Ensinem Davó a enfrentar goleiros; será bom para ele e ótimo ao Guarani
O atacante pode melhorar. Será bom para ele e para o Guarani.
Quando eu jogava pela categoria infantil da equipe Arco-íris do Jardim Proença/Campinas, na década de 60, meu técnico Renato Pintor – tio do ex-zagueiro Alex do Guarani – dizia pra que nós, atacantes, ficássemos felizes ao enfrentar goleiros adversários cara a cara. E justificava: “Com aquele enorme tamanho de trave, fica fácil pra quem finaliza e difícil ao goleiro. Imaginem vocês prontos para saborear aquele pudim feito em casa? Que delícia! Vocês devem sentir a mesma sensação quando estão prontos para marcar gols”.
Por que alguém, como Renato Pintor, não transmite a mesma mensagem ao atacante Davó, do Guarani?
Em última análise isso o reveste de confiança.
Claro que isso não é tudo. O principal é o atleta exercitar o treino específico de finalização, para melhorar o aproveitamento.
GOLS PERDIDOS
Em quase todos os jogos do Guarani observa-se que Davó tem chances de ouro para marcar gols, mas ora a bola é chutada no corpo do goleiro, ora o chute fraco facilita a defesa, ora o destino é a linha de fundo.
Chamados treinadores antenados na modernidade se prendem basicamente a variações táticas de suas equipes e esquecem do essencial: correção de defeitos de jogadores, mesmo que julguem por aí que isso seria obrigação daqueles que os formaram na base.
TELÊ SANTANA
Pois esse conceito de que não é prioridade trabalhar aspectos técnicos de jogadores é facilmente derrubado quando se constata o legado do saudoso treinador Telê Santana no São Paulo dos anos 90.
Senhor da razão de como se aprimora jogador, Telê melhorou em 200% o nível de cruzamentos do lateral-direito Cafu.
Também mentalizou o meia Raí que, com aquela estatura privilegiada para cabeceio, bastava aprimorar o fundamento. E assim foi feito para a abundância em gols de cabeça.
ZÉ DUARTE E DINO SANI
Nos tempos de Guarani, saudoso lateral-direito Mauro Cabeção chegava com facilidade ao ataque, mas cruzava mal.
Foi aí que o então paciente treinador Zé Duarte programava treino específico para correção do defeito.
Na Ponte Preta dos anos 80, o então treinador Dino Sani sugeria que o ex-ponteiro-esquerdo Mauro ensaiasse ‘enes’ cruzamentos a meia altura para que ele, Dino, dentro e fora da área, mostrasse ao ex-atacante Chicão como deveria pegar na bola de sem-pulo, e com direção.
E Chicão, como bom discípulo, foi assimilando e praticando o ensinamento.
Ora, se Davó se desloca para receber o passe, se tem velocidade pra ganhar do zagueiro adversário na corrida, se não foge do pau – como se diz no jargão popular – por que não se completa como finalizador?
Há quem diga que atacante chegar ao gol adversário seja pura vocação. Outros argumentam que estágio para correção de defeitos técnicos de atletas é na base, mas já foi explicitado que nunca é tarde pra se tentar a correção.
PREPARADORES DE ATACANTES
Precariedade de atacantes para concluir jogadas é problema generalizado.
Logo, se há gastança em contratação do chamado atleta ‘meia colher’, por que os clubes não investem em preparadores de atacantes, como é praxe com preparadores de goleiros?
Claro que o goleador do passado tem sabedoria para mostrar como se desvencilhar do adversário num rápido giro, incutir o jeito esfomeado de saciar o desejo de empurrar a bola à rede, tempo exato para impulso no cabeceio com direção, e as tais cavadinhas típicas do ex-centroavante Romário.
Logo, por que não contratá-los?
Ex-centroavante Nunes até conseguiu persuadir dirigentes do Flamengo para criação desse cargo em comissão técnica do clube, mas infelizmente a ideia morreu no nascedouro.
Todavia, convenhamos que nunca é tarde para a ‘ressureição’.
Afinal, quem não quer ver jogos recheados de gols?