Canadá traz experiência do feminino para encerrar tabu no Catar e projetar 2026
A construção da equipe passou por importantes etapas, incluindo temperaturas negativas
São Paulo, SP, 27 – A seleção canadense levou muito perigo à Bélgica na estreia da Copa do Mundo do Catar. Apesar da derrota por 1 a 0, o Canadá empolgou e confia em reverter a situação do Grupo F e avançar de maneira inédita às oitavas de final. A equipe da América do Norte, porém, não conta com toda essa confiança por acaso. A construção da equipe passou por importantes etapas, incluindo temperaturas negativas e problemas entre federação e jogadores, tendo como objetivo principal uma campanha histórica especialmente no próximo Mundial, em que dividirá o papel de anfitrião com Estados Unidos e México.
No duelo com a Bélgica, a seleção canadense finalizou a gol 21 vezes, mas acertou a meta apenas em quatro oportunidades. A valentia surpreendeu a crítica ao fazer os favoritos belgas sofrerem. Um dos segredos para conquistar um novo status no cenário mundial do futebol é o técnico John Herdman. Apesar de jovem, com 47 anos, ele tem longa experiência no comando do futebol feminino e quer impulsionar o time masculino a um patamar semelhante ao ocupado pelas mulheres da modalidade no Canadá.
Herdman incorporou sua paixão pela profissão de técnico de futebol muito jovem. Seu desenvolvimento na modalidade teve início da academia de formação de jovens atletas do Sunderland. De lá, Herdman partiu para a Nova Zelândia. Ele foi escalando posições na federação neozelandesa até que assumiu o cargo de técnico da seleção feminina, onde ficou entre 2006 e 2011, disputando os Mundiais de 2007 e 2011, além dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008.
Sua chegada ao futebol feminino canadense se deu logo depois, em 2011. No primeiro ano, já conquistou o ouro no Pan de Guadalajara. Pouco depois, a redenção com duas medalhas olímpicas, os bronzes em Londres-2012 e no Rio-2016, desbancando a seleção brasileira.
Em 2018, Herdman migrou para o futebol masculino. Sem passar da fase intermediária das Eliminatórias para a Copa da Rússia, o Canadá passou a se preocupar com a necessidade de vivenciar um Mundial antes de sediá-lo em 2026. O treinador entrou com a missão de levar o país à Copa do Catar, encerrando um jejum de 36 anos, cumpriu a meta e com louvor, ganhando as Eliminatórias da Concacaf para 2022.
Melissa Tancredi, jogadora canadense que foi comandada por Herdman na seleção feminina, só tem elogios para o treinador. John foi criado para esse tipo de torneio. Este homem tem algo que a maioria dos treinadores não tem: sua capacidade de se conectar com os jogadores e tirar o melhor proveito deles. Ele é um mentor. Nunca tive ou ouvi falar de um treinador capaz de se conectar com os jogadores como ele. Ele é um motivador. Ele tem essa capacidade de acalmar a situação ou trazê-la para onde precisa trazê-la, ele é um calibrador. Você realmente não aprende isso, é algo que lhe foi dado de forma inata, disse a atleta ao jornal inglês The Guardian.
COM MORAL
O Canadá é uma escola vencedora no futebol feminino. Então, por que não segui-lo como modelo para o futebol masculino? A construção de uma equipe competitiva é um projeto de longo prazo entre os canadenses que querem habituar a modalidade ao cotidiano de olho na Copa do Mundo de 2026. A experiência inédita de jogar duas Copas seguidas será muito importante para, em quatro anos, chegarem ao torneio, em casa, com ainda mais força.
Podemos estar orgulhosos do que fizemos. Somos um país do futebol, disse Herdman após a estreia na Copa do Mundo do Catar. O objetivo para o próximo desafio, neste domingo, às 13h, diante da Croácia é marcar o primeiro gol em Copas. Em 1986, o Canadá passou em branco durante sua participação no torneio. O desempenho do primeiro jogo, porém, fez o mundo olhar a seleção canadense com outros olhos. Esteve nos pés de Alphonso Davies, o principal nome da equipe e jogador do Bayern de Munique, a chance de balançar as redes pela primeira vez. Mas o atleta acabou parando em Courtois na cobrança do pênalti.
Herdman, após a derrota na estreia, não elegeu Davies como culpado e tratou de elogiar o pupilo. Queríamos marcar esse primeiro gol. Estou orgulhoso de Alphonso. É um momento muito grande para nós. Temos o peso de uma nação por 36 anos de espera. Estou muito orgulhoso de vê-lo colocar a bola debaixo do braço para bater o pênalti, porque isso exige muita coragem.
Apesar dos louros, o caminho canadense para chegar ao Catar teve seus espinhos. Apesar de jogar algumas vezes nas Eliminatórias em dias de neve e temperaturas negativas, o clima esquentou em junho. Os atletas da seleção se recusaram a jogar um amistoso com o Panamá em Vancouver apenas duas horas antes de a bola rolar.
Por meio de uma carta divulgada nas redes sociais, os jogadores da seleção canadense fizeram uma série de exigências, entre elas uma cobrança por maior premiação para a Copa do Mundo, exigindo 40% do valor arrecadado pelos dirigentes, além de um pacote mais inclusivo para famílias e amigos da delegação que irão acompanhar a equipe. Dias depois, a greve foi encerrada e a equipe seguiu sua preparação.
Superada a tormenta, o Canadá chegou ao Catar como patinho feio e surpreendeu logo de cara. Mas não adianta jogar bonito, ter mais finalizações que o adversário e não ganhar o jogo. Diante da Croácia, neste domingo, a seleção canadense buscará gols e o primeiro resultado positivo para elevar o sonho de balançar as redes à realidade de classificação para as oitavas de final.
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