'Gabigol da torcida' vira jogador e sonha em enfrentar ídolo no Maracanã

Agora ele integra o elenco do Nova Cidade, time de Nilópolis, na terceira divisão do estado do Rio de Janeiro

O torcedor sósia de Gabigol é presença confirmada na final no Maracanã

'Gabigol da torcida' vira jogador e sonha em enfrentar ídolo no Maracanã
Foto: Reprodução

Com presença confirmada nos dois jogos da final da Copa do Brasil e também na decisão da Copa Libertadores, Jeferson Thiago Rosário Sales, o torcedor que é sósia do atacante Gabriel Barbosa, vem tendo a chance de realizar um outro sonho: o de ser jogador profissional. Com 37 anos, 1,80m e 96 quilos, ele integra o elenco do Nova Cidade, time de Nilópolis, que está na série B1 do Campeonato Carioca e busca o acesso. É a terceira divisão do Estado.

Contratado como ação de marketing pelo clube da Baixada Fluminense, a torcida agora fica pela volta do time à elite do Estadual do Rio. O caminho é longo. “O Nova Cidade é o time que me abraçou e abriu as portas para eu realizar o sonho de jogar profissionalmente aos 37 anos. Quem sabe subir e ter a chance de jogar contra Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo. Imagina: dois Gabigols em campo, vai ser muito engraçado.”

Em conversa com a reportagem do Estadão, Jeferson deu o tom da irreverência e bom humor ao falar do personagem que mudou a sua vida. “Costumo dizer que não sou gordo, a câmera é que me engorda um pouquinho. Essa é a verdade que precisa ser dita”, diverte-se toda vez que é chamado de “Gabigordo”.

Longe do glamour que cerca os atletas de ponta no futebol brasileiro, Jeferson tem uma trajetória pautada na dificuldade. Morador do bairro de Paciência, na zona oeste do Rio de Janeiro, encarou, desde muito cedo, a realidade de uma vida com poucos recursos financeiros.

“Aos 11 anos, perdi minha mãe. Meu pai sempre foi ausente e precisei morar com meus avós. Comecei a trabalhar com 14 anos como servente de pedreiro e pegava trem às cinco horas da manhã. Fiquei um bom tempo mexendo com obra”, contou à reportagem. O futebol sempre foi sua paixão.

Ter sido criado em meio a uma vida desestruturada trouxe lições que provocaram cicatrizes. Fortalecer a base familiar é uma consequência desse aprendizado. “Tenho três filhos. O Pedro, de 16 anos, é fruto de outro relacionamento e vive com a mãe. Comigo moram a Maria Eduarda, 13 anos, e Heitor, o caçula, de cinco. Procuro dar a eles o que eu posso em termos de carinho, atenção e orientação.”

SUCESSO DE GABIGOL E MUDANÇA DE PATAMAR

A vida do “Gabigol da torcida” começou a mudar em abril de 2019. “À medida que o Gabigol se consolidou como ídolo, as pessoas nas arquibancadas começaram a falar que tínhamos muitas semelhanças físicas. Vieram pedidos de fotos até que um repórter fez uma matéria comigo. Depois um vídeo meu viralizou como Gabigordo e vieram os memes nas redes. Minha vida mudou depois disso”, diz Jeferson.

O sucesso e a exposição tanto na mídia quanto nas redes sociais trouxeram uma mudança de rumo. “Em 2019, eu trabalhava na Ambev, era cervejeiro e tinha 12 anos de empresa. Quando estourou o Gabigol da Torcida, aproveitei a chance de conhecer pessoas e lugares que nunca imaginei visitar. Virou um trabalho.”

Atualmente, Jeferson faz ações e eventos de marketing para grandes empresas como a Brahma e a Gillette, por exemplo. “Meu salário triplicou. Antes tinha de cumprir um turno de nove horas, começando às seis da manhã. Agora, trabalho livre, viajando. É totalmente diferente.”

Com a popularidade em alta também veio a chance de atuar em outras frentes. Tentou uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio pelo PTB nas eleições deste ano. Com 1.842 votos, porém, o sonho de ser deputado estadual acabou não acontecendo.

ATRAÇÃO DO NOVA CIDADE

A realização de um sonho aliada a uma ação de marketing resultou na “contratação” do Gabigol da Torcida pelo Nova Cidade de Nilópolis. O Estadão entrou em contato com Leandro Augusto Lima da Silva , analista de desempenho do clube, para conhecer um pouco do perfil desse veterano de 37 anos.

“O Jeferson entrou no ano passado. No que diz respeito ao futebol, é esforçado e faz tudo para entrar em forma. Em 2021, fez dois jogos, mas teve uma lesão na coxa e precisou parar. É centroavante, atua com a 9, mas ainda não fez gol pelo clube”, informou Leandro.

Em 2022, em função das obrigações de campanha por conta das eleições, ele quase não treinou e não defendeu o Nova Cidade em nenhum jogo. No entanto, está sempre presente no clube e interagindo com o elenco. “O Jeferson já arrumou até pares de chuteiras para os garotos da base. Está sempre com o pessoal, deixa o ambiente agradável, e adora uma confraternização”, comentou o analista.

CAMPEONATO

Na competição, porém, a situação do Nova Cidade é complicada. O time ocupa as últimas colocações na fase de grupos e precisa de uma reação urgente para tentar se classificar entre os quatro primeiros colocados, faltando poucas rodadas. No campo do marketing, a atuação de Jeferson Gabigol costuma acontecer no intervalo do primeiro para o segundo tempo dos jogos do Nova Cidade.

“É feito um sorteio que forma uma equipe com torcedores para uma disputa de pênaltis. O adversário muitas vezes é um time de sósias de atletas do Flamengo liderado pelo Gabigol da Torcida. Durante o jogo, muitos torcedores que estão na arquibancada pedem para tirar fotos. E todos são atendidos”, afirma Leandro.

Em Nilópolis, a sua popularidade pode ser comparada com a de jogadores de ponta do futebol brasileiro. “Eu esqueço até o meu nome. Saio nas ruas e as crianças já me rodeiam querendo foto. Gravo vídeo, converso e fico feliz com esse carinho”, disse Jeferson sobre o seu lado “celebridade.”

TÃO PERTO, TÃO LONGE

Idolatrado pelas crianças, o Gabriel cover muda o tom do discurso ao comentar do jogador que inspirou a criação do sósia. Ele diz que Gabigol nunca deu abertura para uma aproximação. “Não posso dizer que o conheço. Tive a oportunidade de tirar duas fotos, mas como torcedor. Uma vez foi em Brasília, quando estávamos hospedados no mesmo hotel. E a outra foi na entrega da Bola de Prata, em São Paulo. Mas o Gabigol sempre falou que eu forço a barra, que a gente não se parece. Acho que ele não curte muito.”

Uma das possíveis causas, segundo Jeferson, pode ser uma gafe produzida por um jornal português nos tempos em que o Flamengo tentava a sua aquisição em definitivo junto à Inter de Milão. “O Gabigol estava em fim de contrato e noticiaram que o Flamengo pagaria 22 milhões euros. Só que na edição, colocaram a minha foto ao invés da dele. O jornalista deu mole. Mas não tenho nada com isso.”

Feliz com essa mudança de vida, ainda mais por ser vinculada ao time do coração, o Gabigol da Torcida agora torce para que outubro dê ao Flamengo o desfecho que todos os rubro-negros esperam. “Queremos os dois títulos, e se for com gol do Gabigol, melhor ainda. Quero todo mundo feliz e com faixa de campeão”, disse Jeferson que não vê a hora de os jogos começarem.

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