Pontepretanos que refletiram a essência de torcer pela Ponte

Todos os pontepretanos se sentiram representados por aquelas três centenas de torcedores, que vibraram o tempo todo em Novo Horizonte.

Por incontáveis exemplos de amor à camisa chamada de 'manto sagrado' é que todos os pontepretanos se sentiram 'presentes' em Novo Horizonte

Paulista A2 - Novorizontino 1 x 1 Ponte Preta
Perto de 300 pontepretanos foram a Novo Horizonte. Foto: Pedro Lino

Campinas, SP, 6 (AFI) – Biblicamente, sepultados só retomam à vida no dia do juízo final. Se no imaginário de cada um, aqueles que se foram ainda têm alguma ligação espiritual com o plano terrestre, imaginem como o saudoso e fanático pontepretano José Bertazolli, o Zé do Pito, teria se regozijado com aqueles 300 torcedores de seu clube flagrados sistematicamente pela televisão naquele empate por 1 a 1 com o Novorizontino, quarta-feira, em Novo Horizonte!

Década de 60, quando a barulhenta torcida pontepretana arrumava encrencas por esse interior afora, empresários do setor de transporte negaram liberação de ônibus para caravana a Bragança Paulista, mas nem por isso o clube deixaria de ser representado na arquibancada.

Zé do Pito, ativo adjunto na organização de caravanas, bradou:
‘Vamos de caminhão. Quem for pontepretano, siga-me!’

Foi uma inusitada caravana feita por clube de futebol, com carrocerias de caminhões abarrotadas de torcedores, numa época em que não havia vigilância para se proibir essa desproporção.

CONCEIÇÃO

Se possível fosse à então torcedora símbolo da Ponte Preta, Maria Conceição Rodrigues, enxergar aquele batuque de fanáticos pontepretanos, ela, já falecida, se sentiria representada, até porque sabia o quão penoso era enfrentar ‘vôos rasteiros’, como este para Novo Horizonte.

Conceição era das tais que distância no interior paulista não a separava de seus ‘meninos’, como se referia aos atletas. Duvida? Quem toparia viajar de Campinas a Bauru, para jogo contra o Noroeste, em porta-malas do antigo veículo Opala? E quando supostamente a Ponte não seria representada por torcedor(es) enquanto visitante, Conceição desmentia incrédulos.

Numa quarta-feira à noite de 1980, após derrota na longínqua Marília, quando eu o saudoso narrador Geraldo Carreira estávamos na rodoviária daquela cidade, após transmissão do jogo da Ponte pela Rádio Brasil-Campinas, quem apareceu por lá?

Lá estava Maria Conceição Rodrigues, com o bilhete da passagem nas mãos, mas estômago ‘roncando’, justificado apenas pela refeição do almoço. Foi quando o generoso radialista Carreira tratou de bancar-lhe um ‘pingado’ com pão e manteiga, e Conceição, que voltou a Campinas no ônibus da Viação Cometa, ainda enfrentou frio terrível durante aquela madrugada, pois não havia levado agasalho.

Torcida da Ponte Preta
Torcida Jovem da Ponte Preta, fundada em 1969. Foto: Karen Fontes – AAPP

TORCIDA JOVEM

A percepção de que o time da Ponte Preta jamais deveria atuar sem a calor de sua torcida encorajou jovens de cinco décadas atrás fundarem a Torcida Jovem.

Saudosos Maurício Lombardi, Sidnei Antonio Virginelli (Sidão), Pedro Bonfilho Zini Neto (Boina) e Amauri Antonio Zini participaram da primeira diretoria daquela torcida, todos ativos em organização de caravanas já no ano da volta da Ponte Preta à divisão principal do futebol paulista, em 1969. De lá pra cá, esta torcida passou a ser marca registrada no País.

Por incontáveis exemplos de amor à camisa chamada de ‘manto sagrado’ é que todos os pontepretanos se sentiram representados por aquelas três centenas de torcedores, que vibraram o tempo todo em Novo Horizonte. Nem a estúpida expulsão do atacante Pablo Dyego, ainda no primeiro tempo – que deixou os companheiros dele numa ‘roubada’ – fez aqueles torcedores esmorecerem.

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