Fundos e investidores dos Estados Unidos 'invadem' futebol mundial
Cada vez mais clubes estão virando SAF e estão sendo adquiridos por fundos americanos
São Paulo, SP, 10 – A 777 Partners tem mais um clube no mundo. Dono da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Vasco, o fundo de investimento americano comprou o Melbourne Victory, da Austrália, na semana passada, ampliando o seu investimento, que já contava com Genoa (Itália), Standard Liège (Bélgica), Red Star (França) e Sevilla (Espanha). O Vasco tenta voltar para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
Neste ano, alguns movimentos importantes já aconteceram, como a compra bilionária do Milan por parte do fundo americano RedBird Capital Partners, em cifras que chegam a 1,2 bilhão de euros, o equivalente a R$ 6 bilhões.
Os investimentos americanos em clubes de todos os continentes é uma realidade. Na Europa, o número de agremiações adquiridas e geridas por fundos dos Estados Unidos já chega a 55. Os dados são do Centro Internacional de Estudos do Esporte, o CIES. A Itália é o principal alvo desses grupos, e somente na última edição da principal divisão do país, Atalanta, Fiorentina, Genoa, Roma, Spezia, Parma e Venezia eram comandados por proprietários ou investidores dos EUA.
Em outro importante centro esportivo, a Inglaterra, instituições como Liverpool, Manchester United e Arsenal seguem o mesmo caminho. Standard Liège (Bélgica) e Sevilla (Espanha) são outros exemplos de camisas tradicionais do futebol com acionistas do país.
“O Milan é mais um clube relevante adquirido por investidores americanos, assim como foi o Chelsea, o que comprova a supremacia americana neste tipo de operação. No começo, eram os russos os grandes compradores de clubes na Europa, depois vieram árabes e chineses. Agora, a nova força compradora vem dos EUA e com muito mais ímpeto do que todas as anteriores somadas. E o futebol só tem a ganhar com isso”, analisa Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito desportivo.
VOZ DE ESPECIALISTA
Para Armênio Neto, especialista em negócios do esporte, a chegada de investidores não será a solução definitiva para clubes em situação delicada, mas ele vê como uma luz no fim do túnel para essas agremiações. “Dinheiro novo dá fôlego, mas o principal ganho será a médio e longo prazo, com implementação de processos, gestão responsável e governança. Ou seja, o torcedor vai trocar o desespero pela paciência. Não tem mágica”, aponta.
No futebol brasileiro, os Estados Unidos também já começam a fincar raízes e bandeiras. O primeiro a se aventurar foi John Textor, que no início desse ano concretizou a compra de 90% da SAF do Botafogo, anunciando um investimento inicial de mais de R$ 100 milhões. Já o Vasco e a 777 Partners acertaram a venda de 70% da SAF por R$ 700 milhões. A empresa americana, que esteve representada no Brasil pelo sócio-fundador Josh Wander e o diretor de entretenimento Juan Arciniegas, já possui investimento em outros clubes ao redor do mundo.
“Para explicar um pouco sobre nós, não somos exatamente uma empresa para investimentos com horizonte curto pela frente. Na verdade, é uma holding sem horizonte artificial, ou seja, a nossa ideia é investir para 30, 50 anos. Temos perfeita confiança de que vamos conseguir atingir os nossos objetivos com o clube. A ideia é de que ainda nesse ano possamos fazer a transição para a divisão de cima”, afirmou Josh Wander, em entrevista coletiva, à época da concretização do negócio com o clube de São Januário.
“É um novo momento, de um dinheiro que entra inicialmente para que algumas das dívidas sejam quitadas, e que dá fôlego para aumentar nossas receitas. Esperamos, com isso, investir na parte técnica, ter melhor performance em campo, o que automaticamente vai atrair mais torcedores para os estádios, novas parcerias e patrocinadores. Vai agilizar todo o processo de uma maneira um pouco mais rápida. É um círculo virtuoso”, explicou Luiz Mello, CEO da SAF do Vasco.
Para especialistas, a entrada de investidores estadunidenses pode proporcionar mais do que o crescimento técnico dos times e seus elencos, mas principalmente um retorno de marketing e visibilidade com o que pode acontecer com a indústria fora das quatro linhas.
“Apesar de termos evoluído consideravelmente nos últimos anos, ainda podemos aprender e muito com o que é feito lá fora, e os Estados Unidos são um exemplo quando falamos do espetáculo como um todo. Basta ver as ações de publicidade, matchday, a venda do pacote de um simples jogo e as ativações que envolvem os patrocinadores. Eles fazem a roda girar literalmente, e essa troca de experiência pode trazer novos frutos para o nosso futebol”, analisa Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports.
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