'O ano do Santos é tenebroso. Temos um turno para tirar o time dessa situação', diz presidente Rueda
O presidente admitiu todos os erros da temporada, como a troca seguida de treinadores, reconheceu o momento ruim do time e do clube, estabeleceu “ano zerado”
O time paulista corre sérios riscos de rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro
Santos, SP, 29 – Eliminado na primeira fase do Campeonato Paulista e da Copa Sul-Americana, com o segundo pior primeiro turno da história do clube no Campeonato Brasileiro com 20 clubes e dentro da zona de rebaixamento após 21 rodadas. Esse é o momento do Santos. Na semana passada, a equipe teve de volta o apoio da torcida após a Vila Belmiro ficar fechado por punição. A bola de neve dos problemas do time só aumenta. Em entrevista ao Estadão, o presidente Andrés Rueda admitiu todos os erros da temporada, como a troca seguida de treinadores, reconheceu o momento ruim do time e do clube, estabeleceu “ano zerado” e se emocionou ao falar de Pelé, morto no ano passado.
“O ano do Santos é tenebroso, é horrível até aqui. Não posso brigar com o que os resultados mostram. Nem de perto foi o que pensamos, mas as escolhas sempre foram feitas visando o acerto. Existem coisas que fizemos, que o torcedor não sabe, que estruturou o clube para um futuro. Mas 2023 é horrível. Sabemos que temos de correr contra o tempo para tirar o Santos desta situação. De agora até o fim do ano é zerar tudo e buscar recuperar o que podemos”, disse o presidente.
Dentro de campo praticamente tudo deu errado em 2023 para o Santos. Além da falta de resultados positivos e a briga com a parte de baixo da tabela do Brasileirão, Odair Hellmann e Paulo Turra, e agora Diego Aguirre, já foram treinadores do time no ano. Aguirre é a bola da vez. Além disso, Paulo Roberto Falcão deixou o cargo de coordenador técnicoe Alexandre Gallo chegou para o lugar. Há marcas negativas também na conduta de Falcão, acusado de assédio no hotel onde morava em Santos – ele nega. Mas tudo isso respinga na imagem do clube. Sobre a confusão dentro e fora do departamento de futebol, Rueda admite culpa e só vê um caminho: recomeçar.
“Eu sou responsável pelo que aconteceu. Não tem como brigar com o resultado, ou a falta dele. Todas as pessoas que passaram no Santos neste ano são muito boas profissionalmente, não tenho nenhum motivo para apontar o dedo ou reclamar de nenhum deles. Mas quando não se tem resultado no futebol é necessário mudar. Trocamos o comando do time, trouxemos novos jogadores para qualificar o elenco e repor as saídas que tivemos e agora é fazer tudo que for possível para recolocar o Santos no patamar que merece”, explicou o presidente, cujo mandado vai até dezembro deste ano.
Rueda é matemático e empresário aposentado. Foi segundo colocado na eleição do clube em 2017. Foi programador, analista, gerente e ingressou na Bolsa de Valores e Bolsa Mercantil de Futuros (BMF). Atuou como diretor de tecnologia das bolsas por 20 anos.
SAÍDAS PARA MANTER O PLANEJAMENTO
Na parte final da janela de transferências do mercado brasileiro e europeu, que fecha em setembro, o Santos foi um dos times mais ativos. Buscando melhorar o time após um primeiro semestre péssimo e tenebroso, a diretoria contratou os laterais Dodô e Júnior Caiçara, o zagueiro João Basso, os meias Tomás Rincón, Nonato e Jean Lucas e o atacante Julio Furch, que marcou o gol da vitória contra o Grêmio na abertura do returno do Brasileirão.
Por outro lado, a equipe paulista perdeu Ângelo e Deivid Washington, duas joias da base santista, e esteve muito perto de não contar mais com o futebol de Marcos Leonardo, que negociou com Roma e Lazio e acabou permanecendo na Vila após período sem treinar com o grupo profissional. Questionado sobre a questão financeira do Santos, Rueda é direto ao explicar cada detalhe.
