Endrick esnoba críticas e afasta 'odio no coração' para chegar à seleção
Com apenas 17 anos, o atacante do Palmeiras tornou-se o quarto mais jovem jogador a estrear com a amarelinha, na derrota por 2 a 1 para a Colômbia
Atacante relembra pressão enfrentada no começo do ano e diz: "Mudei minha cabeça"
São Paulo, SP , 19 (AFI) – Endrick se apresentou à seleção brasileira, há pouco menos de uma semana, como um dos nomes mais badalados do grupo convocado por Fernando Diniz, mas, no início deste ano, não imaginava um cenário como este. Vendido ao Real Madrid em dezembro de 2022, o jovem atacante, hoje com 17 anos, iniciou a temporada 2023 com sua qualidade sendo colocada em cheque. Ele não esconde que, naquele momento, as críticas o atingiram em cheio e influenciaram seu comportamento, moldado pela ânsia de calar os detratores, conforme revelou em coletiva neste domingo, na Granja Comary.
“Foi um começo de ano muito difícil. Tinha 16 anos, era um garoto que gostava de ver as coisas, ver o povo falando de mim. Tinha uma expectativa muito alta por ser vendido muito novo para o Real Madrid. Eu gostava de ficar vendo e só via gente me criticando, falando mal de mim. Eu queria rebater, fazer um bom jogo para rebater. Depois, eu fiz 17 anos, creio que mudei minha cabeça e jogar para ser feliz, não jogar com ódio no coração. Foi isso. Estou bem com tudo mesmo, não ligo mais para críticas. Se criticar, vou ficar tranquilo. O que importa para mim é minha felicidade e a felicidade da minha família”, afirmou.
O processo de mudança de postura foi longo e contou com apoio fundamental de pessoas importantes na vida de uma das maiores promessas do futebol brasileiro dos últimos tempos. Uma dessas é o zagueiro Murilo, do Palmeiras, por quem Endrick foi acolhido desde que começou a ser aproveitado no profissional, com conselhos e uma inabalável parceria. “Eu via as pessoas falando e jogava querendo mostrar que não era aquilo. Isso me destruiu um pouco. Uma pessoa que me ajudou muito foi o Murilo, em toda minha trajetória pelo Palmeiras”.
Embora criticado pelos palmeirenses por ter demorado para dar mais espaço ao prodígio da Academia, o treinador Abel Ferreira também foi citado pelo garoto como um nome importante do caminho que o levou à seleção brasileira. “O Abel é uma pessoa fenomenal. Em campo, ele se transforma em outra pessoa. Quando ele chama você pra conversar, ele é um cara excepcional. Devo muita coisa para ele, muito dessa convocação se deve a ele”.
O grupo de exaltados conta é claro com Douglas e Cíntia Ramos, pais do jogador. Douglas já apareceu bastante nos noticiários, sempre emocionado ao falar do filho, por isso Endrick ficou bastante feliz ao responder uma pergunta sobre a mãe durante a coletiva, e não poupou palavras para expressar sua gratidão.
“Ninguém fala da minha mãe. Como ela fala, eu não nasci de um ovo. Ela sempre esteve comigo. Quando eu fui para o Palmeiras, a primeira a largar tudo foi minha mãe. Meu pai ficou em Brasília, não que tenha feito errado, ele não podia largar o trabalho. Mas ela dava coisas pra eu comer, passava fome”, disse. “Minha mãe foi peça essencial de toda minha luta. Devo tudo a ela, espero que esteja feliz comigo”, completou.
O atacante também destacou o quanto a disciplina pela qual começou a ser reconhecido está relacionada aos ensinamentos de Cíntia. “Pega muito no meu pé, fala sobre minhas amizades. Eu quase não tenho amigos, quase não saio. Sempre fico em casa por conta da minha mãe. Óbvio que gostaria de sair, de me divertir. Minha mãe me coloca sempre no lugar e ela me transformou em um homem de caráter. Vou fazer o que for preciso no trabalho. Quando estiver de férias, de boa, também tenho vida, vou me divertir, mas quando eu estiver no meu trabalho, estou 100% focado nele”.
TIME CR7
Na terça-feira, às 21h30, Endrick pode ir a campo no Maracanã para enfrentar a Argentina, em clássico válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. A possibilidade jogar contra o Messi, que ganhou a Copa passada e recebeu sua oitava Bola de Ouro recentemente, anima o adolescente, mas até certo ponto, já que ele está do lado daqueles que preferem Cristiano Ronaldo ao astro argentino. “Sobre o Messi, é um cara fenomenal como todos sabem. Melhor do mundo novamente… poder jogar contra ele, poder olhar pra ele, só via no videogame”, afirmou, antes de acrescentar: “O Messi é grande, mas sou mais fã do Cristiano Ronaldo”.
Apesar de inspirado no português, um viciado em protagonismo, Endrick não adota exatamente a mesma postura. O jovem atacante é confiante e tem espírito de liderança, mas sabe que ainda tem muito a caminhar, inclusive não esperava ser convocado para a seleção brasileira principal nesta Data Fifa e sim para a seleção olímpica, que está treinando no CT Joaquim Grava, do
Corinthians, em São Paulo, como preparação para o Pré-Olímpico, marcado para janeiro, na Venezuela.
“Eu estava esperando a olímpica, não estava esperando a convocação (principal). Estava treinando, e as pessoas estavam me ligando, celular estava tocando. Quando o treino acabou, eu fui ver com meu pai e sabia que ele já estava chorando, minha mãe também. Deu aquelas borboletas na barriga, depois agradeci a Deus por tudo que vem acontecendo na minha vida”, afirmou.
Sobre a pressão que muitos torcedores têm feito para vê-lo como titular do Brasil, Endrick também mantém os pés no chão. “Estou bem tranquilo. Claro que não tem como escapar disso que falam que o protagonista tem que ser eu, mas protagonista tem que ser o time. Não adianta eu fazer um gol e tomar mil gols. A gente joga em equipe, ninguém é melhor que o outro, eu deixo isso sempre claro. Estar trabalhando com pessoas maravilhosas é uma coisa muito boa para mim”, disse.
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