Atleta do Botafogo dá geladeira para mãe diabética por gratidão

Foi uma forma de o jovem atleta retribuir o apoio da família, que trocou o Rio Grande do Sul pelo Rio de Janeiro pela carreira de jogador

O presente não foi luxo, mas necessidade para a família que vive em Mesquita, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro

Juan Mello Botafogo
Atleta do Botafogo dá geladeira para mãe diabética por gratidão

Rio de Janeiro, RJ, 18 – O que você acha que os jogadores de futebol compram com o 13º salário? Tênis? Correntes de ouro? Celulares? Nem sempre. O lateral-esquerdo Juan Mello, de 19 anos, das categorias de base do Botafogo, usou o benefício trabalhista para comprar uma geladeira para sua mãe, Caren. Foi uma forma de o jovem atleta retribuir o apoio da família, que trocou o Rio Grande do Sul pelo Rio de Janeiro pela carreira de jogador.

O presente não foi luxo, mas necessidade para a família que vive em Mesquita, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. O modelo anterior não funcionava direito. Não resfriava adequadamente o que era mais importante: a insulina que Caren utiliza para tratamento da diabete.

A matriarca ficava inconformada. E Juan maquinava o que fazer para acabar com aquela angústia da mãe. Assim que recebeu 13.º salário, no final do ano passado, o primeiro de sua carreira como atleta, pagou R$ 700 à vista em um refrigerador usado.

Não deu tempo para fazer surpresa, porque era preciso tirar uma geladeira da casa para colocar a nova. Era o aniversário de 51 anos de Caren, no dia 22 de janeiro. “Muitas vezes, a geladeira velha pifava e eu tinha que sair correndo para levar a insulina para a casa de um parente. Fiquei emocionada com o presente”, diz a cuidadora de idosos que ficou desempregada por causa da pandemia.

A insulina promove a entrada de glicose nas células do organismo para que ela possa ser aproveitada. A diabete altera a quantidade de insulina no organismo. Pode ser do tipo 1, quando ocorre desde o nascimento, ou adquirida ao longo da vida, o tipo 2. Nesse caso, pode ser necessário o uso de remédios para controlar os níveis de açúcar ou insulina sintética. A doença pode levar a complicações no coração, artérias, olhos, rins e nervos

A endocrinologista Jacqueline Rizzoli explica que a diabete é uma doença crônica no qual nosso corpo não consegue produzir ou aproveitar a insulina fabricada pelo nosso corpo. Nesse caso, pode ser necessário o uso de remédios para controlar os níveis de açúcar ou insulina sintética.

“A insulina é responsável pela entrada da glicose nas células. Sem esse mecanismo, a glicose não chega nos locais necessários e os níveis de glicose no sangue aumentam”, afirma a diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

O uso de remédios é necessário para controlar os níveis de açúcar ou é preciso injetar a insulina sintética. A diabete pode levar a complicações no coração, artérias, olhos, rins e nervos. Caren tem a doença há dez anos e recebe a insulina do governo estadual do Rio. A partir deste ano, ela passou a receber as canetas aplicadoras. Antes, eram frascos. Os dois precisam de refrigeração.

VOLTA POR CIMA
A compra da geladeira simboliza o bom momento da carreira de Juan. O garoto começou a jogar com 9 anos nas categorias de base do Grêmio. Nessa época, a família morava em Porto Alegre. Durante um período de avaliações no América-MG, Juan viveu o momento mais difícil do começo de sua carreira: ruptura do ligamento do joelho esquerdo. O lateral-esquerdo foi submetido a uma reconstrução do chamado LCA (ligamento cruzado anterior).

Os problemas físicos minaram a confiança no futuro. Medo. Tristeza. Depressão. A volta por cima veio com a chance de jogar na Portuguesa do Rio. Para apoiar, a família trocou o Rio Grande do Sul pelo Rio de Janeiro. A aposta está dando certo.

Juan chegou a integrar o time profissional da Portuguesa. Recuperou a confiança, voltou a jogar bem e o joelho está zero bala. Em março do ano passado, veio o convite para jogar no Botafogo. “Busco sempre evoluir. Sou um lateral com boa imposição física, bastante entrega dentro de campo, bom apoio ofensivo e um bom cruzamento também”, diz o canhoto.

Com a pandemia, as coisas apertaram um pouco, como aconteceu com a grande maioria das famílias. O pai perdeu o emprego de porteiro. “Tive de segurar as pontas aqui em casa. E ia sempre adiando o plano da geladeira. Quando chegou o 13º salário, realizei o desejo da minha mãe”.

Os perrengues são aqueles de quem está começando. Ele pega trem e ônibus para treinar. Quanto a atividade é no estádio Nilton Santos, são 40 minutos. Quando o treino é no Cefat, em Niterói, são duas horas (se o trânsito ajudar). “Meu principal sonho no momento é estrear como profissional. Dali em diante, vou buscar mais coisas. Uma coisa de cada vez”, diz o jovem de 19 anos. “Hoje, foi uma geladeira. Quem sabe a gente não consegue uma casa se tudo der certo?”

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