Belém do Pará, contra o Paysandu.
RÁDIO DE BELÉM
Aí, para saber a quantas anda o Paysandu, sintonizei, através da Internet, emissora de rádio da capital paraense, e lamentavelmente apenas especulações sobre o time, na base do ‘eu acho que Márcio Fernandes, treinador que substitui Hélio dos Anjos, não vai mexer no centroavante Nicolas’.
Eu acho, em vez de informação. Em vez da palavra do treinador, chutômetro descabido para manutenção de Nicolas, que não está jogando absolutamente nada há várias partidas.
Embora tivesse morrido aos 46 anos de idade, Brasa contava histórias do futebol com riqueza de detalhes, dando a impressão de que fosse um septuagenário.
JOÃO 17
Católico praticante e devoto de Nossa Senhora Aparecida, pode-se dizer que ele vivia no mundo, mas parecia um ser de outro mundo.
Na tradução ao pé da letra do capítulo 17, versículo 16 do evangelho de João, da Bíblia Sagrada, o sermão de Jesus Cristo foi esse: ‘Vivo no mundo, mas não sou do mundo’.
Na doutrina dos evangélicos pentecostais do passado, isso significava que membros daquelas comunidades deveriam ficar alheios das coisas materiais, e terem apego apenas às espirituais.
Por quê Brasil de Oliveira parecia um ser de outro mundo?
Ora, você conhece alguém lúcido, sábio e comunicativo ser totalmente desprendido de bens patrimoniais?
ROUPA DO CORPO
Difícil, mas ele era assim. E testemunhou isso no ar, ao microfone da Rádio Central de Campinas:
“Meu patrimônio se resume a algumas anotações telefônicas, livros que disponho e a roupa do corpo”.
Automóvel? Nem pensar. Quanto tinha dinheiro, esbanjava ao se transportar de táxi. ‘Durango’, como ocorria na maioria das vezes, usava ônibus ou apelava aos amigos para a carona.