Ex-narradores da Globo exploraram o 'boom' dos esportes no streaming

Cleber Machado, Galvão Bueno e Jota Junior buscam alternativas na internet após demissão da globo

Bruno Maia analisa tendencia atual do jornalismo esportivo nas plataformas digitais .

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Galvão Bueno vai lançar documentário (Foto: Divulgação)

Campinas, SP, 24 – Com a saída de Cléber Machado do quadro de narradores da TV Globo após 35 anos, a emissora perde seu terceiro profissional da área em três meses. Com reformulações, o momento indica um cenário que já havia sendo observado nos últimos anos: a expansão do mercado de transmissões esportivas no Brasil, em especial pelo surgimento do streaming e novas oportunidades, faz com que narradores e comentaristas busquem alternativas para além das oligarquias na TV aberta e fechada.

NATURAL

“Existe uma troca de guarda que é natural e que já vinha acontecendo com a presença do Gustavo Villani e do Everaldo Marques nas transmissões da Copa”, analisa Bruno Maia, especialista em inovação e novas tecnologias do esporte e entretenimento, e sócio da Feel The Match. No último Mundial, apenas Galvão e Luís Roberto foram ao Catar; Cléber Machado, presença constante nas últimas edições, fez as transmissões do Brasil.

“Galvão, Cléber e Luís Roberto ficaram durante décadas dominando as transmissões do maior canal do Brasil, a Globo. Apesar de o Galvão ser um pouco mais velho, são pessoas de uma idade relativamente parecida, que representam uma geração, mas é natural que novas cheguem”, complementa Maia.

TENDÊNCIA

Após deixar a emissora, Galvão Bueno já anunciou uma nova empreitada em sua longeva carreira: aos 72 anos, começará sua jornada no YouTube com o “Canal GB”, uma parceria com a plataforma de criação de conteúdos em vídeo Play9, que tem o influenciador Felipe Neto como um dos sócios. A estreia será no sábado, com a transmissão do amistoso entre Marrocos e Brasil, às 19h. Ele contará com a participação de Casagrande e Tino Marcos, parceiros nos tempo de Globo, além de outros nomes, como os ex-jogadores Cristiane e Zico. Arnaldo Cezar Coelho, ex-árbitro e comentarista, chegou a ser anunciado, mas teve sua participação vetada pela emissora carioca.

“Percebemos que o tempo de domínio de uma mídia sobre outras é cada vez mais curto. As redes sociais, por maiores que tenham sido ou sejam, por exemplo, não chegaram a se confirmar como alternativas às TVs e já foram atropeladas pelas plataformas focadas em streaming”, afirma Maia. “Ele (Cléber Machado) poderia continuar, estava performando bem, mas é natural a mudança, que por coincidência acontece muito porque o modelo está sendo transformado.”

“Acredito que a distribuição customizada do streaming tem, por característica nativa, ser nichada. Pode ser um nicho grande, mas ainda assim será para diversos nichos”, reflete Maia. “A TV ficará com consumidores menos exigentes, mais generalistas, que seguirão sendo bastante expressivos em quantidade de pessoas.” Na Copa, as narrações de Casimiro chegaram a ultrapassar 4 milhões de pessoas ligadas ao mesmo tempo. Isso não chega ao tamanho dos 170 milhões sintonizados nas plataformas da Globo.

FUTURO

Ao Estadão, Cléber Machado afirmou que pensa em “projetos futuros” após sua demissão da Globo. Neste sábado, às 19h, Galvão Bueno estreia seu novo projeto com o amistoso da seleção brasileira com o Marrocos. Estreia em grande estilo, portanto. A tendência é que, cada vez mais, narradores e comentaristas explorem alternativas aos meios de comunicação tidos como tradicionais.

“O tempo já ensinou que não existe ‘uma mídia acabar com a outra’, ou tomar o lugar da outra. Elas se somam. Não há dúvidas que o sucesso do Casimiro confirma que existe uma nova janela relevante, um novo formato de alto alcance, para distribuição de conteúdo esportivo e para investimento dos patrocinadores. Isso diminui a força das mídias antigas, mas não acaba com elas”, explica Maia. Rádio, TV e cinema viveram essa condição no passado.

ESTREIA DE GALVÃO NO YOUTUBE

O sucesso da transmissão deste sábado, no amistoso entre Brasil e Marrocos, pode abrir o caminho para esses narradores explorarem mídias além da TV tradicional. “A imagem do Galvão como um grande narrador foi construída ao longo dos anos, desde quando a internet como a conhecemos nem existia. Vejo essa parceria como uma oportunidade de atrair um público novo, que conhece o narrador, mas que também consome os conteúdos produzidos pelo Felipe Neto, que além de influenciador é um grande empreendedor”, analisa Renê Salviano.

A ideia é trazer um grupo de comentaristas com o qual o grande público já está familiarizado, mas em um formato de mídia alternativo. “É um desafio que conectará história e inovação. E ver o Galvão narrando um jogo da seleção em seu próprio canal, longe da TV, será um evento interessante para acompanharmos de perto”, acredita.

Além de Casagrande e Tino Marcos, o intervalo da partida também contará com figuras familiares a um público mais jovem. Valentina Bandeira, Samanta Lima, Daniel Braune e Duda Garbi totalizam 80 milhões de seguidores nas redes, quase metade do tamanho do Brasil.

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