“Quando chegamos em 2021, o clube não tinha nenhum centavo para receber. Tudo já havia sido antecipado por gestões anteriores. O Santos estava praticamente falido, quebrado. Hoje a situação é melhor, mas está longe de ser confortável. Posso me orgulhar e falar que não existe nenhum funcionário do clube com salário atrasado e as vendas que aconteceram, do Ângelo e do Deivid Washington (que podem render até R$ 188 milhões), foram necessárias para manter as contas em dia até o fim do ano e também qualificar o elenco”, explicou Rueda.
O torcedor não entende as contas. Vê o clube sempre no vermelho, mesmo com as vendas de jogadores, e sonha com um estádio novo, conforme anunciado pelo clube e a parceira WTorre, a mesma que construiu o Allianz Parque, do Palmeiras. Mas nada aconteceu ainda.
“Sobre o Marcos Leonardo, eu preciso explicar. A negociação só é concretizada quando temos uma proposta boa para o clube e para o atleta. No caso dele, a oferta não era boa para o Santos e, durante as conversas, fechamos a venda de dois atletas do mesmo setor. O nosso planejamento mostrava que seria necessário vender dois atletas e, no caso do Marcos, tecnicamente falando, não poderia perder o jogador e ter três baixas no setor (ataque). Conversamos com ele e com o clube interessado e deixamos aberta a possibilidade de negociação para a próxima janela”, disse o presidente.
RELAÇÃO COM A TORCIDA E COM PELÉ
Por causa dos resultados em campo e as decisões fora dele, a relação de Andrés Rueda com a torcida do Santos não é boa. Ele é apontado por torcedores nas redes como o pior do clube nos últimos anos. Foi comum nas duas últimas temporadas ver os torcedores na Vila criticarem o presidente antes e depois dos jogos. Não há esperança de ganhar nada e o time corre risco de ser rebaixado, o que seria a primeira vez em sua história e bem no ano seguinte à morte de sua maior ídolo, Pelé.
“O torcedor sempre tem razão. Ele estão certos em me criticar porque o Santos não vem desempenhando o que se espera dele. O torcer é o que move o clube e eu agradeço por eles estarem juntos para ajudar o time neste momento difícil. Precisamos de todos juntos, jogadores, comissão técnica, diretoria e torcida, para que o Santos consiga deixar esse momento para trás”, ponderou Rueda.
Vale lembrar que por causa dos objetos e rojões lançados no campo pela torcida na partida contra o Corinthians, o Santos foi punido com oito jogos sem a presença dos torcedores na Vila Belmiro.A equipe apelou da decisão e conseguiu a redução para quatro partidas e a volta do público aconteceu no jogo contra o Grêmio, na abertura do returno. Perdeu dinheiro com a falta de bilheteria. Em sua gestão também, Rueda disse que a camisa do Santos parecia um macacão de F-1 com tantas marcas. Queria limpar o uniforme sem perder receita.
Morto no fim de 2022, nem Pelé foi esquecido pelo presidente em sua entrevista ao Estadão. Questionado sobre como foi lidar com todo o momento do adeus ao Rei, quase um ano depois, Rueda não segurou a emoção.
“Não vou mentir. É um orgulho para mim ter conseguido fazer com que a relação entre Santos e Pelé voltasse a existir. Quando cheguei, não era segredo para ninguém que a relação do clube com o Neymar era péssima e com o Pelé era pior ainda. Conseguimos reaproximar isso. O Pelé, durante sua reta final de vida, foi o meu conselheiro de futebol. Me ligava toda semana para falar do time. Quando a situação médica piorou. a Marcia, sua mulher, manteve esse relacionamento. O adeus ter sido feito aqui, na Vila, no estádio dele, no time dele, também foi motivo de emoção”, disse Rueda.
Apesar da melhora de desempenho e de resultados nas últimas partidas, o Santos vive temporada para esquecer dentro e fora de campo. Um dos três únicos times da história do Brasileirão que ainda não caíram de divisão no âmbito nacional (ao lado de Flamengo e São Paulo), a equipe da Vila precisa quase que dobrar seu aproveitamento de pontos em relação ao primeiro turno para não ser rebaixada. Corre risco. Questionado sobre o que espera e deseja que a torcida entenda do clube, Rueda foi direto:
“Viva o Santos. Viva o Santos. Não existe nada maior do que o Santos no futebol e o torcedor sabe disso. Viva o Santos. Isso vale para torcedor, jogador e qualquer um que sabe o que é ser torcedor do alvinegro da Vila. Viva o Santos e mais nada”.
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