Seleção abre mão de psicólogo no Catar e tem o técnico Tite como incentivador
O técnico dispensou pelo segundo Mundial seguido a presença de um psicólogo na delegação
Ao caminhar pelo Grand Hamad Stadium, QG da seleção brasileira no Catar, saltam aos olhos frases e palavras motivacionais. “Confiança não se pega e se solta quando quer. Aproveite o momento da confiança” e “preparem-se bem para merecer vencer” são duas delas. Os termos motivacionais e que estimulam a competitividade no grupo de jogadores estampam as paredes das instalações internas do CT em Doha a pedido de Tite. O técnico dispensou pelo segundo Mundial seguido a presença de um psicólogo na delegação e atua como uma espécie de coach.
Cada expressão presente nos corredores, vestiário, academia e outras salas internas do CT foi colocada com a anuência de Tite. O departamento de logística consultou o treinador, acostumado a ler livros de autoajuda e que contam histórias de superação.
“Coragem”, “determinação”, “força”, “equilíbrio” e “trabalho” são termos presentes no discurso técnico e também nas paredes do centro que pertence ao clube catariano Al Arabi. No espaço de convivência destinado a familiares, amigos e convidados dos jogadores, existe uma grande tabela da Copa do Mundo, colada ali com a ideia de que os atletas mantenham as expectativas altas e não se esqueçam de acompanhar os adversários.
Espalhadas pelos corredores do CT estão imagens marcantes dos cinco títulos mundiais. Na última delas aparece Ronaldo erguendo a taça do penta. As fichas dos jogos da seleção nas Eliminatórias e a foto do grupo comemorando a classificação ao Mundial catariano depois da vitória sobre a Colômbia na Neo Química Arena também foram colocadas.
A delegação brasileira em Doha tem 60 pessoas, considerando os 26 atletas – 16 deles em sua primeira Copa. Há um chefe de cozinha, roupeiros, fisioterapeutas, fisiologistas, médicos, observadores técnicos, analistas de desempenho, preparador físico, entre outros, mas nenhum psicólogo.
JUSTIFICATIVA
O argumento para dispensar o profissional responsável por cuidar da saúde mental do grupo, repetindo o que aconteceu no Mundial da Rússia, é o tempo curto em que a Copa é realizada.
Na visão de Tite, esse período é insuficiente para que os atletas criem conexão e um vínculo de confiança com um psicólogo. João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista de Psicologia do Esporte, discorda do treinador. “A presença de psicólogos não garante a vitória, mas a ausência pode ser determinante nas derrotas”, opina o profissional.
“Os jogadores vivem em um ambiente de pressão com muitas cobranças. Se não tiverem uma rede de apoio inclusive psicológica, isso acaba sendo uma porta de entrada para sintomas depressivos, ansiedade, pânico, vícios entre outros transtornos”, explica Vanessa Gebrim, especialista em psicologia clínica pela PUC-SP. “Fica muito mais difícil jogar quando o atleta não está bem emocionalmente, ele fica mais distraído, toma decisões erradas”, acrescenta.
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