Torcida protesta contra governo iraniano em jogo da Copa; jogadores cantam hino

Desta vez, houve repressão com torcedores apoiadores do regime tentando dissuadir as manifestações

Torcida protesta contra governo iraniano em jogo da Copa e jogadores cantam hino antes da partida

Torcida protesta contra governo iraniano em jogo da Copa; jogadores cantam hino
Foto: Fifa

Tão certo como Irã e País de Gales entrariam no gramado do Ahmed Bin Ahli Stadium, pela segunda rodada do Grupo B da Copa do Mundo, era que haveria novos protestos contra o regime dos aiatolás iranianos. Mas nesta sexta-feira houve diferenças em relação ao primeiro jogo do time iraniano, contra a Inglaterra.

Desta vez, durante a execução do hino nacional do seu país, os jogadores iranianos não ficaram em silêncio, como fizeram no jogo contra Inglaterra. Cantaram assim como a maioria dos torcedores nas arquibancadas, alguns visivelmente emocionados.

E se novamente não faltaram camisetas, faixas e gritos por “Azadi” (quer dizer “Liberdade”, em persa), desta vez houve repressão, com torcedores apoiadores do regime tentando dissuadir as manifestações.

“Pediram para que eu e minhas filhas tirassem nossas camisetas com as palavras ‘Mulher, Vida, Liberdade'”, disse uma torcedora. “Mas eu não vou fazer isso em respeito às vítimas da repressão. Nossas vaias e protestos não são antipatrióticos, como tentam sugerir os apoiadores do governo iraniano. Quem dividiu o Irã foi a Teocracia. E ela precisa chegar ao fim”.

Ela conta que, por morar na Europa, não se intimidou com apoiadores do governo iraniano registrando, acintosamente imagens dos manifestantes com seus celulares. Mesmo assim, não quis revelar seu nome.

Vários homens se uniram à causa. Um deles, que também preferiu manter o anonimato, conversou com a reportagem do Estadão. “Não é possível que mulheres sejam mortas por não quererem usar um véu”, declarou o iraniano. “Adoro futebol, mas a Copa do Mundo serve para que o mundo entenda o que está acontecendo no Irã.”

JOGADOR QUE ATUA NO FUTEBOL IRANIANO É PRESO


As autoridades iranianas prenderam o jogador de futebol Voria Ghafouri, na quinta-feira, acusado de ”insultar a reputação da seleção nacional” e fazer ”propaganda contra a República Islâmica”. Ghafouri foi detido após um treino do Fooolad, do Cuzistão (uma província do Irã).

O jogador de 35 anos, de origem curda, publicou uma foto no Instagram usando uma roupa tradicional curda. Analistas dizem que a prisão pode ser um recado do regime teocrático iraniano para a seleção do país não protestar como no primeiro jogo, quando os jogadores não cantaram o hino.

PROTESTOS NO IRÃ


Os protestos conclamando amplas mudanças sociais e políticas começaram em setembro e geraram repressão brutal das forças de segurança iranianas, que prenderam mais de 14 mil pessoas, de acordo com as Nações Unidas. Pelo menos 326 pessoas foram mortas, de acordo com a ONG Iran Human Rights, com base na Noruega.

As manifestações começaram após a morte de Mahsa Amini, conhecida por seu nome curdo, Jina, sob custódia da polícia da moralidade, e têm sido lideradas principalmente por mulheres.

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